sábado, outubro 01, 2011

A natureza das coisas. A natureza dos homens

Por Luiz Carlos dos Santos*


Guernica - Quadro de Pablo Picasso

Pode se libertar as coisas de leis externas ou acidentais, mas não das leis da sua própria natureza. Você pode, se quiser, libertar um tigre da jaula; mas não pode libertá-lo de suas listras. Não liberte o camelo do fardo de sua corcova: você o estaria libertando de ser um camelo. Não saia por aí feito um demagogo, estimulando triângulos a libertar-se da prisão de seus três lados. Se um triângulo se libertar de seus três lados, sua vida chega a um desfecho lamentável. (Chesterton)

Posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo. (Voltaire).

Recorro as idéias de dois grandes pensadores, o ingles G.K. Chesterton, e o francês François-Marie Arouet (Voltaire), para divagar sobre a maldade endêmica que campeia nesse mundo, mais de perto a grande praga que assola a humanidade, a corrupção, que condena o pobre a mais pobreza, que semeia a fome e as iniquidades.

Caixa dois, mensalão, meias, cuecas, superfaturamento, propina, enrequecimento ilícito, não preciso recorrer a Bertolt Brechet para afirmar que o mundo seria outro sem o flagelo da raça humana, sem o câncer que campeia sem freios entre os humanos, principalmente entre os dirigentes e funcionários pagos para gerenciar os bens públicos.

Dessa forma, embora não concordando plenamente com as palavras de Chesterton mas, usando a máxima de Voltaire, tento compreender, embora sem aceitar, que a natureza das coisas às vezes se aplica a natureza dos homens. Não acreditando que já nascemos pré determinados, mais parece que a natureza da corrupção se agrega ao corrupto e ao corruptor, fazendo com que estes não se libertem jamais desse fardo. Por conseguinte, não adianta simplesmente perdoa-los, ou faze-los pagar pelo mau cometido contra o povo e depois, torná-los novamente gestores da coisa pública.

Finitude da vida, filosofia e o viver no “Sobre a brevidade da vida” de Sêneca

Por Rodrigo Tumolo*
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Pretendo apresentar nesta exposição a obra “Sobre a brevidade da vida” do filósofo estoico Sêneca: explorar a partir dela o tema da finitude da vida, o que essas reflexões podem ajudar no viver e qual a relação da filosofia implicada nisso. Ao mesmo tempo, espero fazer uma defesa de Sêneca como filósofo, afastando sua má-interpretação como escritor de “autoajuda”.

Primeiramente, creio ser oportuno começar respondendo à pergunta: quem foi Sêneca. Lúcio Aneu Sêneca foi não só um importante filósofo romano como também foi um rico escritor de tragédias e influente político no Império Romano. Sêneca não é romano de sangue e sim um espanhol da região de Córdoba que tinha a cidadania romana, pois seu pai era um cavaleiro muito rico da região e simpático ao Império Romano. Desde muito jovem tomou contato com a filosofia a ponto de ser convertido a ela: seu pai, ao matriculá-lo com os melhores oradores de Roma, esperava formar um retórico para uma brilhante carreira política, mas Sêneca saiu-se um filósofo. É preciso explicar que Roma ocupava o lugar que Atenas ocupara séculos antes: de centro cultural e político do mundo, palco dos grandes debates e para onde convergiam os sábios da época — sábios que, em sua maioria, falavam grego! De fato, Roma foi a grande difusora do helenismo na Antiguidade: toda pessoa de origem nobre falava não apenas o latim, mas sabia expressar-se fluentemente em grego. Sêneca teve aulas com Atalo, um mestre grego estoico que o converteu para a filosofia.

Ora, já duas vezes usei o termo “conversão” para me referir à filosofia e não foi
à toa: Paul Veyne, em seu livro “Séneca y el estoicismo”, segue na direção que as filosofias antigas eram como seitas. Acompanhando sua exposição, os filósofos em Roma formavam uma espécie de “clero laico” e, diante da permissão pública de adoração dos imperadores mortos e a autoproclamação de Calígula como deus, não é difícil concluir que os filósofos formavam a oposição dentro do Senado.

sábado, setembro 03, 2011

Para que serve a política?

Por Nelson José de Camargo*

Numerosas denúncias de corrupção têm sido veiculadas por parte da mídia, a maioria delas referente ao atual governo federal. “A corrupção no Brasil atingiu níveis alarmantes e inimagináveis”, é a constatação de alguns setores da sociedade. Não é difícil prever que as próximas campanhas eleitorais serão marcadas por um “combate a tudo o que aí está”.

Esse discurso não é novidade na política brasileira. Foi adotado pela oposição a Vargas nos anos 50; e foi o mote da campanha de Jânio Quadros em 1960, quando a “vassoura janista” iria varrer a “corrupção que grassava no país.”

Em tempos mais recentes, o discurso de combate aos privilégios de funcionários públicos que receberiam benesses do Estado, os assim chamados “marajás”, norteou a campanha de Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito depois do período militar e que foi, ironicamente, apeado do poder em razão de denúncias de que comandada um grande esquema de corrupção.

domingo, julho 17, 2011

A filosofia de Nietzsche e o nazismo

Por Nelson José de Camargo*

Nietzsche é certamente o filósofo mais popular e mais lido do mundo; seus livros são vendidos em bancas de jornal, em máquinas automáticas e até mesmo adaptados para histórias em quadrinhos; o Zaratustra inspirou o célebre poema sinfônico de Richard Strauss, trilha sonora do filme 2001, de Stanley Kubrick.

Mas a influência da filosofia de Nietzsche (e da filosofia de modo geral) nem sempre (ou quase nunca) foi positiva. O pensamento nietzschiano chegou a influenciar o regime político mais nefasto e abominável que já existiu no planeta: o nazismo.

Adolf Hitler era leitor de Nietzsche: na biblioteca particular do ditador, havia vários livros do pensador alemão, com muitas anotações nas margens das páginas. A mais frequente era “nicht verstanden” (não entendi).

Hitler era um homem de pouco estudo e pouca cultura, que tentou ser pintor acadêmico antes de começar sua carreira política. Seu livro Mein Kampf (Minha luta), é escrito em um alemão tosco, que demonstra claramente a deficiente formação cultural do líder nazista.

No entanto, Martin Heidegger, um dos grandes filósofos do século XX, aderiu publicamente ao nazismo e chegou a fazer discursos elogiando esse regime.

O “protonazismo” de Nietzsche é uma questão altamente controversa. Em Além do bem e do mal, o filósofo escreve que “os judeus são a raça mais autêntica e vigorosa da Europa”, e no mesmo livro afirma que eles são um povo “nascido para a escravidão [...] e com ele todo o mundo antigo, o ‘povo eleito entre as nações’ [...] os judeus realizaram esse milagre da inversão de valores, graças ao qual a vida na terra adquiriu um novo e perigoso atrativo”.

É fato amplamente conhecido que Nietzsche era crítico feroz da democracia representativa ocidental, que para ele era apenas reflexo da “moral de animal de rebanho”[1].

O conceito do super-homem nietzschiano também deu margem a atitudes racistas e eugenistas. Frases como “Os fracos e os fracassados devem desaparecer: primeira frase de nosso amor à humanidade”, ou “O que é mais prejudicial do que qualquer vício? A compaixão com todos os fracos e fracassados – o cristianismo”[2] podem facilmente servir de “combustível” para ideologias totalitárias.

domingo, junho 19, 2011

O ser humano é racional?

Por Nelson José de Camargo*

O ser humano chamou a si mesmo de “homo sapiens”, homem sábio. O único capaz de raciocinar, “feito à imagem e semelhança do criador”, e por isso mesmo com direito de impor seu domínio sobre a natureza e sobre as demais criaturas.

Comportamentos ditos racionais podem ter outros fundamentos. Vejamos alguns exemplos.

Em uma escolha entre agir e não fazer nada, um agente racional não irá agir se os custos esperados para a ação superarem os respectivos benefícios. Este princípio, porém, é violado nas eleições: uma vez que nenhuma eleição em nível nacional jamais foi decidida por um único voto, o voto de um indivíduo não faz qualquer diferença no resultado e ele pode enfrentar problemas consideráveis para votar. No entanto, as pessoas votam em grande número.

Pode-se alegar que esse exemplo é mais adequado para os países em que o voto é facultativo; no Brasil é obrigatório, assim como em pouco mais de 20 países, 11 deles nas Américas do Sul e Central. Ser obrigado a votar não é, por sua vez, um procedimento totalmente contrário a razão? E se nenhum dos candidatos nos agradar? E se formos contra o modelo de democracia representativa ocidental?

sábado, junho 18, 2011

O Mundo

Por Ana Lucia Sorrentino*
 
Ainda menina mimada, pernas finas e um leve e ingênuo corpo de pura credulidade, vi o Mundo sentado num canto, como que me esperando, receptivo, e cedi à tentação: sentei no colo do Mundo. Embora agitada, e mal podendo me conter ali, tanta coisa a se viver, o colo que o Mundo me oferecia era tão confortável e caloroso, e sua aceitação de mim tão grande, que rapidamente me habituei a recorrer a seu aconchego sempre que cansada da agitação da Vida.

Vez ou outra me esquecia de tudo o que não fosse Mundo. Recostava a cabeça em seu peito, sentia suas mãos firmes me segurando e chegava mesmo a cochilar, em total abandono.
Com o passar dos anos, a certeza de que o Mundo estaria ali, me esperando, sempre que o procurasse, se consolidou e passei a ter nele meu porto seguro.

Certa vez, mais encorpada, pés já tocando o chão, senti que talvez pesasse e causasse algum cansaço no mundo. Percebi uma tentativa dele em me acomodar melhor, como fora tão natural até então. Disfarçadamente, voltei-lhe a minha atenção.

sábado, junho 04, 2011

Um outro mundo tem que ser possível

Por Helena Novais*

Na semana passada estive com a cabeça bem distante do que ocorria na faculdade. Quase não apareci por lá. Em final de semestre isso não é nada bom. Mas tive um motivo: o desenvolvimento de um trabalho de pesquisa sobre marketing social que eu deveria finalizar naqueles dias. Além da fundamentação teórica, fiz estudo de caso. Como tive liberdade para escolher a empresa a ser estudada, escolhi uma multinacional que me interessa em especial. Esmiucei todo o histórico da empresa, sua linha de produtos e suas ações de marketing de cima abaixo e vice-versa. Foi uma boa oportunidade para desenvolver ainda mais o tema que apresentei no simpósio na USJT no ano passado. Agora além da perspectiva filosófica tenho um estudo de caso. Assim, se perco não assistindo as aulas, acabo ganhando de outro lado.

E vamos admitir: é inegável o poder de realização das grandes corporações! Uma companhia que é considerada a maior do mundo em seu segmento pode quase tudo. E sim, a atuação social de grande empresas, suas campanhas de “responsabilidade social” e “sustentabilidade” são boas. Muito boas! Desde que analisadas em si mesmas, com base nas informações emitidas pelas próprias empresas, não há de que falar mal. E convenhamos, não poderia ser de outra forma, já que a imagem institucional dessas empresas é gerida por profissionais de formação acadêmica e experiência prática comprovada... Mas eles às vezes se denunciam...

A dialética hegeliana

Por Nelson José de Camargo*

O pensamento hegeliano teve suas origens no idealismo alemão. Hegel foi contemporâneo de dois dos principais pensadores dessa corrente: Fichte e Schelling (de quem foi colega no Seminário de Tübingen). Nesse contexto, também teve grande destaque a filosofia de Kant, cuja influência sobre a filosofia alemã (e em toda a filosofia) foi imensa.

Mas há um importante diferencial no pensamento de Hegel em relação a seus antecessores: a dialética, que será o centro de sua filosofia.

Na Crítica da razão pura, Kant estabelece uma divisão entre “fenômeno” e “coisa em si”. Para Kant, não podemos ter conhecimento sobre o mundo real (as “coisas em si”), mas apenas das representações deste mundo, formadas na mente a partir das percepções de nossos sentidos. Conhecemos, portanto, os fenômenos, por meio da experiência. No entanto, há conhecimentos, universais e necessários, que não são adquiridos pela experiência, sem os quais nenhuma forma de conhecimento seria possível: são os juízos sintéticos a priori. Logo, há um limite bem definido entre o que podemos e não podemos conhecer.

Se Hegel por um lado reconhece que Kant “colocou a dialética em seu nível mais alto” uma vez que atribui a ele a “redescoberta da tríade dialética”[1], por outro lado não aceita esse limite. A crítica kantiana não foi capaz de perceber a identidade entre sujeito e objeto e, portanto de progredir rumo ao Absoluto, síntese final da tríade dialética em si (sujeito), para si (objeto) em si-para si (objeto, tal como conhecido pelo sujeito, e sujeito, que reconhece a si mesmo ao reconhecer o objeto).

Fenômeno e coisa em si não seriam mais que “representações de um Absoluto separado do conhecimento ou de um conhecimento separado do Absoluto”[2]. Em Kant, as determinações permanecem essencialmente subjetivas, “presas ao objeto”[3]. Ocorre uma “cisão” entre sujeito e objeto. A tarefa da filosofia seria superar essa cisão. Para tanto, era “elevar as determinações de pensamento acima desse ponto de vista medroso”[4].

domingo, maio 22, 2011

Vale a pena estudar?

Por Nelson José de Camargo*

Uma reflexão sobre o momento atual leva inevitavelmente a um questionamento: vale a pena estudar? Afinal, algumas das pessoas mais bem-sucedidas de nosso país não se destacaram pelo conhecimento que adquiriram nos bancos escolares. Poderíamos citar artistas, jogadores de futebol, políticos e personalidades de várias áreas e atividades.

O jovem de hoje pode tomar algumas dessas personalidades como modelos para justificar sua aversão à leitura e ao estudo. Perder tempo com livros é coisa de otário, de alguém que nunca alcançará o sucesso. O que se consegue com um diploma universitário: um emprego mal remunerado, sem “prestígio”. Afinal, o importante não é “ser”, mas “ter”.

Se o importante é acumular bens, valores como solidariedade, ética e respeito são “antiquados”, não fazem parte do mundo “moderno e globalizado”.

Podemos dizer que essa constatação é verdadeira. Afinal, um jogador de futebol pode ganhar muito mais que um engenheiro. Uma modelo que usa suas belas formas (por vezes auxiliada por cirurgias estéticas) será certamente mais bem-sucedida (financeiramente) do que uma professora. Um político pode se orgulhar da própria ignorância, e até dizer que “ler dá sono”, se conseguir agradar ao povo.

E o que é agradar ao povo? É promover o crescimento econômico, facilitar o crédito, inserir a maioria da população na “classe média” que pode comprar automóveis, televisores de alta definição, celulares cada vez mais sofisticados, tudo em suaves prestações. E a educação, como fica? Ora, ela não tem maior importância, é apenas um capricho de gente esquisita, que deixa de aproveitar as boas coisas da vida para perder tempo em meio a livros empoeirados em bibliotecas bolorentas.

domingo, maio 15, 2011

Libertinagem Feminina em Onfray


Por Helena Novais*

Uma amiga que passou por aqui, se disse surpresa com a minha adesão à proposta de uma libertinagem feminina feita pelo filósofo francês Michel Onfray, sendo eu tão “comportada”. De imediato me lembrei de alguém que na ocasião de minha visita à Escola Florestan Fernandes, disse ter eu “jeito de Irmã ”, ou seja, me confundiu com uma freira.

Bom registrar que não sou nem uma coisa nem outra, nem freira e nem libertina (rs). Apenas faço o possível para ser boa estudante, futura filósofa produtiva e atuante (e isso não depende apenas de terminar o curso), ser humano feliz e em constante evolução.

Considero o ponto de vista do Onfray, um feminino libertino, como objeto de reflexão filosófica. Estou longe de acreditar que “libertinagem” seja garantia de felicidade ou que seja estado ideal do feminino. Acredito, sim, que a máxima “conhece a ti mesmo” é uma boa orientadora do comportamento pessoal, que deve se reger de acordo com características individuais.

sábado, maio 14, 2011

Quase Trinta

Sobre a idade
Por Marcelo Cajui*

Ainda não alcancei os trinta. Sinto-me bem assim e preferia que minha idade mental parasse por aqui. Nem muito maduro, nem irresponsável. No ponto limite entre emoção (em primeiro lugar) e razão.
Prefiro selecionar as tarefas para realizar no próprio dia de execução. Em paradoxo com esta colocação, eu mantenho uma agenda de datas. Não sei se isto se trata de um sentimento individual. Quase todos passaram, estão passando, ou ainda vão passar por isto.

O balanço que sentimos até os trinta é muito especial. Nesta fase penso: “vou assumir uma posição social?”, ou: “Permanecerei na vida de incertezas?”. Esta dúvida parece me levar pro caminho das ‘decisões certas’. Aquelas que criam o desejo de eternizar pequenos momentos e transformar fatos corriqueiros em situações fantásticas.

Não nos julguemos tanto homens de quase trinta (hipocrisia da minha parte, pois me julgo o tempo inteiro). Somos o que somos, mostramos claramente isto. Com exceção dos covardes, estes não merecem créditos neste texto. Falo aqui para os lutadores. Aqueles que reconhecemos por um simples e-mail recebido. Nesta prosa pretendo brindar à idade, pois ela existe apenas na cabeça. Os ‘quase trinta’ são metafóricos.

Tratamento ético aos animais

Por André Ricardo Pontes*

Você come carne ou ovos? Se sim, sabe qual a origem deste alimento? O animal que você estará saboreando no almoço teve uma vida o mais próximo do natural possível? Ou viveu apenas 6 meses, confinado, torturado, com uma lâmpada na cara que fica acesa por 6 horas seguidas, depois apagada 6 horas seguidas, simulando um dia e uma noite na metade do tempo, de modo a forçar o animal a pôr ovos na metade do tempo?

No mundo todo, principalmente em países com pouco espaço, há pecuária realizada por meio do confinamento. Os bois e vacas são mantidos em pequenos currais, onde não podem andar, correr, manter laços com outros de sua espécie, comer pastagens naturais. São forçados a comer a mesma ração no tempo arbitrariamente determinado. São tratados como máquinas. Imaginem uma vida assim. Pensem nos escravos. Um absurdo que isso tenha existido no Brasil, não? Pois então, a vida deles era melhor do que a vida a que são submetidos muitos animais. Mas, no caso do Brasil, isso praticamente não existe. O gado bovino é criado quase exclusivamente de forma extensiva, ou seja, os animais são soltos, comem pastagem. Por isso, quero me dedicar mais às aves, que, no caso do Brasil, são os animais que sofrem mais (e, numa escala de sofrimento, os porcos vêm em segundo lugar).

domingo, maio 01, 2011

O Brasil é uma democracia?

Por Nelson José de Camargo*

A palavra democracia significa “governo do povo”. Era usada para designar o sistema político de Atenas no período clássico, no qual os cidadãos atenienses, do sexo masculino e maiores de 18 anos, reuniam-se na Ágora para participar das decisões sobre o governo da cidade.

Hoje em dia, o governo de Atenas não seria considerado democrático, pois excluía da participação política mulheres, estrangeiros e escravos, ou seja, a maioria da população.

Para Aristóteles, havia três principais formas de governo: a monarquia, na qual o poder é exercido por uma só pessoa, o monarca; a aristocracia, na qual o governo está a cargo da elite (intelectual, financeira, agrária, etc.); e a democracia, no qual o poder é exercido diretamente pelo povo. Para o filósofo grego, as três formas de governo poderiam ser boas e justas, mas todas as três poderiam se transformar em formas degeneradas: a monarquia, se exercida por um rei injusto, se transforma em tirania; a aristocracia, ao privilegiar uma pequena elite, se transforma em oligarquia (governo de poucos); e a democracia pode se transformar em anarquia, isto é, ausência de governo, o que significa o caos e a desorganização política.

domingo, abril 24, 2011

“Tudo é verdade e nada é verdade”

Uma leitura da obra O estrangeiro de Albert Camus

Por Hailton Santos

Com a morte de Deus anunciada por Nietzsche o homem moderno sentiu-se livre para extrapolar suas emoções. Sem uma divindade a quem prestar contas, o homem da modernidade é livre para fazer aquilo que bem entender. Assim entendeu Smerdiakóv, personagem de Dostoiévski na obra Irmãos Karamazov (1879), que assassina o próprio pai com a justificativa de que vira um texto (supostamente do pai) com a seguinte frase: “Se Deus não existe tudo é permitido”. Como colorário, disse Smerdiakóv: “Se deus definitivamente não existe, então não existe nenhuma virtude, e neste caso ela é totalmente desnecessária”.[1] Aqui está o problema[2]. É esse o sentido de liberdade no mundo moderno. Sem ideais de bem comum, o homem da modernidade vive a sua insignificância existencial. O estrangeiro de Albert Camus é o retrato desse abismo existencial.

Meursault, personagem central de O estrangeiro, vive a “plenitude” e a “insignificância” do instante. Recusa a lógica da sociedade; a engrenagem que move as ações humanas e a busca por causa e efeito. Talvez porque não dê importância e sentido essencial às coisas no mundo. Isto ficou evidente quando lhe foi perguntado sobre o motivo de ter atirado no árabe. Ele simplesmente respondeu: “por causa do Sol”. Ou seja, não deu sentido aos fatos. Por assim dizer, uma gratuidade pela indiferença.

Como a indiferença vivida por Meursault é consequência da desilusão do homem moderno, desprovido de valores comunitários e guiado por “forças narcísicas”,[3] é possível relacioná-la à doutrina do eterno retorno apontada por Nietzsche?

domingo, abril 17, 2011

O que é a vida?

Por Nelson José de  Camargo*

Esta é uma questão que vêm ocupando a mente de cientistas, filósofos e de muitas pessoas desde os primórdios da raça humana.

Para Aristóteles, são características dos seres vivos: nutrição, sensação e, em alguns deles, a intelecção. Essas características são decorrentes da presença da alma (yuchz), exclusiva dos seres vivos.

A nutrição seria a característica fundamental a todos os seres vivos, uma vez que até as plantas a possuem. Os animais, além da nutrição, possuem a sensação, caracterizada pela presença dos órgãos dos sentidos, responsáveis pelas percepções de tato, paladar, olfato, audição e visão. Desses sentidos, o tato é comum a todos os animais. Um animal pode ter ou não visão e audição, mas tem necessariamente tato.

Portanto, segundo Aristóteles, a alma poderia ser dividida em três partes: nutritiva (comum a todos os seres vivos), sensitiva (presente nos animais e no homem) e intelectiva (característica dos animais capazes de raciocinar, como o homem). Essa estrutura é hierárquica: um ser vivo que tem intelecção tem necessariamente sensação e nutrição, mas não o contrário.

Ainda de acordo com Aristóteles, todos os seres vivos se alimentam e se reproduzem. Portanto, poderíamos considerar vivo qualquer ser capaz de crescer e de reproduzir.

sábado, abril 09, 2011

O massacre no Rio de Janeiro e limite da estupidez humana

Por Nelson José de Camargo*

O massacre ocorrido no dia 7 de abril em uma escola do Rio de Janeiro nos leva a uma reflexão: como é possível que o ser humano, o único “ser racional”, o único capaz de agir contra seus instintos (conforme Rousseau) seja capaz de cometer atos tão bárbaros?

Nietzsche já disse que o homem é “um animal complexo, mendaz, artificial, não transparente, e para os outros animais inquietante, menos pela força que pela astúcia e inteligência, e inventou a boa consciência para chegar a fruir sua alma como algo simples”.

O psicopata que tirou a vida de 12 crianças e deixou outras tantas feridas, antes de acabar com a própria vida, a julgar pela “carta-testamento” que deixou, julgava-se um “puro” em um “mundo de impuros”. Isolado da sociedade, alheio a qualquer forma de relacionamento, vivia no próprio mundo. Exerceu de forma radical o ascetismo: é preciso livrar o mundo das “impurezas”, eliminar completamente o “pecado”, obsessões de sua mente doentia.

sábado, abril 02, 2011

Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire

Por Helena Novais*

É sempre emocionante quando encontramos um escritor que traduz tudo o que acreditamos e suas palavras entram em sintonia com nosso próprio coração. Este, para mim, é o caso de Paulo Freire e seu “Pedagogia do Oprimido”. Esta, sim, é a verdadeira revolução dos fortes de espírito! Freire diz:

“Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos. E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscarem recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, MAS RESTAURADORES DA HUMANIDADE EM AMBOS. E aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – LIBERTAR-SE A SI E AOS OPRESSORES. Estes, que oprimem, exploram e violentam, em razão de seu poder, não podem ter, neste poder, a força de libertação dos oprimidos nem de si mesmos. Só o poder que nasça da debilidade dos oprimidos será suficientemente forte para libertar a ambos. Por isto é o poder dos opressores, quando se pretende amenizar ante a debilidade dos oprimidos, não apenas quase sempre se expressa em falsa genenosidade, como jamais a ultrapassa. Os opressores, falsamente generosos, têm necessidade, para que a sua “generosidade” continue tendo oportunidade de realizar-se, da permanência da injustiça. A ‘ORDEM’ SOCIAL INJUSTA É A FONTE GERADORA, permanente, desta ‘generosidade’ que se nutre da morte, do desalento e da miséria.

sábado, março 26, 2011

Imposição ou decadência?

POR NELSON JOSÉ DE CAMARGO*

Muito se fala sobre “reality shows”: poucos admitem que assistem a esse tipo de programa, mas continuam no ar há mais de uma década. Qual é a razão de seu sucesso?

Seriam os tais reality shows imposições da indústria cultural, no sentido que Horkheimer e Adorno deram a esse termo, uma forma de impor às massas um tipo de entretenimento alienante? Apenas mais um desdobramento do Aufklärung, que segundo Nietzsche apenas “um meio infalível para tornar os homens inseguros, com a vontade fraca, com desejo de ser conquistados e protegidos, em resumo, transformados em criaturas de rebanho”.

Podemos então relembrar Rousseau quando este afirma que “o homem nasce puro, mas a sociedade o corrompe”. As massas consomem o lixo que lhe é imposto porque não têm acesso aos biscoitos finos dos grandes artistas. Afinal, como diz Schiller, “o sentimento educado para a beleza refina os costumes”.

O Psicopata no Cinema – de Edgar Alan Poe a Zodíaco

POR HELENA NOVAIS*

O recente lançamento de Zodíaco nos cinemas brasileiros me fez rever um antigo interesse, a psicopatia. O tema é bastante intrigante principalmente por jogar alguma luz sobre a relação humana com a realidade, sobre como se compreende o mundo e se reage a ele, por qual processo o indivíduo se torna o que é. A grosso modo, a psicopatia representa um erro no processo de formação da personalidade, que tanto tem causas biológicas, quanto cognitivas de ordem sócio-ambiental.

Ao contrário do que diz o agente do FBI, Will Grahan, para Hannibal Lecter (em Dragão Vermelho), um psicopata não é um louco. “Sob o ponto de vista intelectual, os psicopatas são como as pessoas normais: não têm qualquer prejuízo de sua capacidade de discernimento”. A psicopatia é uma das variantes do conjunto de anomalias que se convencionou chamar de “distúrbios da personalidade”. Um louco não articula pensamento de forma lógica e com a maestria dos psicopatas. Já estes não são deficientes mentais ou tampouco sofrem de “alucinações ou problemas de identidade, como ocorre com vítimas de esquizofrenia”, pelo contrário, freqüentemente são indivíduos com inteligência acima da média que podem, ainda, serem simpáticos e sedutores e usam “essas qualidades para mentir e enganar os outros”. A grande tragédia é que “embora no plano intelectual entenda perfeitamente a diferença entre o certo e o errado, o psicopata não é dotado de emoções morais: não tem arrependimentos, culpa, piedade nem vergonha. É incapaz de nutrir qualquer empatia pelo próximo”. Sintetizando, o psicopata é biologicamente e psicologicamente incapaz de julgamentos morais.

sábado, março 19, 2011

A proporção do que é grande é nossa

Por Marcelo Cajui *

Meu horário estava apertado e havia um histórico de atraso com as entregas. Na época (2005) eu trabalhava no restaurante dos meus pais. O orçamento era baixo e filho do dono sempre faz de tudo. Eu dirigia um gol vermelho, no porta-malas dele havia trinta quentinhas protegidas por isopores. A grande distância entre o restaurante e o cliente me obrigava acelerar “um pouco”. Eudes, o cliente, pagava em dia e comprava uma quantidade razoável de almoços.

O caminho era pela Avenida Sapopemba (infinita). Na abertura de cada farol eu forçava o motor. Não dava importância para dirigir certo. O escapamento do carro reagia com pipocos. Neste momento a lei de Murphy se mostrou ativa, pois uma luz acendeu no painel e logo apagou, não liguei, achei que fosse bobagem. Continuei e a luz acendeu e apagou de novo (mais tarde soube que era a falta de óleo). O horário me cegou, fingi que não vi. Permaneci rumo ao bairro Terceira Divisão. Outra vez a luz acendeu daí prestei mais atenção, a cor era vermelha. Não apagou até o carro abrir o bico. Justamente quando a Avenida Sapopemba afunila e vira uma espécie de serra com barracos e casas mal acabadas por toda extensão lateral, um lugar violento. O motor rangia um esguicho agudo, levei até onde deu. Deixei na banguela até o último suspiro de vida do Gol.

terça-feira, março 08, 2011

O futuro da mulher e as meninas na China

Por Isis Valéria

Março nos traz, além das tradicionais águas, cantadas por Tom Jobim, em sua famosa canção, a comemoração do Dia da Mulher no dia 8.

Já ouvi muitas vezes comentários sobre por que a mulher deveria ter um dia especial, no calendário do ano.

Com certeza a mulher ainda é um gênero que sofre injustiças, preconceitos e rejeições. Desde a maldição bíblica até os nossos dias convive com todos os tipos de tabus e atos de extrema crueldade. Basta um olhar para os rostos cobertos pelos véus islâmicos. O simples fato de mostrar o rosto é motivo de vergonha e repressão.

segunda-feira, março 07, 2011

Para filosofar, uma paráfrase do Zaratustra

Por Nelson José de Camargo*

Zaratustra foi sozinho a Universidade. Quando lá chegou, postou-se diante dele um jovem, que havia abandonado a casa de papai e mamãe, para iniciar a construção do socialismo científico. Assim falou o jovem a Zaratustra:

"Este andarilho não é estranho para mim. Há algum tempo passou por aqui. Ele se chamava Zaratustra, mas estava perdido."

"Naquela ocasião tu trazias teus livros para o campus: ainda queres levar tua sabedoria para os jovens? Não temes o nosso ardor revolucionário?"

domingo, fevereiro 27, 2011

Revolta no mundo árabe

Por Nelson José de Camargo*

O ano de 20110 começou com uma série de revoltas nos países árabes do norte da África. Os protestos populares já causaram a renúncia dos ditadores da Tunísia e do Marrocos. Na Líbia, o ditador Muamar Khadafi tenta resistir no poder.

Qual a causa desses fenômenos? Seria a luta dos povos árabes por liberdade e democracia? Mas o que é democracia? Trata-se do modelo de democracia representativa predominante no mundo ocidental?

A chamada democracia ocidental burguesa não seria mais que um instrumento de dominação das massas, um sistema político destinado a impor os valores da classe dominante, a burguesia, sobre a população. Essa era a constatação dos marxistas. A liberdade estaria em substituir o modelo representativo burguês pala “ditadura do proletariado”, estado intermediário para a “sociedade sem classes” estágio ao qual a sociedade estaria inexoravelmente destinada segundo o “materialismo histórico”.

sábado, fevereiro 26, 2011

O método como caminho para o conhecimento verdadeiro

Por Nelson José de Camargo*

As descobertas científicas que começaram a ocorrer na época do Renascimento provocaram uma mudança radical no pensamento humano. Copérnico e Galileu comprovaram que a Terra era apenas um planeta que girava em torno do Sol, e não mais o centro imóvel do Universo; Newton, com a Lei da Gravitação Universal, explicou o movimento dos corpos celestes com base em leis mecânicas; a prensa de tipos móveis, aperfeiçoada por Gutenberg, permitiu que os livros fossem produzidos em maior quantidade e com menor custo, o que facilitou a divulgação dos novos conhecimentos; e a Reforma protestante rompeu a hegemonia da Igreja Católica Romana.

Nesse cenário de mudança, o pensamento humano (seja a filosofia natural, que hoje compreende as diversas ciências, quanto a filosofia moral – o que conhecemos hoje como filosofia) também passou por transformações.

domingo, fevereiro 13, 2011

La Boétie, Maquiavel e o panis et circensis à moda tupiniquim

Por André Assi Barrreto*

            A política do pão e circo (panis et circensis), para ser mais preciso, do pão e dos jogos (circenses), foi um método político empregado pelos romanos, que proporcionavam à população comida e diversão ao povo, afim de fazer com que a insatisfação com as medidas governamentais diminuíssem. Nos estádios em que gladiadores lutavam ferozmente até a morte, o pão era distribuído gratuitamente.
            Olhando para a atualidade do Brasil como um todo, e da política em especial e salvaguardadas as devidas proporções, qualquer semelhança com a prática romana NÃO é mera coincidência. Essa atualidade tupiniquim me remeteu a dois pensadores em especial, os teóricos políticos Nicolau Maquiavel (1469-1527) e Etiénne de La Boetie (1530-1563), tanto um como o outro alertavam de alguma forma para essa política praticada pelos detentores do poder.

sábado, fevereiro 12, 2011

O relativismo e o progresso da ciência como um processo não cumulativo

Por Nelson José de Camargo*

Há perdas e ganhos nas revoluções científicas, mas os cientistas tendem a ser particularmente cegos quanto às primeiras.

Thomas Kuhn

INTRODUÇÃO
O progresso da ciência, tal como tem sido verificado desde o século XVII, pode ser explicado pelo fato de que as novas teorias científicas podem “predizer e explicar mais fenômenos do que suas predecessoras”[1], ao menos na visão positivista. Ou a ciência está, ao longo do tempo, “aproximando-se progressivamente de um registro verdadeiro do mundo”[2], na visão realista. Sob o ponto de vista pragmatista, o progresso pode ser entendido como “um movimento em direção a realização de determinados fins”[3]. O relativismo, porém, sustenta a posição de que o progresso da ciência não é um processo cumulativo e não tem um fim. Esta dissertação pretende examinar a posição relativista.

PARADIGMAS
Para iniciar a discussão, é preciso distinguir os períodos que caracterizam o progresso científico na visão relativista. São os períodos pré-paradigma e pós-paradigma.

Paradigma é um conjunto de realizações que serve de base à prática científica futura; não é regra, não é método; serve de exemplo para a resolução de problemas futuros. Nas palavras de Thomas Kuhn, paradigmas são “exemplos que incluem conjuntamente leis, teoria, aplicação e instrumentação – fornecem modelos dos quais surgem tradições coerentes e específicas da pesquisa científica”[4].

segunda-feira, janeiro 31, 2011

Filosofia para quem?

PALESTRA PROFERIDA PELO PROFESSOR PAULO HENRIQUE FERNANDES SILVEIRA*

Essa mesa de debate foi composta, imagino que propositalmente, por pesquisadores de diferentes áreas. Na incumbência de representar o departamento de filosofia, não pretendo convencê-los de coisa alguma, mas ficarei satisfeito se conseguir mostrar a pertinência de certas questões sobre o ensino e a pesquisa.

Na última segunda-feira, 14/9/2009, num grande jornal de São Paulo, Luiz Felipe Pondé, colunista e professor universitário, elaborou um relatório sobre o ensino e a pesquisa no Brasil:

CLÓVIS ROSSI pergunta em sua coluna do dia 8 de setembro, página A2, se no Brasil vivemos algo como o que acontece hoje na vida universitária da Espanha: desinteresse dos alunos e asfixia burocrática dos professores. Sim, há semelhanças.

Nos anos 50, o filósofo norte-americano Russel Kirk descrevia um fenômeno interessante nas universidades americanas.

A partir do momento em que a vida acadêmica se tornou objetivo da ‘classe média’, gente sem posses, a vida universitária entrou em agonia porque a proletarização dos acadêmicos se tornou inevitável” (Pondé, L. “Um relatório para a academia”, In. FOLHA DE SÃO PAULO, 14/9/2009, E9).”

Esse tal filósofo americano, Russel Kirk, foi um defensor de várias teses conservadoras, como a da manutenção do princípio da diversidade. No texto Dez Princípios conservadores, Kirk afirma :

quinta-feira, janeiro 27, 2011

A estética kantiana

Por Nelson José de Camargo*

Kant, em suas três Críticas, procurou estabelecer princípios universais e necessários que servem de fundamento para o ânimo[1] (Gemüt). Na Crítica da razão pura, investigou os princípios para o conhecimento teórico, que inclui o conhecimento científico; na Crítica da razão prática, o objeto foi o agir prático humano, e a lei moral que rege as ações de um indivíduo racional; A Crítica do juízo investiga os juízos formulados pelo homem em relação a objetos da natureza, ou segundo as impressões que esses objetos causam em nossa mente.

Se o conhecimento humano é construído sobre juízos sintéticos a priori, e nossas ações morais são determinadas pelo imperativo categórico, seria possível estabelecer princípios universais e necessários – a priori – para juízos estéticos?

O conhecimento que temos das coisas é na verdade o conhecimento das representações dessas coisas, pois não é possível conhecer as coisas em si. O que conhecemos, portanto, é o mundo das representações, ou dos fenômenos.

terça-feira, janeiro 25, 2011

Harmonia dos contrários


Uma interpretação do texto: “Da liberdade dos Antigos comparada à dos Modernos” de Benjamim Constant. In Revista Filosofia Política n.2, 1985.

Por Hailton Santos

Como o próprio título sugere, o texto analisa as representações sociais no que tange à liberdade no contexto antigo e moderno. O autor sugere a fusão entre estas duas formas de liberdade como postulado para uma humanidade mais justa e harmoniosa.

Logo no início do texto Constant faz críticas às lideranças do movimento revolucionário francês (1789). Para o autor, os jacobinos tinham uma visão profundamente equivocada de liberdade... Equivocaram-se, principalmente, em seguir modelos ultrapassados de democracia como o espartano e o gaulês, pois, “nunca houve de fato democracia nestas citadas repúblicas” afirma o autor.

Para Constant, falta aos modelos espartanos e gauleses a representatividade popular, que é uma descoberta exclusiva dos tempos modernos. O erro dos radicais da revolução francesa foi querer a qualquer custo restaurar esse conceito antigo de liberdade. Sem experiências democráticas, os radicais insistiram em restaurar regimes ultrapassados como parâmetros de uma República popular. Parâmetros que todos tinham de acatar sem restrições.

Daí o fracasso desse modelo. Como pode haver liberdade se há uma completa submissão do indivíduo à autoridade? Por outro lado, como promover a harmonia dos povos numa sociedade em que se predominam os valores individuais, como é a norma na sociedade moderna?

A proposta de Constant é que na busca por liberdade política (coisa dos antigos) se contemple, etambém, o conceito de liberdade privada (coisa dos modernos). Faz-se necessário, portanto, um modelo de democracia que seja de fato representação popular. Segundo o autor, somente dessa forma o cidadão é livre para se expressar, escolher um trabalho ou fazê-lo à sua maneira. É também nesse modelo que o cidadão é livre para dispor de sua propriedade e inclusive abusar dela. No modelo representativo o cidadão tem o direito de ir e vir sem pedir permissão a quem quer que seja; é direito do cidadão reunir-se com outras pessoas para o seu próprio interesse; o cidadão é livre para participar do governo à sua maneira, sem imposições ou sanções alheias.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Confira os melhores e os piores cursos na área de humanas no Enade 2008

Ministério da Educação analisou 30 áreas no total.
Mais de 380 mil estudantes fizeram a prova no ano passado.
Fernanda Calgaro Do G1, em São Paulo
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