Educação

Por que não estudar humanas

Por Nelson José de Camargo*
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A conclusão do ensino médio é uma etapa importante na vida dos jovens. É o momento de pensar no ingresso em uma instituição de ensino superior. Hoje, pouco menos de 20% dos estudantes brasileiros conseguem atingir essa etapa do ensino, ainda um número pequeno, mas significativamente maior do que há alguns anos.

E a grande maioria dos estudantes opta por ingressar em cursos das chamadas ciências humanas. Afinal, 76% dos cursos universitários oferecidos no país, por instituições públicas e privadas, são da área de humanas. E pouco mais de 8% optam pelas diversas engenharias.

Este é com certeza um dos efeitos da trágica situação do ensino básico em nosso país. Nas últimas décadas, houve uma preocupação de ampliar o acesso à educação básica, e que de fato se conseguiu. Hoje, quase todas as crianças brasileiras estão incluídas no ensino básico. Mas não houve cuidado com a qualidade da educação oferecida, especialmente no ensino de matemática e ciências.

Muitas pessoas defendem que a principal ênfase do ensino deve ser no ensino da língua pátria. A redação tem caráter eliminatório no Enem e na maioria dos vestibulares e processos seletivos. Além disso, conteúdos de literatura são cobrados nesses exames.

Consequentemente, é imposta aos estudantes do ensino médio a leitura de autores clássicos como machado de Assis, Guimarães Rosa e outros. Mas quantos estudantes do ensino médio concluem o curso dominando álgebra, com conhecimentos básicos de geometria, de física, de química? Que parcela detém o conhecimento de cálculo?

Para que serve a escola?

Por Nelson José de Camargo*
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Lemos com frequência nos periódicos e demais meios de comunicação notícias pouco alentadoras sobre a educação brasileira. Nossos estudantes não são capazes de compreender textos simples, de escrever com um mínimo de coesão e coerência e não dominam nem mesmo as operações elementares da matemática.

Outro problema também levantado pelos meios de comunicação é que nossas escolas não preparam os estudantes para o mercado de trabalho. Mas seria esta a verdadeira missão da escola?

Cabe uma indagação filosófica: o que é preparar para o mercado de trabalho? É dar conhecimentos técnicos para que sejam preenchidas funções demandadas para o mercado? É preparar profissionais para atuar em áreas lucrativas, como comércio, finanças ou agronegócio? E o ensino médio, para que serve? Para preparar os estudantes para serem aprovados em processos seletivos do ensino superior?

Como serão esses profissionais? Profissionais “competitivos”, que não medirão esforços para ascender profissionalmente. Pessoas que pensam em acumular bens, pois na sociedade atual não importa o que você é, mas o que você tem. Ser bem-sucedido na carreira, ou seja, ter carro, casa própria, eletrodomésticos, consumir. Foi este o “cidadão” que nossas escolas formaram.

No mundo que valoriza o “ter”, e não o “ser”, consumir é a verdadeira cidadania. É o “consumidor” que tem voz na Ágora pós-moderna e globalizada. Isso enquanto for considerado útil e produtivo de acordo com os padrões globalizados. Depois, este “cidadão” será substituído por alguém mais jovem, mais proativo, mais “moderno”.

E assim caminha a humanidade, movida por consumismo, narcisismo, egoísmo e individualismo.

Se um mundo melhor fosse possível, a verdadeira função da escola não seria apenas formar “profissionais para o mercado”, mas formar pessoas. Isso só se faz com cultura, humanismo, com a valorização do que é realmente importante: Ensinar a grande literatura, a ciência, a filosofia, a história, as matemáticas. Fazer com que as novas gerações preservem a herança positiva da humanidade, em vez de perpetuar uma cultura egoísta, narcisista e vazia.

*Nelson José de Camargo é Bacharel em Jornalismo e Filosofia 

Filosofia se aprende na escola?

Por Nelson José de Camargo*


“Não se aprende Filosofia, mas a filosofar.” 

Kant.


Nos últimos anos, houve no Brasil uma notável expansão do nível de matriculados no ensino superior, mas a qualidade da maioria dos cursos não é boa. O grande gargalo da educação brasileira continua sendo o ensino médio, que não forma profissionais de nível técnico para o mercado de trabalho, nem oferece formação científica para quem deseja cursar cursos superiores na área de exatas. Há uma grande carência de engenheiros no país. Nesse contexto disciplinas como Filosofia e Sociologia foram introduzidas no ensino médio.

Mas o que é realmente “filosofar”? Por que Aristóteles, Descartes, Kant, Nietzsche, Heidegger e outros nomes mais ou menos ilustres tornaram-se “filósofos”?

Os grandes pensadores, enquadrados ou não na categoria de “filósofos”, foram movidos pelas grandes questões do mundo e da vida. O que é justiça? O que é belo? O que é a verdade? Qual o sentido da vida? A inquietação provocada por essas e outras questões é que produziu as grandes obras do pensamento humano.

O problema é que a filosofia deixou de ser reflexão para se tornar meramente análise de texto. Não são mais as grandes questões que movem os “filósofos” de hoje, mas sim o estudo metódico de um pensador específico. Essa “especialização” tira o caráter questionador e reflexivo da Filosofia, que afinal é sua razão de ser. Hoje o que se verifica é que a maioria dos professores de Filosofia é “especialista” em algum pensador. Há “kantianos”, “nietzschianos”, “hegelianos”, etc. Isso é Filosofia? Se for, Platão foi “especialista” em quem? E Aristóteles? E Espinosa, Schiller, Rousseau, Hume...

Se isso ocorre no ensino superior, que Filosofia será ensinada aos jovens do ensino médio? Os cursos serão de mera análise de texto, num nível muito menos profundo do que se faz na academia, ou haverá espaço para a verdadeira reflexão filosófica? Provavelmente nem uma coisa, nem outra. A Filosofia no ensino médio acabará servindo para doutrinar os jovens com ideias de anteontem.

*Nelson José de Camargo é Jornalista e Bacharel em Filosofa

Vale a pena estudar?

Por Nelson José de Camargo*

Uma reflexão sobre o momento atual leva inevitavelmente a um questionamento: vale a pena estudar? Afinal, algumas das pessoas mais bem-sucedidas de nosso país não se destacaram pelo conhecimento que adquiriram nos bancos escolares. Poderíamos citar artistas, jogadores de futebol, políticos e personalidades de várias áreas e atividades.

O jovem de hoje pode tomar algumas dessas personalidades como modelos para justificar sua aversão à leitura e ao estudo. Perder tempo com livros é coisa de otário, de alguém que nunca alcançará o sucesso. O que se consegue com um diploma universitário: um emprego mal remunerado, sem “prestígio”. Afinal, o importante não é “ser”, mas “ter”.

Se o importante é acumular bens, valores como solidariedade, ética e respeito são “antiquados”, não fazem parte do mundo “moderno e globalizado”.

Podemos dizer que essa constatação é verdadeira. Afinal, um jogador de futebol pode ganhar muito mais que um engenheiro. Uma modelo que usa suas belas formas (por vezes auxiliada por cirurgias estéticas) será certamente mais bem-sucedida (financeiramente) do que uma professora. Um político pode se orgulhar da própria ignorância, e até dizer que “ler dá sono”, se conseguir agradar ao povo.

E o que é agradar ao povo? É promover o crescimento econômico, facilitar o crédito, inserir a maioria da população na “classe média” que pode comprar automóveis, televisores de alta definição, celulares cada vez mais sofisticados, tudo em suaves prestações. E a educação, como fica? Ora, ela não tem maior importância, é apenas um capricho de gente esquisita, que deixa de aproveitar as boas coisas da vida para perder tempo em meio a livros empoeirados em bibliotecas bolorentas.

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