sábado, julho 27, 2013

Brasileiros: prisioneiros da sua condição de liberdade

Por Leandro Santa Rosa Santana*

É verídico o fato da necessidade de mudanças no meio político nacional, e é válido afirmar que a carência em alguns setores básicos e necessários para o funcionamento da sociedade tem limitado o progresso da nação. Entretanto, penso que as manifestações deveriam partir de fora para dentro. Que em vez de reivindicar direitos, a mesma massa que faz acontecer as mudanças e que escreve o caminho da sociedade pelo voto deveria manifestar e cumprir primeiramente seus deveres.

A corrupção, em menor ou maior grau, é um mal instalado na sociedade brasileira. Muitos sempre dão um jeitinho de conseguir o que querem da forma mais fácil. A grande maioria crê que o dinheiro compra tudo e é o "senhor de toda razão". Muitos usam a política para defender seus próprios anseios, nem sempre os anseios da maioria; a imagem do governante é o retrato da natureza política dos próprios eleitores. Então, antes de manifestar insatisfação, alguém deve se manifestar como cidadão, como humano. Cidadão não é aquele que paga impostos (isso é um dever civil), cidadão é aquele que manifesta sua cidadania e é ético em relação a sua pátria!

Não adianta reivindicar e tornar a eleger os mesmos governantes com promessas falsas. Não se vive bem na hipocrisia. A Constituição Federal de 1988 menciona (ainda que isso seja desconhecido de muitos), em suas primeiras linhas, que “O poder emana do povo, que o exerce através de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. O ato de votar consolida a vontade do eleitor na escolha consciente de seu candidato, o que, junto a outras tantas possibilidades de melhoria da realidade, é importante para efetivar mudanças significativas.

Muitos escândalos de corrupção têm aparecido no cenário político, além da má conduta na gestão dos gastos públicos, o que causa certa inversão: antes da questão política, existe a questão humana, tão esquecida, que tem tornado as pessoas vulneráveis as consequências de suas próprias escolhas, prisioneiros de sua própria condição cidadãos com liberdade de escolha.

*Leandro Santa Rosa Santana é estudante do 6º período do Curso de Licenciatura em História

sexta-feira, julho 19, 2013

Por que não estudar humanas

Por Nelson José de Camargo*
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A conclusão do ensino médio é uma etapa importante na vida dos jovens. É o momento de pensar no ingresso em uma instituição de ensino superior. Hoje, pouco menos de 20% dos estudantes brasileiros conseguem atingir essa etapa do ensino, ainda um número pequeno, mas significativamente maior do que há alguns anos.

E a grande maioria dos estudantes opta por ingressar em cursos das chamadas ciências humanas. Afinal, 76% dos cursos universitários oferecidos no país, por instituições públicas e privadas, são da área de humanas. E pouco mais de 8% optam pelas diversas engenharias.

Este é com certeza um dos efeitos da trágica situação do ensino básico em nosso país. Nas últimas décadas, houve uma preocupação de ampliar o acesso à educação básica, e que de fato se conseguiu. Hoje, quase todas as crianças brasileiras estão incluídas no ensino básico. Mas não houve cuidado com a qualidade da educação oferecida, especialmente no ensino de matemática e ciências.

Muitas pessoas defendem que a principal ênfase do ensino deve ser no ensino da língua pátria. A redação tem caráter eliminatório no Enem e na maioria dos vestibulares e processos seletivos. Além disso, conteúdos de literatura são cobrados nesses exames.

Consequentemente, é imposta aos estudantes do ensino médio a leitura de autores clássicos como machado de Assis, Guimarães Rosa e outros. Mas quantos estudantes do ensino médio concluem o curso dominando álgebra, com conhecimentos básicos de geometria, de física, de química? Que parcela detém o conhecimento de cálculo?

segunda-feira, julho 01, 2013

A democracia fracassou?

Por Nelson José de Camargo*
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No mês de junho nosso país foi sacudido por protestos. A causa inicial foi o reajuste das tarifas de transporte coletivo, mas logo surgiram outras bandeiras. A corrupção, a PEC 37, a “cura gay”, os gastos com a Copa. O povo, ou parcela importante dele, protestou contra “tudo o que aí está”.

Em um dos protestos pessoas com bandeiras de partidos políticos foram hostilizadas. Muitos dos manifestantes se posicionaram claramente contra todos os partidos. Ocorre que a forma de governo adotada no Brasil, e na maioria dos países ocidentais, é a chamada democracia representativa, que consiste na escolha de representantes do povo, por meio do voto, para ocupar os cargos públicos.

Rejeitar os partidos políticos é rejeitar essa forma de governo. Mas é possível colocar outra coisa no lugar?

Convém investigar um pouco a forma de governo que chamamos de democracia. É um produto na pólis grega, particularmente de Atenas, surgido no apogeu político e cultural desta cidade.

A democracia ateniense era direta, pois as decisões políticas eram tomadas pelos cidadãos, que se reuniam na Ágora para deliberar sobre as questões de interesse. No entanto, quem era considerado “cidadão” nesse sistema? indivíduos do sexo masculino, maiores de 21 anos, filhos de pai e mãe atenienses. Portanto, estavam excluídos mulheres e escravos, que constituíam a maior parte da população (80%, aproximadamente).

Pelos critérios de hoje, a democracia ateniense era um regime despótico e excludente. E não era apoiada por grandes pensadores da época, como Platão e Aristóteles.

A sociedade proposta por Platão em “A república” é claramente aristocrática, com as funções de governo cabendo às pessoas que seriam mais preparadas para tal, a aristocracia (na verdadeira acepção da palavra, “governo nos melhores”).