sábado, novembro 23, 2013

Filosofia não serve para nada

Por Nelson José de Camargo*

Depois de muito filosofar, cheguei à conclusão de que a filosofia não serve para nada. Para justificar tal conclusão, apresento a seguir uma série de argumentos irrefutáveis.

O maior empresário brasileiro e um dos homens mais ricos do mundo (em breve o mais rico) é um verdadeiro exemplo de empreendedorismo. Dedicou-se a estudar coisas práticas, como prospecção de petróleo, e graças a ele nosso país será em breve uma grande potência petrolífera. E ele jamais leu as Meditações de Descartes.

O melhor presidente do Brasil em todos os tempos, que erradicou a miséria e fez do nosso país uma potência emergente, nunca ouviu falar em juízos analíticos e juízos sintéticos. Na verdade, ele se orgulha de nunca ter lido um livro na vida.

O maior cantor de todos os tempos, nosso verdadeiro rei, jamais se preocupou com qualquer discussão sobre liberdade, democracia, autoritarismo, censura ou todas essas baboseiras acadêmicas.

Nossos craques de futebol nunca ouviram falar em dialética, lógica, pré-socráticos, socráticos, filosofia helenística e todas essas velharias poeirentas que ficam mofando nas bibliotecas, mas encantam o mundo com suas jogadas espetaculares nos grandes clubes da Europa.

sábado, outubro 26, 2013

Animais são melhores que pessoas?


Por Nelson José de Camargo*
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A ação de ativistas de defesa dos animais que “resgatou” 178 cães da raça beagle que seriam usados em testes levanta a seguinte questão: é ético fazer testes em animais? É ético, em qualquer circunstância, matar animais, ainda que seja para alimentação?

Tem crescido no mundo o número de adeptos do vegetarianismo radical, que se autodenominam vegans (ou veganos). Tais pessoas recusam-se a consumir qualquer produto de origem animal, inclusive leite e ovos e seus derivados, e com frequência promovem ações semelhantes ao do “resgate” dos beagles.

Peter Singer, filósofo australiano, já revelou simpatia pelas posições dos vegans. Uma vez que os animais são seres que sentem dor, sofrem e têm, segundo pesquisas científicas, até mesmo formas de linguagem e raciocínio, não seria aceitável usá-los em testes de medicamentos e muito menos na alimentação.

Na natureza há dois tipos de seres vivos: os autótrofos, como plantas e alguns microrganismos, que são capazes de produzir seu próprio alimento, por fotossíntese ou quimiossíntese; e os heterotróficos, que precisam obter alimento a partir de outros seres vivos. No caso dos heterótrofos, há os consumidores primários, cuja dieta é estritamente vegetariana; e há consumidores secundários, terciários etc.; eles se alimentam de outros heterótrofos, isto é, de plantas e/ou de outros animais.

sábado, julho 27, 2013

Brasileiros: prisioneiros da sua condição de liberdade

Por Leandro Santa Rosa Santana*

É verídico o fato da necessidade de mudanças no meio político nacional, e é válido afirmar que a carência em alguns setores básicos e necessários para o funcionamento da sociedade tem limitado o progresso da nação. Entretanto, penso que as manifestações deveriam partir de fora para dentro. Que em vez de reivindicar direitos, a mesma massa que faz acontecer as mudanças e que escreve o caminho da sociedade pelo voto deveria manifestar e cumprir primeiramente seus deveres.

A corrupção, em menor ou maior grau, é um mal instalado na sociedade brasileira. Muitos sempre dão um jeitinho de conseguir o que querem da forma mais fácil. A grande maioria crê que o dinheiro compra tudo e é o "senhor de toda razão". Muitos usam a política para defender seus próprios anseios, nem sempre os anseios da maioria; a imagem do governante é o retrato da natureza política dos próprios eleitores. Então, antes de manifestar insatisfação, alguém deve se manifestar como cidadão, como humano. Cidadão não é aquele que paga impostos (isso é um dever civil), cidadão é aquele que manifesta sua cidadania e é ético em relação a sua pátria!

Não adianta reivindicar e tornar a eleger os mesmos governantes com promessas falsas. Não se vive bem na hipocrisia. A Constituição Federal de 1988 menciona (ainda que isso seja desconhecido de muitos), em suas primeiras linhas, que “O poder emana do povo, que o exerce através de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. O ato de votar consolida a vontade do eleitor na escolha consciente de seu candidato, o que, junto a outras tantas possibilidades de melhoria da realidade, é importante para efetivar mudanças significativas.

Muitos escândalos de corrupção têm aparecido no cenário político, além da má conduta na gestão dos gastos públicos, o que causa certa inversão: antes da questão política, existe a questão humana, tão esquecida, que tem tornado as pessoas vulneráveis as consequências de suas próprias escolhas, prisioneiros de sua própria condição cidadãos com liberdade de escolha.

*Leandro Santa Rosa Santana é estudante do 6º período do Curso de Licenciatura em História

sexta-feira, julho 19, 2013

Por que não estudar humanas

Por Nelson José de Camargo*
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A conclusão do ensino médio é uma etapa importante na vida dos jovens. É o momento de pensar no ingresso em uma instituição de ensino superior. Hoje, pouco menos de 20% dos estudantes brasileiros conseguem atingir essa etapa do ensino, ainda um número pequeno, mas significativamente maior do que há alguns anos.

E a grande maioria dos estudantes opta por ingressar em cursos das chamadas ciências humanas. Afinal, 76% dos cursos universitários oferecidos no país, por instituições públicas e privadas, são da área de humanas. E pouco mais de 8% optam pelas diversas engenharias.

Este é com certeza um dos efeitos da trágica situação do ensino básico em nosso país. Nas últimas décadas, houve uma preocupação de ampliar o acesso à educação básica, e que de fato se conseguiu. Hoje, quase todas as crianças brasileiras estão incluídas no ensino básico. Mas não houve cuidado com a qualidade da educação oferecida, especialmente no ensino de matemática e ciências.

Muitas pessoas defendem que a principal ênfase do ensino deve ser no ensino da língua pátria. A redação tem caráter eliminatório no Enem e na maioria dos vestibulares e processos seletivos. Além disso, conteúdos de literatura são cobrados nesses exames.

Consequentemente, é imposta aos estudantes do ensino médio a leitura de autores clássicos como machado de Assis, Guimarães Rosa e outros. Mas quantos estudantes do ensino médio concluem o curso dominando álgebra, com conhecimentos básicos de geometria, de física, de química? Que parcela detém o conhecimento de cálculo?

segunda-feira, julho 01, 2013

A democracia fracassou?

Por Nelson José de Camargo*
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No mês de junho nosso país foi sacudido por protestos. A causa inicial foi o reajuste das tarifas de transporte coletivo, mas logo surgiram outras bandeiras. A corrupção, a PEC 37, a “cura gay”, os gastos com a Copa. O povo, ou parcela importante dele, protestou contra “tudo o que aí está”.

Em um dos protestos pessoas com bandeiras de partidos políticos foram hostilizadas. Muitos dos manifestantes se posicionaram claramente contra todos os partidos. Ocorre que a forma de governo adotada no Brasil, e na maioria dos países ocidentais, é a chamada democracia representativa, que consiste na escolha de representantes do povo, por meio do voto, para ocupar os cargos públicos.

Rejeitar os partidos políticos é rejeitar essa forma de governo. Mas é possível colocar outra coisa no lugar?

Convém investigar um pouco a forma de governo que chamamos de democracia. É um produto na pólis grega, particularmente de Atenas, surgido no apogeu político e cultural desta cidade.

A democracia ateniense era direta, pois as decisões políticas eram tomadas pelos cidadãos, que se reuniam na Ágora para deliberar sobre as questões de interesse. No entanto, quem era considerado “cidadão” nesse sistema? indivíduos do sexo masculino, maiores de 21 anos, filhos de pai e mãe atenienses. Portanto, estavam excluídos mulheres e escravos, que constituíam a maior parte da população (80%, aproximadamente).

Pelos critérios de hoje, a democracia ateniense era um regime despótico e excludente. E não era apoiada por grandes pensadores da época, como Platão e Aristóteles.

A sociedade proposta por Platão em “A república” é claramente aristocrática, com as funções de governo cabendo às pessoas que seriam mais preparadas para tal, a aristocracia (na verdadeira acepção da palavra, “governo nos melhores”).

quarta-feira, junho 19, 2013

Os protestos são justos?

Por Nelson José de Camargo*

As grandes cidades brasileiras têm sido agitadas nas últimas semanas por protestos contra o reajuste nas tarifas de transporte coletivo. As manifestações começaram em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas já se espalharam por todo o país e alcançaram repercussão internacional.

Todo movimento que leva parcelas da população ás ruas é político, e não há nenhum problema nisso. Fazer política não se resume a votar em alguém, que geralmente nem conhecemos, entre as opções que nos são apresentadas pelos partidos. Política é algo muito mais complexo, é exercer os direitos e cumprir os direitos de cidadão.

Qualquer ocupante de cargo público, de qualquer um dos três poderes – executivo, legislativo ou judiciário − e de qualquer nível – municipal, estadual ou federal – pode e deve ser cobrado e fiscalizado pela população.

A população tem todo o direito de protestar quando percebe que seus direitos não estão sendo respeitados, e quando o Estado não cumpre suas atribuições.

Já houve momentos na história em que a população saiu às ruas para protestar contra regimes autoritários; para exigir o direito de escolher os seus representantes; e para exigir ética e honestidade na política.

Hoje em dia, um dos principais instrumentos de reivindicação política são os movimentos sociais. Foram os movimentos dos trabalhadores que asseguraram direitos e garantias como salário mínimo, jornada de trabalho compatível com a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores, melhores salários, previdência social, entre outras conquistas.

sábado, abril 27, 2013

Por que Beethoven é melhor do que funk

Por Nelson José de Camargo*

Um respeitado sociólogo, irmão de um roqueiro bem conhecido no Brasil, declarou a um jornal de grande circulação que o funk carioca é arte de vanguarda. Pode ser desprezado pela elite intelectual, tal como foi no passado certo tipo de música negra norte-americana, que hoje é tida como de boa qualidade.

Afinal, o que é bom e ruim em arte? É possível chegar a um “juízo estético” para definir algo como “bom ou ruim” com base em critérios puramente racionais e objetivos?

Esta é uma tarefa hercúlea, na qual nem mesmo Kant foi bem-sucedido. Mas alguns conceitos formulados pelas Ciências Sociais no século XX podem nos ajudar a resolver esse dilema.

A chamada grande cultura seria apenas um padrão estabelecido por representantes brancos, europeus e homens da Europa. Portanto, é um conceito etnocêntrico, machista, misógino e preconceituoso.

Qual é a diferença entre “civilizado” e “selvagem”? Ora, o primeiro é tudo aquilo que se enquadra no paradigma eurocêntrico, colonialista adotado pelas classes dominantes. O segundo é quem não se submete a esse paradigma.

domingo, abril 14, 2013

A esperança do pobre é o ano que vem!

Por Hailton Santos

Quando se fala da seca que castiga a região Nordeste, as manchetes são praticamente iguais às do tempo do coronelismo da República Velha (1889-1930). A literatura oficial diz que esse perverso meio de explorar riquezas e pessoas já não mais existe. Será mesmo?

O grande problema do Nordeste brasileiro é má distribuição de águas na região, como já se sabe há muito tempo. O mais ingênuo dos homens sabe que é sim possível resolver tal problema. A questão é política, ou seja, de vontade política.

Podemos citar como exemplo as regiões áridas em Israel e em Las Vegas, nos Estados Unidos, que tinham problemas parecidos... Com a diferença que lá as chuvas são mais escassas e o clima desértico. Diferentes das condições do Nordeste brasileiro, aonde as chuvas chegam, ainda que de forma irregular.

Israel e Las Vegas são exemplos de políticas públicas bem-sucedidas no que tange à recursos hídricos. Como tais, são referências para o resto do mundo.

Por que então, desde a República Velha, não conseguimos avançar nessa questão?

Porque essencialmente o coronelismo não acabou. Na verdade, nunca deixou de existir. Hoje o coronelismo institucionalizou-se na figura do político. Se no passado o sertanejo era ludibriado com cestas básicas, hoje tem a bolsa-família, que tem o mesmo efeito.

sexta-feira, abril 12, 2013

Por que sou contra a redução da maioridade penal

* Por Nelson José de Camargo
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Sempre que um crime brutal é cometido por um assim chamado “menor de idade”, reacende-se o debate sobre a redução da maioridade penal. Há projetos no Congresso para reduzir a maioridade penal para 16 anos. De modo geral, são propostas de políticos conservadores e adeptos de práticas clientelistas, ainda muito comuns no Brasil.

A adoção dessa medida seria absolutamente inócua para reduzir a violência, e apenas empurraria para o crime “menores de idade” ainda mais jovens, abaixo de 16 anos, por exemplo, que seriam os “novos menores”.

A solução para esse grave problema é muito mais radical. Começa pelo questionamento sobre o que é “maioridade”. O que é “maioridade penal”? Como definir alguém como “maior” ou “menor” de idade?

O primeiro registro formal de “maioridade” é oriundo do Direito Romano, que considerava “impúberes” homens com menos de 18 anos e mulheres com menos de 14 anos.

Na Idade média, boa parte dos conceitos do Direito Romano foi mantida. No período carolíngio, por exemplo, menores de 14 anos não podiam ser condenados à morte, ainda que estivessem sujeitos a receber castigos corporais.

sábado, março 30, 2013

Estado laico e feriados religiosos: contradição a ser superada?

Por Nelson José de Camargo*
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O feriado da sexta-feira santa leva a uma reflexão filosófica: se o Brasil é um estado laico (isto é, há separação entre Estado e religião), por que a data é feriado nacional? Não deveria ser um dia normal de trabalho, como ocorre em muitos países?

Em primeiro lugar, para quem a data é feriado? Para os trabalhadores do mercado formal, que têm carteira assinada e demais direitos e benefícios trabalhistas, ou seja, pouco mais de 50% da população economicamente ativa. E mesmo entre os trabalhadores formais, há muitos que têm de trabalhar em feriados e fins de semana, em razão de demandas específicas suas funções.

E o que dizer dos trabalhadores “free-lancers”, ou que trabalham em regime de “home office”? Ou ainda dos autônomos? Ou dos trabalhadores de certos setores da indústria e do comércio, muitas vezes pessoas com pouca escolaridade, que são submetidas a longas jornadas de trabalho, baixa remuneração e, em alguns casos, a situações análogas à escravidão. Até mesmo grifes famosas que vendem roupas a preços elevados nos shopping centers recorrem a esse tipo de mão de obra, face perversa da precarização das relações de trabalho.

Feita a ressalva de que nem todos os trabalhadores podem desfrutar dos feriados religiosos, podemos voltar à indagação inicial: por que celebrá-los em um Estado laico?

Em um passado não tão distante, o Brasil foi um país de ampla maioria católica: até meados do século XX, mais de 90% dos brasileiros se declaravam adeptos dessa religião. Os cerca de 10% restantes dividiam-se entre evangélicos históricos, evangélicos pentecostais e neopentecostais, espíritas e adeptos de religiões afro-brasileiras. Os que se declaravam sem religião ou ateus representavam menos de 1% da população.

terça-feira, março 26, 2013

Para que serve a escola?

Por Nelson José de Camargo*
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Lemos com frequência nos periódicos e demais meios de comunicação notícias pouco alentadoras sobre a educação brasileira. Nossos estudantes não são capazes de compreender textos simples, de escrever com um mínimo de coesão e coerência e não dominam nem mesmo as operações elementares da matemática.

Outro problema também levantado pelos meios de comunicação é que nossas escolas não preparam os estudantes para o mercado de trabalho. Mas seria esta a verdadeira missão da escola?

Cabe uma indagação filosófica: o que é preparar para o mercado de trabalho? É dar conhecimentos técnicos para que sejam preenchidas funções demandadas para o mercado? É preparar profissionais para atuar em áreas lucrativas, como comércio, finanças ou agronegócio? E o ensino médio, para que serve? Para preparar os estudantes para serem aprovados em processos seletivos do ensino superior?

Como serão esses profissionais? Profissionais “competitivos”, que não medirão esforços para ascender profissionalmente. Pessoas que pensam em acumular bens, pois na sociedade atual não importa o que você é, mas o que você tem. Ser bem-sucedido na carreira, ou seja, ter carro, casa própria, eletrodomésticos, consumir. Foi este o “cidadão” que nossas escolas formaram.

No mundo que valoriza o “ter”, e não o “ser”, consumir é a verdadeira cidadania. É o “consumidor” que tem voz na Ágora pós-moderna e globalizada. Isso enquanto for considerado útil e produtivo de acordo com os padrões globalizados. Depois, este “cidadão” será substituído por alguém mais jovem, mais proativo, mais “moderno”.

E assim caminha a humanidade, movida por consumismo, narcisismo, egoísmo e individualismo.

Se um mundo melhor fosse possível, a verdadeira função da escola não seria apenas formar “profissionais para o mercado”, mas formar pessoas. Isso só se faz com cultura, humanismo, com a valorização do que é realmente importante: Ensinar a grande literatura, a ciência, a filosofia, a história, as matemáticas. Fazer com que as novas gerações preservem a herança positiva da humanidade, em vez de perpetuar uma cultura egoísta, narcisista e vazia.

*Nelson José de Camargo é Bacharel em Jornalismo e Filosofia