quarta-feira, junho 19, 2013

Os protestos são justos?

Por Nelson José de Camargo*

As grandes cidades brasileiras têm sido agitadas nas últimas semanas por protestos contra o reajuste nas tarifas de transporte coletivo. As manifestações começaram em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas já se espalharam por todo o país e alcançaram repercussão internacional.

Todo movimento que leva parcelas da população ás ruas é político, e não há nenhum problema nisso. Fazer política não se resume a votar em alguém, que geralmente nem conhecemos, entre as opções que nos são apresentadas pelos partidos. Política é algo muito mais complexo, é exercer os direitos e cumprir os direitos de cidadão.

Qualquer ocupante de cargo público, de qualquer um dos três poderes – executivo, legislativo ou judiciário − e de qualquer nível – municipal, estadual ou federal – pode e deve ser cobrado e fiscalizado pela população.

A população tem todo o direito de protestar quando percebe que seus direitos não estão sendo respeitados, e quando o Estado não cumpre suas atribuições.

Já houve momentos na história em que a população saiu às ruas para protestar contra regimes autoritários; para exigir o direito de escolher os seus representantes; e para exigir ética e honestidade na política.

Hoje em dia, um dos principais instrumentos de reivindicação política são os movimentos sociais. Foram os movimentos dos trabalhadores que asseguraram direitos e garantias como salário mínimo, jornada de trabalho compatível com a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores, melhores salários, previdência social, entre outras conquistas.
O colapso do comunismo representou o fim de uma utopia: a eliminação de uma sociedade baseada no lucro, na “exploração do homem pelo homem”; já nos anos 1940, em um mundo recém-saído da Segunda Guerra, Horkheimer e Adorno já diagnosticavam o bloqueio das possibilidades de emancipação da classe trabalhadora, neutralizadas por um capitalismo tardio que garantiu certo nível de bem-estar social e assegurou o surgimento da classe média, que é o segmento majoritário nos países capitalistas desenvolvidos e emergentes.

A sociedade sem classes não é viável, e os regimes que tentaram implantá-la foram execráveis ditaduras. Isso não significa, porém, que a história acabou, e o mundo chegou a um “absoluto”, no sentido hegeliano do termo, uma condição que representaria o ápice da evolução da sociedade humana. Longe disso.

No mundo de hoje, os movimentos emancipatórios estão a cargo sobretudo de segmentos organizados da sociedade, que se reúnem para lutar por seus direitos: minorias étnicas e religiosas, ambientalistas, estudantes e outros grupos são os verdadeiros promotores das mudanças.

No entanto, dado o caráter heterogêneo dos movimentos sociais, e a facilidade de comunicação decorrente dos avanços da informática, é muito difícil controlar as consequências das ações desses grupos. Uma reinvindicação legítima pode se transformar em manobra de grupos políticos com interesses muito diversos.

É o caso do atual movimento de protesto contra o reajuste das passagens. Embora muitos de seus membros sejam apartidários, é inegável que há grupos políticos se aproveitando da repercussão das manifestações para promover suas estratégias e mobilizar a militância. Esses grupos políticos incluem tanto micropartidos radicais de extrema esquerda como grupos conservadores, que querem direcionar os protestos contra o atual governo federal. Afinal, no ano que vem teremos eleições.

Quando uma revista editada por uma empresa que faz oposição radical e sistemática ao atual governo apoia os protestos, é sinal de que há algo mais por trás deles; quando um partido político outrora tido como ”de esquerda”, mas que hoje se alia com as forças mais reacionárias do país, e aproveita o calor da situação para fazer propaganda apelativa, é um sinal claro de que está havendo manipulação das manifestações populares.

Nenhum movimento social que defende propostas totalitárias e que não aceita o diálogo é legítimo; querer calar à força quem discorda de seus slogans sessentistas não é lutar pela emancipação, mas adotar uma atitude fascista. Depredar patrimônio público e privado, saquear estabelecimentos comerciais, intimidar a imprensa não são atitudes democráticas.

Um movimento não é o detentor da razão porque é composto de jovens. A juventude não é e nunca será “dona da verdade”. O nazismo foi apoiado pela juventude alemã; os jovens chineses saíram às ruas para perseguir quem não se enquadrava nos dogmas da “revolução cultural” de Mao Tsé-tung.

Tão legítimo como protestar é poder criticar as palavras de ordem e as atitudes dos “protestantes”; e é isso que este artigo pretende ser: os protestos contra os reajustes das tarifas de transporte coletivo são injustos, pois os reajustes foram abaixo da inflação; são autoritários, pois não respeitam o outro lado, as vozes discordantes; são fascistas, pois pretendem impor a ferro e a fogo utopias, ideias inviáveis, dogmas há muito abolidos em outras partes do mundo.

Eu protesto contra os protestos! 

*Nelson José de Camargo é graduado em filosofia e jornalismo





2 comentários:

Paulo Cesar Breim (PCB) disse...

Concordo 100%.
Sou totalmente contra esses movimentos.
Ninguém tem o direito de fechar uma avenida se julgando no direito de fazê-lo, mesmo que não tenha vandalismo.
Se eu quiser passar com meu carro na rua tenho todo direito de fazer.
Se não estão satisfeitos que se organizem em partidos e discutem eleições.

Basta ver que os países mais evoluidos do mundo nunca tiveram essa bagunça de protestos nas ruas.

Esse povo que vai nas ruas é tão ignorante, que não percebe que está fazendo parte de manipulação de massas.

Nelson disse...

Que bom saber que não sou uma voz isolada!