Por Nelson José de Camargo*
Esta é uma questão que vêm ocupando a mente de cientistas, filósofos e de muitas pessoas desde os primórdios da raça humana.
Para Aristóteles, são características dos seres vivos: nutrição, sensação e, em alguns deles, a intelecção. Essas características são decorrentes da presença da alma (yuchz), exclusiva dos seres vivos.
A nutrição seria a característica fundamental a todos os seres vivos, uma vez que até as plantas a possuem. Os animais, além da nutrição, possuem a sensação, caracterizada pela presença dos órgãos dos sentidos, responsáveis pelas percepções de tato, paladar, olfato, audição e visão. Desses sentidos, o tato é comum a todos os animais. Um animal pode ter ou não visão e audição, mas tem necessariamente tato.
Portanto, segundo Aristóteles, a alma poderia ser dividida em três partes: nutritiva (comum a todos os seres vivos), sensitiva (presente nos animais e no homem) e intelectiva (característica dos animais capazes de raciocinar, como o homem). Essa estrutura é hierárquica: um ser vivo que tem intelecção tem necessariamente sensação e nutrição, mas não o contrário.
Ainda de acordo com Aristóteles, todos os seres vivos se alimentam e se reproduzem. Portanto, poderíamos considerar vivo qualquer ser capaz de crescer e de reproduzir.
No entanto, o fogo “cresce” e pode ser “reproduzido” por reações químicas. As estruturas cristalinas crescem, mantendo uma estrutura ordenada, e “se reproduzem”. Seriam dotados de algum tipo de “alma” no sentido aristotélico?
Definições de vida
Na década de 1970, Carl Sagan catalogou definições fisiológicas, metabólicas, bioquímicas e termodinâmicas da vida. Todas elas, porém, apresentam dificuldades para excluir fenômenos como o fogo e a cristalização.
Poderíamos dizer que a vida “é a atividade de processos persistentes de assistência mútua”. Esses “processos persistentes” seriam a reprodução, o metabolismo, a presença de células e a evolução.
Mas se a presença de células é pré-requisito para a vida, excluímos os vírus; a evolução e a reprodução excluiriam seres híbridos e/ou estéreis, como as mulas.
Para definir com precisão o que é a vida, precisaríamos de uma teoria científica. A água, por exemplo, é uma molécula formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Esta é uma definição abrangente e universal, pois não se baseia em critérios subjetivos, como “líquido insípido, incolor e inodoro”. Seria possível elaborar uma definição abrangente e universal do que seja a vida, e que ao mesmo tempo resista a todos os contraexemplos? Esta parece ser uma tarefa antes filosófica que propriamente científica.
A vida como a conhecemos usa direta ou indiretamente a energia da luz solar para existir. Logo, a vida só seria possível em planetas que orbitassem estrelas dentro de uma determinada zona de habitabilidade; nem muito próximos da estrela (calor excessivo), nem muito distantes (frio extremo). Além disso, dentro das galáxias há zonas mais propícias e menos propícias ao aparecimento da vida. Nas regiões centrais de galáxias, por exemplo, há um grande número de supernovas, cujas explosões poderiam destruir formas de vida em planetas próximos. Em zonas muito distantes dos centros, há pouca presença de elementos químicos pesados, como o carbono, essenciais para a formação de vida.
Mas será que não poderíamos imaginar formas de vida que aproveitam energia eletromagnética, cinética ou gravitacional? Tipos muito diversos de vida poderiam florescer em ambientes que seriam inóspitos ou inabitáveis pelas formas de vida que conhecemos na Terra.
Do ponto de vista meramente estatístico, a vida pode ser um evento relativamente banal no Universo. O filósofo pré-socrático Metrodorus de Chios (sec. IV a. C.) considerava “antinatural” a hipótese de existir somente um mundo habitado no universo infinito. Para Huygens, “planetas vazios, desprovidos de criaturas vivas que possam falar do modo mais eloquente de seu Arquiteto Divino são algo sem sentido, um despropósito”.
Assim, se a vida pode ser um fenômeno abundante no Universo, por outro lado é bastante remota a possibilidade de contato com civilizações extraterrestres, pois as distâncias entre os corpos celestes inviabilizam a possibilidade de comunicação. A estrela mais próxima da terra depois do Sol, Proxima Centauri, fica a 4,3 anos-luz. Isso significa que, se fosse possível viajar à velocidade da luz (300 mil quilômetros por segundo), levaríamos mais de quatro anos para chegar até lá. E considerando as leis da Física e a teoria da relatividade de Einstein, é impossível acelerar um corpo a uma velocidade sequer próxima à da luz, pois para tanto seria necessária uma quantidade infinita de energia. Apenas partículas sem massa, como os fótons, podem atingir tais velocidades.
A solução para longuíssimas viagens interplanetárias seria a construção de “pequenos planetas autossustentáveis”, enormes naves que poderiam viajar por milhares (ou milhões!) de anos pelo espaço, dentro das quais gerações de seres humanos se sucederiam até encontrar um mundo habitável. Ou então criar uma forma de “teletransporte”, desintegrando a matéria e integrando-a novamente no destino, algo só visto em filmes de ficção científica.
Ou seja, provavelmente nunca saberemos com certeza se estamos ou não sozinhos...
*Nelson José de Camargo é Bacharel em Filosofia - USP
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