sábado, abril 02, 2011

Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire

Por Helena Novais*

É sempre emocionante quando encontramos um escritor que traduz tudo o que acreditamos e suas palavras entram em sintonia com nosso próprio coração. Este, para mim, é o caso de Paulo Freire e seu “Pedagogia do Oprimido”. Esta, sim, é a verdadeira revolução dos fortes de espírito! Freire diz:

“Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos. E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscarem recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, MAS RESTAURADORES DA HUMANIDADE EM AMBOS. E aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – LIBERTAR-SE A SI E AOS OPRESSORES. Estes, que oprimem, exploram e violentam, em razão de seu poder, não podem ter, neste poder, a força de libertação dos oprimidos nem de si mesmos. Só o poder que nasça da debilidade dos oprimidos será suficientemente forte para libertar a ambos. Por isto é o poder dos opressores, quando se pretende amenizar ante a debilidade dos oprimidos, não apenas quase sempre se expressa em falsa genenosidade, como jamais a ultrapassa. Os opressores, falsamente generosos, têm necessidade, para que a sua “generosidade” continue tendo oportunidade de realizar-se, da permanência da injustiça. A ‘ORDEM’ SOCIAL INJUSTA É A FONTE GERADORA, permanente, desta ‘generosidade’ que se nutre da morte, do desalento e da miséria.

Dái o desespero desta ‘generosidade’ diante de qualquer ameaça, embora tênue, à sua fonte. Não pode jamais entender esta ‘generosidade’ que a verdadeira generosidade está em LUTAR PARA QUE DESAPAREÇAM AS RAZÕES QUE ALIMENTAM O FALSO AMOR. A falsa caridade, da qual decorre a mão estendida do ‘demitido da vida, medroso e inseguro, esmagado e vencido. Mão estendida e trêmula dos esfarrapados do mundo, dos ‘condenados da terra’.
(...) Quem melhor que os oprimidos (...) para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis da sua busca, pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. (...) Luta que, pela finalidade que lhe deram os oprimidos, será UM ATO DE AMOR, COM O QUAL SE OPORÃO AO DESAMOR CONTIDO NA VIOLÊNCIA DOS OPRESSORES, até mesmo quando esta se revista da falsa generosidade referida.
(...) O grande problema está em como poderão os oprimidos, que ‘hospedam’ o opressor em si, participar da elaboração, como seres duplos, inautênticos, da pedagogia de sua libertação. Somente na medida em que se descubram ‘hospedeiros do opressor poderão contribuir para o partejamento de sua pedagogia libertadora. Enquanto vivam a dualidade na qual ser é parecer e parecer é parecer com o opressor, é impossível fazê-lo. (...) Quase sempre, num primeiro momento deste descobrimento, os oprimidos, em vez de buscar a libertação na luta e por ela, TENDEM A SER OPRESSORES TAMBÉM OU SUBOPRESSORES. A estrutura de seu pensar se encontra condicionada pela contradição vivida na situação concreta, existencial, em que se ‘formam’. (...) Daí esta quase aberração: um dos pólos da contradição pretendendo não a libertação, MAS A IDENTIFICAÇÃO COM SEU CONTRÁRIO”.

Em outras palavras, o oprimido que se rebela contra o opressor tende a transformar-se naquilo que condena, num opressor. E Freire completa, falando sobre a visão do oprimido que se rebela: “A sua visão do homem novo é uma visão individualista. A sua aderência ao opressor não lhes possibilita a consciência de si como pessoas, nem a consciência da classe oprimida. (...) Desta forma, por exemplo, querem a reforma agrária, não para se libertarem, mas para passarem a ter terra e, com esta, TORNAR-SE PROPRIETÁRIO OU, MAIS PRECISAMENTE, PATRÕES DE NOVOS EMPREGADOS”. Assim, não há superação de uma situação pela anulação dos motivos que levam à injustiça, mas apenas uma inversão de papéis.

As palavras de Paulo Freira lembram o que me disse, certa vez, um colega de Internet: o comportamento de todas as pessoas correspondem a um padrão, sendo muito raros os visionários que criam novos padrões. Freire propõe a criação de uma nova realidade a partir da CONSCIENTIZAÇÃO dos oprimidos para a visão abrangente de sua situação e necessidade de transformação não pela repetição infindável das práticas dos opressores e sim por sua superação através do reconhecimento do outro, da prática da solidariedade que transcendente e do amor incondicional.

Fonte bibliográfica
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.

*Helena Novais é graduada Filosofia
Texto originalmente publicado no blog: <http://the-mirror-conspiracy.blogspot.com/>

Nenhum comentário: