domingo, maio 15, 2011

Libertinagem Feminina em Onfray


Por Helena Novais*

Uma amiga que passou por aqui, se disse surpresa com a minha adesão à proposta de uma libertinagem feminina feita pelo filósofo francês Michel Onfray, sendo eu tão “comportada”. De imediato me lembrei de alguém que na ocasião de minha visita à Escola Florestan Fernandes, disse ter eu “jeito de Irmã ”, ou seja, me confundiu com uma freira.

Bom registrar que não sou nem uma coisa nem outra, nem freira e nem libertina (rs). Apenas faço o possível para ser boa estudante, futura filósofa produtiva e atuante (e isso não depende apenas de terminar o curso), ser humano feliz e em constante evolução.

Considero o ponto de vista do Onfray, um feminino libertino, como objeto de reflexão filosófica. Estou longe de acreditar que “libertinagem” seja garantia de felicidade ou que seja estado ideal do feminino. Acredito, sim, que a máxima “conhece a ti mesmo” é uma boa orientadora do comportamento pessoal, que deve se reger de acordo com características individuais.
Antes de pensar a proposta de Onfray é necessário pensar o que é o feminino. Caberia uma genealogia do termo? Certamente. Até que ponto o feminino é uma construção histórica e até que ponto é uma livre adesão me parece impossível determinar, mas uma genealogia ajudaria a esclarecer muita coisa e colocar muito em seu devido lugar.

Na revista Cult do mês passado (ou é deste mês? nº 156), página 65, foi publicada uma declaração da Marcia Tiburi, que a meu ver, resume muito bem a questão: “Na cultura masculinista, ‘mulher’ não é um conceito, mas uma ideia formada de preconceito. (...) a pergunta ‘o que quer uma mulher?’ não ajuda a sair do mistificatório circuito masculinista que, ao tornar misterioso o desejo feminino, faz parecer que existe um desejo universal da ‘mulher’ (ela mesma um universal), e não desejos individuais e singulares de cada pessoa humana”.

A proposta do Onfray não está livre de ser ‘masculinista’. Sua ideia de um feminino “domjuanesco” denuncia um machismo difuso que se levado a sério tende a resultar em estereótipo. Mas também o Onfray defende o individualismo... Pessoalmente, me atrai mais pensar o “feminino” em uma dimensão individual, em sua condições e possibilidades e principalmente nas condições e possibilidades da cultivo de relações felizes, libertas de preconceitos, de condicionamentos, de contratos e de meras convenções que não sejam aquelas livremente discutidas e estabelecidas entre seres devotados uns aos outros.

*Helena Novais é graduada em Filosofia
Texto originalmente publicado no blog: http://helena-novais.blogspot.com

Um comentário:

Nelson disse...

Onfray pode ser "masculinista"; Nietzsche era declaradamente machista; mas nada impede que as mulheres façam boa filosofia, na academia ou fora dela. E convido a todas as que têm ideias a se expressarem livremente, sem medo de quaisquer "ismos"...