segunda-feira, março 07, 2011

Para filosofar, uma paráfrase do Zaratustra

Por Nelson José de Camargo*

Zaratustra foi sozinho a Universidade. Quando lá chegou, postou-se diante dele um jovem, que havia abandonado a casa de papai e mamãe, para iniciar a construção do socialismo científico. Assim falou o jovem a Zaratustra:

"Este andarilho não é estranho para mim. Há algum tempo passou por aqui. Ele se chamava Zaratustra, mas estava perdido."

"Naquela ocasião tu trazias teus livros para o campus: ainda queres levar tua sabedoria para os jovens? Não temes o nosso ardor revolucionário?"

"Sim, reconheço Zaratustra. Seus olhos são puros, e sua boca não mostra sinais de náusea. Não vem aqui como um dançarino?"

"Zaratustra está mudado, parece uma criança, mas já é adulto. O que queres tu entre os revolucionários?"

"No mar vivias tu na solidão, e o mar engoliu-te. Agora queres a terra firme? Estás disposto a sacrificar-te novamente?"

Zaratustra respondeu: "amo a humanidade."

"Por quê", respondeu o jovem, "vim para a universidade? Não é porque amava demais a humanidade?"

"Mas agora amo o socialismo. A sociedade burguesa é algo que me incomoda. O amor a sociedade burguesa poderia me destruir."

"Mas eu falo de amor", respondeu Zaratustra. "Trago um presente para a sociedade".

"Nada dês aos burgueses. Em vez disso, toma algo deles. Não tomam eles o que pertence aos proletários? O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O socialismo é o contrário."

"Se quiseres dar alguma coisa a eles, nada dês além de uma esmola. Pois é isso que os capitalistas dão ao proletariado, ao explorar a mais-valia: nada mais que uma esmola. Basta! É chegada a hora! Todo o poder para a classe operária!

"Não sou pobre o suficiente para dar esmolas", respondeu Zaratustra.

O jovem riu. "Tu és incrédulo! Ainda não tens ciência do estágio final e inexorável da humanidade, que é a sociedade sem classes. Nada sabes do materialismo histórico e dialético!"

"A burguesia nos teme" Sabe que somos a vanguarda revolucionária que vai implantar a ditadura do proletariado. Por isso abandonei meu lar burguês. Aqui, na universidade, estou entre iguais, meus companheiros da causa operária. A vitória será nossa!"

"E o que fazes aqui na universidade, caro jovem?", perguntou Zaratustra.

"Aqui lemos Marx, Engels, Lênin e nos preparamos para a revolução. Nossa tarefa é conquistar corações e mentes para nossa causa. Proletários de todo o mundo, uni-vos!

E tu, companheiro? Que fazes aqui? Una-te a nossa luta! Estou certo de que tens muito a nos dar!"

Quando Zaratustra ouviu essas palavras, cumprimentou o jovem e disse: "O que teria eu a dar? Deixa-me ir embora depressa, para que eu não tome aquilo que ainda tens!"

E assim se separaram o jovem e Zaratustra, rindo como duas crianças.

Quando Zaratustra achou-se sozinho, falou com seu coração: Mas será possível? Esses jovens ainda não ouviram em sua universidade que Marx já morreu?

*Nelson José de Camargo é Bacharel em Filosofia

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