Por Rodrigo Tumolo*
Clique aqui para ouvir
Pretendo apresentar nesta exposição a obra “Sobre a brevidade da vida” do filósofo estoico Sêneca: explorar a partir dela o tema da finitude da vida, o que essas reflexões podem ajudar no viver e qual a relação da filosofia implicada nisso. Ao mesmo tempo, espero fazer uma defesa de Sêneca como filósofo, afastando sua má-interpretação como escritor de “autoajuda”.
Primeiramente, creio ser oportuno começar respondendo à pergunta: quem foi Sêneca. Lúcio Aneu Sêneca foi não só um importante filósofo romano como também foi um rico escritor de tragédias e influente político no Império Romano. Sêneca não é romano de sangue e sim um espanhol da região de Córdoba que tinha a cidadania romana, pois seu pai era um cavaleiro muito rico da região e simpático ao Império Romano. Desde muito jovem tomou contato com a filosofia a ponto de ser convertido a ela: seu pai, ao matriculá-lo com os melhores oradores de Roma, esperava formar um retórico para uma brilhante carreira política, mas Sêneca saiu-se um filósofo. É preciso explicar que Roma ocupava o lugar que Atenas ocupara séculos antes: de centro cultural e político do mundo, palco dos grandes debates e para onde convergiam os sábios da época — sábios que, em sua maioria, falavam grego! De fato, Roma foi a grande difusora do helenismo na Antiguidade: toda pessoa de origem nobre falava não apenas o latim, mas sabia expressar-se fluentemente em grego. Sêneca teve aulas com Atalo, um mestre grego estoico que o converteu para a filosofia.
Ora, já duas vezes usei o termo “conversão” para me referir à filosofia e não
foi
à toa: Paul Veyne, em seu livro “Séneca y el estoicismo”, segue na direção que
as filosofias antigas eram como seitas. Acompanhando sua exposição, os
filósofos em Roma formavam uma espécie de “clero laico” e, diante da permissão
pública de adoração dos imperadores mortos e a autoproclamação de Calígula como
deus, não é difícil concluir que os filósofos formavam a oposição dentro do
Senado.