Por João Carlos Ruzza*
Clique aqui para ouvir
Muito já se tentou no sentido de formular uma definição do que seria a filosofia ou, mais precisamente, o pensamento filosófico. O que parece permanecer após todas estas tentativas são algumas características que, se não o definem ao menos justificam a sua relevância para o conhecimento humano. Reflexão, crítica, formulação de novos conceitos para nos referirmos a fenômenos já existentes, relações antes ignoradas entre as coisas, desnaturalização de “lugares comuns” e, como efeito colateral desejável, o abandono da pretensão de que seria possível abarcar todo o conhecimento numa só visada e definitivamente.
Vilém Flusser[1] participa desta tradição de modo muito peculiar e de importância ainda a ser reconhecida. O pensamento Flusseriano dá a impressão de ser registrado no mesmo momento em que é concebido ou, mais radicalmente, parece confirmar aquilo que intuímos quando afirmamos que algumas coisas só se realizam no ato de serem verbalizadas. Trata-se de pensamento vivo debruçado sobre o devir das coisas e, portanto, em constante transformação. Pensamento experimental, complexo e de certo modo, dialógico no sentido que dá Morin[2] a este termo.
Exemplo representativo de tal pensamento pode ser encontrado em seu texto “Arte de retaguarda” (FLUSSER, 1972)[3]. Trata-se de uma análise fenomenológica do gesto artístico que parece ter como objetivo principal a “desmagicalização dos nossos conceitos em arte”. No entanto, como é comum em seu pensamento, o tema principal serve como base de lançamento para vôos bem maiores, subterfúgio para uma reflexão sempre mais ampla e que acaba sempre por ampliar-se ainda mais para temas recorrentes que lhe são caros.
sábado, novembro 24, 2012
Fenomenologia do gesto artístico
Marcadores:
arte,
fenomenologia
sexta-feira, novembro 09, 2012
Manifestações culturais e civilização
Por Nelson José de Camargo*
As manifestações culturais refletem o grau de civilização de um povo.
Alguns povos da Antiguidade são lembrados até hoje pelas contribuições que deram à arte e a cultura. Os egípcios, por exemplo, construíram as pirâmides, notáveis exemplos de obras de engenharia.
Os fenícios, notáveis navegadores e comerciantes, inventaram o alfabeto fonético, que é a base de todas as línguas ocidentais.
Na Grécia antiga, surgiram narrativas a Ilíada e a Odisseia, que estabeleceram os padrões do que viria a ser a literatura ocidental. Pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles, ao refletir de forma racional sobre as grandes questões da humanidade, criaram a Filosofia. Tales, Pitágoras, Arquimedes Eratóstenes e Euclides estabeleceram os princípios da Matemática, a “rainha das ciências”.
A civilização romana espalhou o legado grego para a maior parte do ocidente e estabeleceu os fundamentos do Direito, que até hoje norteiam as leis na maioria das nações.
Depois da longa noite da Idade Média, os valores culturais e artísticos greco-romanos inspiraram o renascimento, que revelou ao mundo gênios como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Caravagggio e muitos outros. Na literatura, surgiram Dante, Cervantes, Shakespeare.
A Ciência livrou-se dos dogmas e o método científico, aperfeiçoado por Descartes, Galileu e Newton, mudou a concepção de mundo e de Universo. O Iluminismo apareceu no século XVIII para derrubar o poder dos reis e estabelecer as bases das modernas democracias. Na música, Bach, Haydn, Mozart e Beethoven refletiram o espírito dessa época, de mudança da sociedade aristocrática para a burguesa, e foram os maiores nomes do que viria a ser a música clássica, ou música de invenção.
As manifestações culturais refletem o grau de civilização de um povo.
Alguns povos da Antiguidade são lembrados até hoje pelas contribuições que deram à arte e a cultura. Os egípcios, por exemplo, construíram as pirâmides, notáveis exemplos de obras de engenharia.
Os fenícios, notáveis navegadores e comerciantes, inventaram o alfabeto fonético, que é a base de todas as línguas ocidentais.
Na Grécia antiga, surgiram narrativas a Ilíada e a Odisseia, que estabeleceram os padrões do que viria a ser a literatura ocidental. Pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles, ao refletir de forma racional sobre as grandes questões da humanidade, criaram a Filosofia. Tales, Pitágoras, Arquimedes Eratóstenes e Euclides estabeleceram os princípios da Matemática, a “rainha das ciências”.
A civilização romana espalhou o legado grego para a maior parte do ocidente e estabeleceu os fundamentos do Direito, que até hoje norteiam as leis na maioria das nações.
Depois da longa noite da Idade Média, os valores culturais e artísticos greco-romanos inspiraram o renascimento, que revelou ao mundo gênios como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Caravagggio e muitos outros. Na literatura, surgiram Dante, Cervantes, Shakespeare.
A Ciência livrou-se dos dogmas e o método científico, aperfeiçoado por Descartes, Galileu e Newton, mudou a concepção de mundo e de Universo. O Iluminismo apareceu no século XVIII para derrubar o poder dos reis e estabelecer as bases das modernas democracias. Na música, Bach, Haydn, Mozart e Beethoven refletiram o espírito dessa época, de mudança da sociedade aristocrática para a burguesa, e foram os maiores nomes do que viria a ser a música clássica, ou música de invenção.
Marcadores:
industria cultural
sexta-feira, outubro 19, 2012
A “estética do consolo” como atributo de poder
Por Hailton Santos
Os novos tempos de Brasil culminam em uma sociedade desprestigiada, sem valores éticos e/ou motivação para o trabalho justo.
Num período multipolar no qual não faz mais sentido falar em verdade absoluta, mas em verdades questionáveis, há quem ainda postule e defenda uma única verdade. Nesse sentido, se você não pensa comigo está contra mim, logo é meu inimigo. É este, destarte, o sentimento de uma parcela da esquerda brasileira.
A “quadrilha do mensalão”, como assim classificou Joaquim Barbosa (ministro relator do processo), representa o desdobramento de um projeto de manutenção de poder patrocinado por forças de esquerda que tentam imprimir (a qualquer custo) sua ideologia em detrimento das demais. A historiografia nos diz que o poder que se faz pela força não se sustenta. E nesse sentido, a esquerda retrógrada de hoje não aprendeu com os erros praticados pelos jacobinos da revolução francesa (1789). Sem experiências democráticas, os radicais insistiram em restaurar regimes ultrapassados como parâmetros de uma República popular. Para tanto, era preciso impor um regime autoritário que fizesse valer a ideologia dominante. Daí o fracasso dos revolucionários ao tentar impor a vontade de um grupo em detrimento da liberdade de um povo.
Nesse sentido, o partido que patrocinou o “mensalão” segue os mesmos preceitos. Reprime a liberdade de expressão do congresso pela compra de apoio e, concomitantemente, do cidadão comum, já que o parlamentar é o legítimo representante do povo.
Num período multipolar no qual não faz mais sentido falar em verdade absoluta, mas em verdades questionáveis, há quem ainda postule e defenda uma única verdade. Nesse sentido, se você não pensa comigo está contra mim, logo é meu inimigo. É este, destarte, o sentimento de uma parcela da esquerda brasileira.
A “quadrilha do mensalão”, como assim classificou Joaquim Barbosa (ministro relator do processo), representa o desdobramento de um projeto de manutenção de poder patrocinado por forças de esquerda que tentam imprimir (a qualquer custo) sua ideologia em detrimento das demais. A historiografia nos diz que o poder que se faz pela força não se sustenta. E nesse sentido, a esquerda retrógrada de hoje não aprendeu com os erros praticados pelos jacobinos da revolução francesa (1789). Sem experiências democráticas, os radicais insistiram em restaurar regimes ultrapassados como parâmetros de uma República popular. Para tanto, era preciso impor um regime autoritário que fizesse valer a ideologia dominante. Daí o fracasso dos revolucionários ao tentar impor a vontade de um grupo em detrimento da liberdade de um povo.
Nesse sentido, o partido que patrocinou o “mensalão” segue os mesmos preceitos. Reprime a liberdade de expressão do congresso pela compra de apoio e, concomitantemente, do cidadão comum, já que o parlamentar é o legítimo representante do povo.
Filosofia se aprende na escola?
Por Nelson José de Camargo*
“Não se aprende Filosofia, mas a filosofar.”
Kant.
Nos últimos anos, houve no Brasil uma notável expansão do nível de matriculados no ensino superior, mas a qualidade da maioria dos cursos não é boa. O grande gargalo da educação brasileira continua sendo o ensino médio, que não forma profissionais de nível técnico para o mercado de trabalho, nem oferece formação científica para quem deseja cursar cursos superiores na área de exatas. Há uma grande carência de engenheiros no país. Nesse contexto disciplinas como Filosofia e Sociologia foram introduzidas no ensino médio.
Mas o que é realmente “filosofar”? Por que Aristóteles, Descartes, Kant, Nietzsche, Heidegger e outros nomes mais ou menos ilustres tornaram-se “filósofos”?
Os grandes pensadores, enquadrados ou não na categoria de “filósofos”, foram movidos pelas grandes questões do mundo e da vida. O que é justiça? O que é belo? O que é a verdade? Qual o sentido da vida? A inquietação provocada por essas e outras questões é que produziu as grandes obras do pensamento humano.
O problema é que a filosofia deixou de ser reflexão para se tornar meramente análise de texto. Não são mais as grandes questões que movem os “filósofos” de hoje, mas sim o estudo metódico de um pensador específico. Essa “especialização” tira o caráter questionador e reflexivo da Filosofia, que afinal é sua razão de ser. Hoje o que se verifica é que a maioria dos professores de Filosofia é “especialista” em algum pensador. Há “kantianos”, “nietzschianos”, “hegelianos”, etc. Isso é Filosofia? Se for, Platão foi “especialista” em quem? E Aristóteles? E Espinosa, Schiller, Rousseau, Hume...
Se isso ocorre no ensino superior, que Filosofia será ensinada aos jovens do ensino médio? Os cursos serão de mera análise de texto, num nível muito menos profundo do que se faz na academia, ou haverá espaço para a verdadeira reflexão filosófica? Provavelmente nem uma coisa, nem outra. A Filosofia no ensino médio acabará servindo para doutrinar os jovens com ideias de anteontem.
*Nelson José de Camargo é Jornalista e Bacharel em Filosofia
Nos últimos anos, houve no Brasil uma notável expansão do nível de matriculados no ensino superior, mas a qualidade da maioria dos cursos não é boa. O grande gargalo da educação brasileira continua sendo o ensino médio, que não forma profissionais de nível técnico para o mercado de trabalho, nem oferece formação científica para quem deseja cursar cursos superiores na área de exatas. Há uma grande carência de engenheiros no país. Nesse contexto disciplinas como Filosofia e Sociologia foram introduzidas no ensino médio.
Mas o que é realmente “filosofar”? Por que Aristóteles, Descartes, Kant, Nietzsche, Heidegger e outros nomes mais ou menos ilustres tornaram-se “filósofos”?
Os grandes pensadores, enquadrados ou não na categoria de “filósofos”, foram movidos pelas grandes questões do mundo e da vida. O que é justiça? O que é belo? O que é a verdade? Qual o sentido da vida? A inquietação provocada por essas e outras questões é que produziu as grandes obras do pensamento humano.
O problema é que a filosofia deixou de ser reflexão para se tornar meramente análise de texto. Não são mais as grandes questões que movem os “filósofos” de hoje, mas sim o estudo metódico de um pensador específico. Essa “especialização” tira o caráter questionador e reflexivo da Filosofia, que afinal é sua razão de ser. Hoje o que se verifica é que a maioria dos professores de Filosofia é “especialista” em algum pensador. Há “kantianos”, “nietzschianos”, “hegelianos”, etc. Isso é Filosofia? Se for, Platão foi “especialista” em quem? E Aristóteles? E Espinosa, Schiller, Rousseau, Hume...
Se isso ocorre no ensino superior, que Filosofia será ensinada aos jovens do ensino médio? Os cursos serão de mera análise de texto, num nível muito menos profundo do que se faz na academia, ou haverá espaço para a verdadeira reflexão filosófica? Provavelmente nem uma coisa, nem outra. A Filosofia no ensino médio acabará servindo para doutrinar os jovens com ideias de anteontem.
*Nelson José de Camargo é Jornalista e Bacharel em Filosofia
terça-feira, outubro 02, 2012
Por que religião e política não se misturam
Por Nelson José de Camargo*
Durante séculos, a religião serviu como instrumento de dominação. Ao chegar ao Novo Mundo, os colonizadores europeus impuseram sua língua, seus costumes e sua religião com o pretexto de “civilizar” os povos que encontraram no continente americano.
Uma das conquistas do Iluminismo, ou esclarecimento, foi a separação entre Estado e Igreja, o que ocorreu no final do século XVIII. Pelo menos foi assim na maior parte do Ocidente, ainda que a liberdade de opinião e expressão tenha sido cerceada ainda por muito tempo mesmo nos países ditos democráticos. Mas em muitos países, sobretudo no Oriente Médio, a separação entre Estado e Igreja não ocorreu. Não houve “iluminismo” no Islã.
Na maioria dos países democráticos, há liberdade de expressão e opinião mesmo para quem não mostra reverência a símbolos ou personagens religiosos. No Islã, simples caricaturas do profeta Maomé ou um filme amador supostamente ofensivo aos muçulmanos podem causar grande tumulto, algo impensável nas democracias ocidentais.
Mesmo no Ocidente, a separação entre Estado e Igreja não foi completa, contudo, e as instituições religiosas continuaram desfrutando de poder e influência por muito tempo.
Quando o Brasil tornou-se independente de Portugal, por exemplo, nossa primeira Constituição determinava que “A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo”.
Com a proclamação da República, o Brasil tornou-se um país laico, pelo menos oficialmente. Na prática, a religião católica continuou bastante influente. Um exemplo concreto é que o divórcio só foi instituído em nosso país em 1977, pois a Igreja Católica sempre se opôs (e ainda se opõe) à dissolução do casamento.
Durante séculos, a religião serviu como instrumento de dominação. Ao chegar ao Novo Mundo, os colonizadores europeus impuseram sua língua, seus costumes e sua religião com o pretexto de “civilizar” os povos que encontraram no continente americano.
Uma das conquistas do Iluminismo, ou esclarecimento, foi a separação entre Estado e Igreja, o que ocorreu no final do século XVIII. Pelo menos foi assim na maior parte do Ocidente, ainda que a liberdade de opinião e expressão tenha sido cerceada ainda por muito tempo mesmo nos países ditos democráticos. Mas em muitos países, sobretudo no Oriente Médio, a separação entre Estado e Igreja não ocorreu. Não houve “iluminismo” no Islã.
Na maioria dos países democráticos, há liberdade de expressão e opinião mesmo para quem não mostra reverência a símbolos ou personagens religiosos. No Islã, simples caricaturas do profeta Maomé ou um filme amador supostamente ofensivo aos muçulmanos podem causar grande tumulto, algo impensável nas democracias ocidentais.
Mesmo no Ocidente, a separação entre Estado e Igreja não foi completa, contudo, e as instituições religiosas continuaram desfrutando de poder e influência por muito tempo.
Quando o Brasil tornou-se independente de Portugal, por exemplo, nossa primeira Constituição determinava que “A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo”.
Com a proclamação da República, o Brasil tornou-se um país laico, pelo menos oficialmente. Na prática, a religião católica continuou bastante influente. Um exemplo concreto é que o divórcio só foi instituído em nosso país em 1977, pois a Igreja Católica sempre se opôs (e ainda se opõe) à dissolução do casamento.
sábado, setembro 15, 2012
O que é ser classe média?
Por Nelson José de Camargo*
Clique aqui para ouvir
Com o crescimento econômico e a melhoria das condições sociais verificadas nas últimas décadas no Brasil, fala-se muito na ascensão da “nova classe média”, ou “classe C”. Mas o que é ser classe média no Brasil?
Na verdade, trata-se de um conceito pouco definido. Quando, há alguns anos, foi noticiado o brutal assassinato dos pais de uma jovem universitária, crime que foi encomendado pela própria jovem, a família foi apresentada como sendo da “classe média” paulistana, embora vivesse em uma mansão em um bairro nobre.
Já uma pessoa que trabalha durante o dia e estuda em uma faculdade particular à noite também pode ser definida como de “classe média”, embora seus rendimentos não possam ser nem de longe comparados aos da família da jovem parricida.
No Brasil, ninguém se assume como “rico”, tampouco “de direita”. Vivemos em um país das maravilhas onde todas as pessoas bem-sucedidas são de “classe média” e de “centro-esquerda”.
O que é, então, a “classe média”? Trata-se, na verdade, da pequena-burguesia conservadora, defensora da “moral e dos bons costumes”, particularmente com a vida alheia (pois ser classe média é criticar os defeitos dos outros que ignora em si mesmo). Ser classe média é protestar contra a “corrupção do governo”, mas não ter nenhum pudor de recorrer ao “jeitinho” para obter benefícios pessoais. Ser classe média é ser contra o racismo, desde que os filhos não se casem com pessoas da “cor” ou “classe social” errada. Alguém da classe média é a favor da vida e totalmente contra o aborto, desde que a própria filha não fique grávida da pessoa errada na hora errada. É ser “ecológico” e sentir-se com a consciência limpa por usar uma sacola retornável nas compras no supermercado, mas “esquecer” que o esgoto da cada da praia (ou do campo) não é tratado. O indivíduo de “classe média” é adepto de todas as religiões, desde que isso não signifique a convivência com pessoas diferentes dele.
Um típico sujeito de classe média no Brasil não passa de um hipócrita.
*Nelson José de Camargo é Bacharel em filosofia e jornalista.
Clique aqui para ouvir
Com o crescimento econômico e a melhoria das condições sociais verificadas nas últimas décadas no Brasil, fala-se muito na ascensão da “nova classe média”, ou “classe C”. Mas o que é ser classe média no Brasil?
Na verdade, trata-se de um conceito pouco definido. Quando, há alguns anos, foi noticiado o brutal assassinato dos pais de uma jovem universitária, crime que foi encomendado pela própria jovem, a família foi apresentada como sendo da “classe média” paulistana, embora vivesse em uma mansão em um bairro nobre.
Já uma pessoa que trabalha durante o dia e estuda em uma faculdade particular à noite também pode ser definida como de “classe média”, embora seus rendimentos não possam ser nem de longe comparados aos da família da jovem parricida.
No Brasil, ninguém se assume como “rico”, tampouco “de direita”. Vivemos em um país das maravilhas onde todas as pessoas bem-sucedidas são de “classe média” e de “centro-esquerda”.
O que é, então, a “classe média”? Trata-se, na verdade, da pequena-burguesia conservadora, defensora da “moral e dos bons costumes”, particularmente com a vida alheia (pois ser classe média é criticar os defeitos dos outros que ignora em si mesmo). Ser classe média é protestar contra a “corrupção do governo”, mas não ter nenhum pudor de recorrer ao “jeitinho” para obter benefícios pessoais. Ser classe média é ser contra o racismo, desde que os filhos não se casem com pessoas da “cor” ou “classe social” errada. Alguém da classe média é a favor da vida e totalmente contra o aborto, desde que a própria filha não fique grávida da pessoa errada na hora errada. É ser “ecológico” e sentir-se com a consciência limpa por usar uma sacola retornável nas compras no supermercado, mas “esquecer” que o esgoto da cada da praia (ou do campo) não é tratado. O indivíduo de “classe média” é adepto de todas as religiões, desde que isso não signifique a convivência com pessoas diferentes dele.
Um típico sujeito de classe média no Brasil não passa de um hipócrita.
*Nelson José de Camargo é Bacharel em filosofia e jornalista.
Marcadores:
classe média,
politica
Liberdade, angústia e amor
Por Ana Lúcia Sorrentino*
Clique aqui para ouvir
Algum tempo antes, eu lera um artigo de Gustavo Gitti3 em que ele colocava em questão exatamente essa discrepância entre a abundância com que a vida nos acena e a pouca vida que vivemos de fato. O foco central do texto eram os relacionamentos e Gitti usava um tom encorajador, estimulando o leitor a ser mais proativo na tentativa de realizar os próprios desejos. Defendia que todos queremos as mesmas coisas – atenção, carinho, amor - e que, portanto, devíamos ser mais corajosos na exposição de nossos sentimentos, e, enfim, mais transparentes e afetuosos.
Essa questão era recorrente nas minhas reflexões e imediatamente me identifiquei com as ideias do autor. Naquele momento, eu vinha protelando uma necessária conversa com um amigo, por temer sua reação à minha autoexposição. O texto de Gitti foi como um pontapé no traseiro, e me fez superar meus receios e ser clara. O que resultou numa enorme frustração, porque meu amigo não estava habituado a lidar com a clareza e menos ainda com a liberdade. Assustou-se, e passamos por um período conturbado que, felizmente, foi superado.
Certa vez, assistindo a uma palestra de José Thomaz Brum1, impressionou-me a resposta do palestrante a um rapaz que lhe perguntou sobre o sentido da morte na obra de E. M. Cioran2. Disse Thomaz Brum que lhe parecia que quando Cioran falava sobre a morte não estava falando da morte tal qual a conhecemos, mas de tudo aquilo que não vivemos. Que logo que despontamos para a adolescência começamos a perceber o quanto a vida é rica em possibilidades, mas mesquinha em realizações. E que era a essa defasagem que Cioran provavelmente se referia.
Algum tempo antes, eu lera um artigo de Gustavo Gitti3 em que ele colocava em questão exatamente essa discrepância entre a abundância com que a vida nos acena e a pouca vida que vivemos de fato. O foco central do texto eram os relacionamentos e Gitti usava um tom encorajador, estimulando o leitor a ser mais proativo na tentativa de realizar os próprios desejos. Defendia que todos queremos as mesmas coisas – atenção, carinho, amor - e que, portanto, devíamos ser mais corajosos na exposição de nossos sentimentos, e, enfim, mais transparentes e afetuosos.
Essa questão era recorrente nas minhas reflexões e imediatamente me identifiquei com as ideias do autor. Naquele momento, eu vinha protelando uma necessária conversa com um amigo, por temer sua reação à minha autoexposição. O texto de Gitti foi como um pontapé no traseiro, e me fez superar meus receios e ser clara. O que resultou numa enorme frustração, porque meu amigo não estava habituado a lidar com a clareza e menos ainda com a liberdade. Assustou-se, e passamos por um período conturbado que, felizmente, foi superado.
sábado, agosto 25, 2012
À sombra do poder
Por Nelson José de Camargo*
Clique aqui para ouvir
Uma das maneiras de um grupo político se manter no poder é controlar os meios de comunicação. No passado, isso era feito principalmente de forma autoritária, com censura, perseguição e controle sobre a mídia.
Hoje em dia, vivemos em um país em que há liberdade de expressão e opinião. Mas nem sempre foi assim. Em períodos de arbítrio, a voz da imprensa livre foi muitas vezes calada. Alguns veículos da imprensa, porém, resistiram bravamente e desafiaram o autoritarismo.
Houve também as empresas de comunicação que preferiram contemporizar com o regime, seja por conveniência, seja por uma questão de sobrevivência.
Um caso particularmente delicado é o das emissoras de televisão. No Brasil, o serviço de televisão é uma concessão pública. Por isso, as emissoras têm menos liberdade para uma atuação realmente crítica e isenta em relação ao poder.
O exemplo mais emblemático é o da emissora líder de audiência no país. Com sede no Rio de Janeiro, a emissora prosperou no período mais negro da ditadura militar, sempre obtendo benesses do governo graças a sua posição de apoio, ainda que escamoteado, ao regime.
Clique aqui para ouvir
Uma das maneiras de um grupo político se manter no poder é controlar os meios de comunicação. No passado, isso era feito principalmente de forma autoritária, com censura, perseguição e controle sobre a mídia.
Hoje em dia, vivemos em um país em que há liberdade de expressão e opinião. Mas nem sempre foi assim. Em períodos de arbítrio, a voz da imprensa livre foi muitas vezes calada. Alguns veículos da imprensa, porém, resistiram bravamente e desafiaram o autoritarismo.
Houve também as empresas de comunicação que preferiram contemporizar com o regime, seja por conveniência, seja por uma questão de sobrevivência.
Um caso particularmente delicado é o das emissoras de televisão. No Brasil, o serviço de televisão é uma concessão pública. Por isso, as emissoras têm menos liberdade para uma atuação realmente crítica e isenta em relação ao poder.
O exemplo mais emblemático é o da emissora líder de audiência no país. Com sede no Rio de Janeiro, a emissora prosperou no período mais negro da ditadura militar, sempre obtendo benesses do governo graças a sua posição de apoio, ainda que escamoteado, ao regime.
sábado, agosto 18, 2012
Má Fé: A Fuga da Liberdade
Por João Carlos Ruzza*
Uma questão central, recorrente e que, de certo modo, permeia quase toda obra sartreana é sem dúvida o problema da liberdade X contingência. Se a mesma afirmação poderia também ser estendida a grande parte da filosofia como um todo, na obra de Sartre ela ganha caráter de fundamentação e também surge como foco de controvérsias, críticas e análises, as mais diversas.
O objetivo deste ensaio é, fechando ainda mais o foco sobre tal questão, abordar o conceito sartreano de “má-fé” e suas possíveis implicações em relação à concepção de liberdade na obra de Sartre sem, no entanto, a menor pretensão de esgotar o assunto e sempre levando em consideração o espaço relativo a este trabalho.
Sabemos da importância da frase “a existência precede a essência” para o existencialismo de Sartre. Seu exemplo do “corta papel” no texto “O existencialismo é um Humanismo”, de 1970, diferencia diametralmente nós, humanos, daquilo que seriam os objetos inanimados e criados a partir de projetos elaborados com objetivos específicos. Quer dizer, se em relação a um corta papel podemos apontar sem problemas a idéia e o intuito que o gerou, a nós humanos o mesmo não se aplicaria, não haveriam pré-projetos relacionados a nossa gênese como seres humanos. Seria, então, contrariar a idéia aristotélica de que o homem possui uma essência, que significaria que ele é pré-definido por uma lei absoluta, niversal e pré existencial, e que sua liberdade estaria restringida ao campo de possibilidades (potências) que esta essência lhe permitiria.
Assim, se à idéia de humano podemos, de algum modo aplicar a idéia de projeto, este seria um projeto aberto, não determinado, criado e direcionado por nós mesmos a partir de nosso agora, de um nada que seria a constituição inaugural daquilo a que chamamos de consciência.
Uma questão central, recorrente e que, de certo modo, permeia quase toda obra sartreana é sem dúvida o problema da liberdade X contingência. Se a mesma afirmação poderia também ser estendida a grande parte da filosofia como um todo, na obra de Sartre ela ganha caráter de fundamentação e também surge como foco de controvérsias, críticas e análises, as mais diversas.
O objetivo deste ensaio é, fechando ainda mais o foco sobre tal questão, abordar o conceito sartreano de “má-fé” e suas possíveis implicações em relação à concepção de liberdade na obra de Sartre sem, no entanto, a menor pretensão de esgotar o assunto e sempre levando em consideração o espaço relativo a este trabalho.
Sabemos da importância da frase “a existência precede a essência” para o existencialismo de Sartre. Seu exemplo do “corta papel” no texto “O existencialismo é um Humanismo”, de 1970, diferencia diametralmente nós, humanos, daquilo que seriam os objetos inanimados e criados a partir de projetos elaborados com objetivos específicos. Quer dizer, se em relação a um corta papel podemos apontar sem problemas a idéia e o intuito que o gerou, a nós humanos o mesmo não se aplicaria, não haveriam pré-projetos relacionados a nossa gênese como seres humanos. Seria, então, contrariar a idéia aristotélica de que o homem possui uma essência, que significaria que ele é pré-definido por uma lei absoluta, niversal e pré existencial, e que sua liberdade estaria restringida ao campo de possibilidades (potências) que esta essência lhe permitiria.
Assim, se à idéia de humano podemos, de algum modo aplicar a idéia de projeto, este seria um projeto aberto, não determinado, criado e direcionado por nós mesmos a partir de nosso agora, de um nada que seria a constituição inaugural daquilo a que chamamos de consciência.
quarta-feira, junho 13, 2012
Por que a televisão emburrece
Clique aqui para ouvir
A televisão brasileira é constantemente louvada como uma das mais criativas e dinâmicas do mundo. As telenovelas, principais atrações da emissora líder de audiência, são exportadas para diversos países. É verdade que hoje, embora ainda dominem a audiência no horário nobre, não detêm mais praticamente o monopólio da audiência, em virtude do crescimento da TV a cabo e da internet. A grande massa, porém, permanece sintonizada na “dramaturgia global”.
Isso significa que essa dramaturgia é de boa qualidade, pois consegue prender a atenção de parte significativa da população? Não, muito pelo contrário. Trata-se, na verdade, da imposição de um modelo emburrecedor e que pasteuriza a cultura nacional.
Isso significa que essa dramaturgia é de boa qualidade, pois consegue prender a atenção de parte significativa da população? Não, muito pelo contrário. Trata-se, na verdade, da imposição de um modelo emburrecedor e que pasteuriza a cultura nacional.
“O Aufklärung intelectual é um meio infalível para tornar os homens inseguros, com a vontade fraca, com desejo de ser conquistados e protegidos, em resumo, transformados em criaturas de rebanho”, como disse Nietzsche. E é exatamente o conjunto das “criaturas de rebanho” que prestigia os folhetins televisivos. As telenovelas “globais” não passam de subliteratura barata, repletas dos mais batidos clichês, que apelam cada vez mais para os mais sórdidos instintos.
Assiste-se a um desfilar de tipos caricatos, representados por grandes “atores e atrizes”, fluentes no carioquês pasteurizado, independentemente da origem de seus personagens. Esse tipo de lixo influencia a moda, os costumes, os bordões, a música e a cultura do país, até ser substituído pela próximo telelixo do horário, escrito pelo literato de araque de plantão.
Marcadores:
Cotidiano,
filosofia da linguagem,
industria cultural,
mídia
terça-feira, maio 29, 2012
Por que o jornalismo não é isento
Por Nelson José de Camargo*
Clique aqui para ouvir
Em mais um dos escândalos de corrupção divulgados pela mídia, um jornalista de uma revista semanal de informação foi acusado de cumplicidade com um contraventor. Em resposta, um geógrafo de bastante prestígio na mídia acusou o chefe de redação de outra revista de divulgar acusações falsas contra um profissional idôneo para desviar a atenção da CPI e protelar, quem sabe indefinidamente, o julgamento dos acusados. Segundo o geógrafo, este chefe de redação teria escrito editoriais elogiosos ao regime militar, citando até mesmo a fonte de onde os obteve.
Aqui está um exemplo típico de conflito de interesses entre dois grupos políticos. Um deles tem ligações com o principal partido de oposição, e o outro faz parte, ainda que indiretamente, do grupo que dá sustentação ao atual governo.
Isso é um problema brasileiro? Definitivamente não. A história da imprensa é semelhante em todos os países onde existe (relativa) liberdade de expressão. Qualquer veículo de comunicação tem como tarefa primordial, ainda que escamoteada,defender os interesses de grupos que os sustentam.
Clique aqui para ouvir
Aqui está um exemplo típico de conflito de interesses entre dois grupos políticos. Um deles tem ligações com o principal partido de oposição, e o outro faz parte, ainda que indiretamente, do grupo que dá sustentação ao atual governo.
Isso é um problema brasileiro? Definitivamente não. A história da imprensa é semelhante em todos os países onde existe (relativa) liberdade de expressão. Qualquer veículo de comunicação tem como tarefa primordial, ainda que escamoteada,defender os interesses de grupos que os sustentam.
domingo, abril 22, 2012
A corrupção na política: um problema brasileiro?
Por Nelson José de Camergo*
Clique aqui para ouvir
Clique aqui para ouvir
A corrupção está sempre presente no noticiário político: escândalos, denúncias, CPIs, operações espalhafatosas da polícia federal, tudo isso alimenta diariamente o noticiário. Mas nenhum escândalo de corrupção fica muito tempo no noticiário: logo aparece mais uma notícia escabrosa que coloca o escândalo anterior no esquecimento.
É da natureza humana procurar acumular mais poder e riqueza, e para isso algumas pessoas são capazes de tudo. Os fins justificam os meios, numa frase atribuída a Maquiavel, mas que na verdade nunca foi dita por ele.
Alguns políticos brasileiros alavancaram sua carreira política no assim chamado “combate à corrupção”. Jânio Quadros, candidato a presidente em 1960, tinha como mote de campanha a “vassoura” que iria “varrer a corrupção”. Eleito, ficou apenas oito meses no cargo, e renunciou em circunstâncias até hoje não explicadas.
Com uma imagem de “defensor da moral e dos bons costumes”, Jânio quadros teve gestões bastante polêmicas nos cargos executivos que ocupou: prefeito de São Paulo, governador do estado e presidente. E não faltaram acusações de enriquecimento ilícito e desvio de dinheiro público.
Outro político brasileiro que se destacou com um discurso de “combate a corrupção foi Fernando Collor de Mello. Membro de uma tradicional família da oligarquia nordestina, Collor iniciou sua trajetória política no PDS – partido que dava sustentação ao regime militar. Depois foi eleito governador de Alagoas pelo PMDB. Tornou-se conhecido nacionalmente como o “caçador de marajás”, pelas medidas que adotou para combater privilégios de funcionários públicos.
É da natureza humana procurar acumular mais poder e riqueza, e para isso algumas pessoas são capazes de tudo. Os fins justificam os meios, numa frase atribuída a Maquiavel, mas que na verdade nunca foi dita por ele.
Alguns políticos brasileiros alavancaram sua carreira política no assim chamado “combate à corrupção”. Jânio Quadros, candidato a presidente em 1960, tinha como mote de campanha a “vassoura” que iria “varrer a corrupção”. Eleito, ficou apenas oito meses no cargo, e renunciou em circunstâncias até hoje não explicadas.
Com uma imagem de “defensor da moral e dos bons costumes”, Jânio quadros teve gestões bastante polêmicas nos cargos executivos que ocupou: prefeito de São Paulo, governador do estado e presidente. E não faltaram acusações de enriquecimento ilícito e desvio de dinheiro público.
Outro político brasileiro que se destacou com um discurso de “combate a corrupção foi Fernando Collor de Mello. Membro de uma tradicional família da oligarquia nordestina, Collor iniciou sua trajetória política no PDS – partido que dava sustentação ao regime militar. Depois foi eleito governador de Alagoas pelo PMDB. Tornou-se conhecido nacionalmente como o “caçador de marajás”, pelas medidas que adotou para combater privilégios de funcionários públicos.
sábado, março 24, 2012
Filosofia e literatura
Por Nelson José de Camargo*
Filosofia e literatura têm diferenças e semelhanças. Ambas usam a linguagem para comunicar algo a alguém. Na Filosofia, o principal objetivo é expressar conceitos, ideias. Na literatura, existe a narrativa, isto é, o ato de contar uma história.
No entanto, a diferença entre uma obra literária e uma filosófica é mais sutil do que pode parecer à primeira vista. Os diálogos de Platão, por exemplo, poderiam muito bem ser enquadrados nas duas categorias – literatura e filosofia.
Ninguém dirá que Kant foi um literato – no sentido de que seu texto tem elegância e estilo dos grandes escritores – mas o que dizer de um Nietzsche? Poemas e aforismos, tão frequentemente empregados pelo autor do Zaratustra, são formas literárias.
Rousseau foi autor de um romance de sucesso na época: A bela Heloísa. Sartre tornou-se conhecido não apenas por sua filosofia, mas também pelos seus romances. E poucos escritores são tão filosóficos como Thomas Mann e Machado de Assis.
A Filosofia, como diz Wittgenstein, deve “tornar claros e delimitar precisamente os pensamentos, antes como que turvos e indistintos”[1]. Nem sempre a literatura é assim: basta ler autores obscuros como Joyce para comprovar.
Áudio deste post |
Filosofia e literatura têm diferenças e semelhanças. Ambas usam a linguagem para comunicar algo a alguém. Na Filosofia, o principal objetivo é expressar conceitos, ideias. Na literatura, existe a narrativa, isto é, o ato de contar uma história.
No entanto, a diferença entre uma obra literária e uma filosófica é mais sutil do que pode parecer à primeira vista. Os diálogos de Platão, por exemplo, poderiam muito bem ser enquadrados nas duas categorias – literatura e filosofia.
Ninguém dirá que Kant foi um literato – no sentido de que seu texto tem elegância e estilo dos grandes escritores – mas o que dizer de um Nietzsche? Poemas e aforismos, tão frequentemente empregados pelo autor do Zaratustra, são formas literárias.
Rousseau foi autor de um romance de sucesso na época: A bela Heloísa. Sartre tornou-se conhecido não apenas por sua filosofia, mas também pelos seus romances. E poucos escritores são tão filosóficos como Thomas Mann e Machado de Assis.
A Filosofia, como diz Wittgenstein, deve “tornar claros e delimitar precisamente os pensamentos, antes como que turvos e indistintos”[1]. Nem sempre a literatura é assim: basta ler autores obscuros como Joyce para comprovar.
Marcadores:
Filosofia,
literatura
domingo, março 18, 2012
Você e Deus
Por Ana Lucia Sorrentino*
Clique aqui para ouvir
Quem começa a se interessar por filosofia logo percebe que Deus e o Amor são temas recorrentes nos textos filosóficos.Em “Amor” André Comte Sponville, filósofo francês da atualidade, afirma ser esse assunto o mais interessante de todos. Contra os que não concordam com essa ideia, Comte argumenta que, mesmo que não estejamos falando de amor, estamos sempre falando do amor que temos por algo ou por alguém.
Assim como o Amor, Deus parece ser, senão o assunto mais interessante, um assunto quase sempre inevitável para os filósofos. Se ele não for o tema central da reflexão, acabará sendo a causa ou solução para quase tudo que não se consegue compreender ou assimilar.
Muitas vezes a motivação primeira dos questionamentos filosóficos é um profundo sofrimento por conta de imposições religiosas baseadas em ideias fantasiosas sobre Deus. E não é raro que, na busca pelas suas verdades, o filósofo acabe se enroscando em suas próprias teorias e termine apelando para Deus. Não é muito difícil entender o porquê disso.
Deus é uma daquelas verdades que encontramos prontas quando chegamos ao mundo. Recebemos essa ideia já elaborada e ao longo de toda a nossa vida, tentaremos entendê-la e estabelecer com ela a melhor forma possível de relacionamento.
Mal aprendemos a pronunciar “mamãe” e já estamos às voltas com “Papai do céu”. Crescemos convivendo o tempo todo com expressões como “Vai com Deus, Deus é mais, Deus te acompanhe, Deus te ajude, Deus te Guie... Deus castiga. Deus sabe o que faz. Deus escreve certo por linhas tortas. Graças a Deus... Meu Deus!” – Como é que poderíamos conceber com facilidade a ideia de um mundo sem um criador?Com todo respeito, e pedindo aos filósofos de carteirinha que me perdoem, eu acho fantástico imaginar que Descartes tenha se torrado os miolos pra concluir que, se havia nele uma ideia de Deus, era porque o próprio Deus havia colocado essa ideia nele. Por acaso Descartes vivia em algum universo paralelo, isolado de tudo e de todos?
Clique aqui para ouvir
Quem começa a se interessar por filosofia logo percebe que Deus e o Amor são temas recorrentes nos textos filosóficos.Em “Amor” André Comte Sponville, filósofo francês da atualidade, afirma ser esse assunto o mais interessante de todos. Contra os que não concordam com essa ideia, Comte argumenta que, mesmo que não estejamos falando de amor, estamos sempre falando do amor que temos por algo ou por alguém.
Assim como o Amor, Deus parece ser, senão o assunto mais interessante, um assunto quase sempre inevitável para os filósofos. Se ele não for o tema central da reflexão, acabará sendo a causa ou solução para quase tudo que não se consegue compreender ou assimilar.
Muitas vezes a motivação primeira dos questionamentos filosóficos é um profundo sofrimento por conta de imposições religiosas baseadas em ideias fantasiosas sobre Deus. E não é raro que, na busca pelas suas verdades, o filósofo acabe se enroscando em suas próprias teorias e termine apelando para Deus. Não é muito difícil entender o porquê disso.
Deus é uma daquelas verdades que encontramos prontas quando chegamos ao mundo. Recebemos essa ideia já elaborada e ao longo de toda a nossa vida, tentaremos entendê-la e estabelecer com ela a melhor forma possível de relacionamento.
Mal aprendemos a pronunciar “mamãe” e já estamos às voltas com “Papai do céu”. Crescemos convivendo o tempo todo com expressões como “Vai com Deus, Deus é mais, Deus te acompanhe, Deus te ajude, Deus te Guie... Deus castiga. Deus sabe o que faz. Deus escreve certo por linhas tortas. Graças a Deus... Meu Deus!” – Como é que poderíamos conceber com facilidade a ideia de um mundo sem um criador?Com todo respeito, e pedindo aos filósofos de carteirinha que me perdoem, eu acho fantástico imaginar que Descartes tenha se torrado os miolos pra concluir que, se havia nele uma ideia de Deus, era porque o próprio Deus havia colocado essa ideia nele. Por acaso Descartes vivia em algum universo paralelo, isolado de tudo e de todos?
domingo, março 11, 2012
Noção de Causalidade em Hume
Por José Hailton Santos
De acordo com Hume, todos os objetos da razão ou investigação humana podem ser naturalmente divididos em dois tipos: relações de ideias e questões de fato.[1] O primeiro reporta aos raciocínios demonstrativos (dedutivos) que podem ser descobertos pela simples operação do pensamento, independente da existência ou não no mundo empírico. Neste caso, o critério é o princípio da não contradição. O segundo está ligado à contingência efetiva das coisas. Nessa esfera não cabe o julgamento lógico formal. A razão instrumental é a base de toda fundamentação. É nessa plataforma, destarte, que se apoia o empirismo humeano.
Se o fundamento está na experiência, o método consiste na análise das regularidades dos fenômenos. O conhecimento começa pela experiência e não pode ir além nem aquém dela.
Hume nega a lógica dedutiva ou metafísica que atribui conexão necessária à noção de causalidade. De acordo com o autor, não há nada nos corpos que traga em si algum vínculo de necessidade. No âmbito das questões de fato (experiência) o que é pode não ser e, ainda assim, não infere o princípio de não contradição. Como posso afirmar que o Sol que nasceu ontem e hoje, de mesmo modo, nascerá amanhã e assim por diante? Nesse sentido, dizer que o Sol nascerá amanhã tem a mesma validade no dizer que ele não nascerá. Em ambas as inferências não há certeza de preposição.
O problema de Hume é saber a natureza que nos faz pensar que o Sol nascerá amanhã assim como se deu no passado e como será no futuro. Qual é a fonte que nos faz pensar dessa forma? De onde provém?
Os raciocínios referentes às questões de fato parecem fundar-se na relação causa e efeito. Segundo Hume, “é somente por meio dessa relação que podemos ir além da evidência daquilo que nos aparece”.[2] De modo que é preciso investigar como chegamos ao conhecimento de causa e efeito.
Áudio deste Post |
Se o fundamento está na experiência, o método consiste na análise das regularidades dos fenômenos. O conhecimento começa pela experiência e não pode ir além nem aquém dela.
Hume nega a lógica dedutiva ou metafísica que atribui conexão necessária à noção de causalidade. De acordo com o autor, não há nada nos corpos que traga em si algum vínculo de necessidade. No âmbito das questões de fato (experiência) o que é pode não ser e, ainda assim, não infere o princípio de não contradição. Como posso afirmar que o Sol que nasceu ontem e hoje, de mesmo modo, nascerá amanhã e assim por diante? Nesse sentido, dizer que o Sol nascerá amanhã tem a mesma validade no dizer que ele não nascerá. Em ambas as inferências não há certeza de preposição.
O problema de Hume é saber a natureza que nos faz pensar que o Sol nascerá amanhã assim como se deu no passado e como será no futuro. Qual é a fonte que nos faz pensar dessa forma? De onde provém?
Os raciocínios referentes às questões de fato parecem fundar-se na relação causa e efeito. Segundo Hume, “é somente por meio dessa relação que podemos ir além da evidência daquilo que nos aparece”.[2] De modo que é preciso investigar como chegamos ao conhecimento de causa e efeito.
Marcadores:
causalidade,
empirismo
A greve é a única maneira de reivindicar?
Por Nelson José de Camargo*
Áudio deste post |
Também são comuns as greves em universidades públicas, principalmente de alunos, mas também com a adesão ocasional de docentes. Na Universidade de São Paulo, por exemplo, costumam ocorrer greves ano sim, ano não, desde os anos 1970.
Em qualquer país democrático, a greve é um instrumento legítimo de reivindicação. No entanto, em nome da mesma democracia, não pode ser utilizada por todos os setores da sociedade. Policiais, bombeiros e militares têm um código de ética fundamentado na hierarquia e na disciplina, além do dever constitucional de zelar pela ordem e pela segurança do país. Além disso, têm o direito de utilizar armas. Logo, greve de qualquer militar (policial, bombeiro ou soldado) não é greve, mas motim.
Se o governo compactua com amotinados e permite que tais movimentos ocorram, permite que a constituição seja violada, o que é uma ameaça ao estado de direito. E fora do estado direito recaímos naquilo que Hobbes determinou de “estado de natureza, no qual a vida é curta, brutal e miserável”.
sábado, março 03, 2012
O que é proibido atrai?
Por Nelson José de Camargo*
Em tempos politicamente corretos, cabe ao Estado definir o que as pessoas devem ou não fazer. Existe uma campanha cada vez mais forte contra as bebidas alcoólicas. Atualmente, os menores de 18 anos não podem consumir nenhum tipo de bebida alcoólica, mesmo na companhia dos pais e com o consentimento destes. “Álcool para menores é proibido” é o slogan da campanha.
Quando vamos ao supermercado, nos perguntam se vamos pagar a conta com cartão alimentação; pois se comprarmos uma bebida alcoólica, não podemos usar o vale.
Enquanto isso, crianças, jovens, adultos e velhos consomem refrigerantes que contêm acidulantes, corantes, edulcorantes, flavorizantes e uma série de produtos químicos nocivos à saúde; no caso dos refrigerantes diet, há suspeitas de que os principais edulcorantes utilizados para substituir o açúcar – sacarino e ciclamato – possam ter efeito cancerígeno.
Mas a patrulha politicamente correta elegeu um vilão – as bebidas alcoólicas são as viças que devem ser combatidas. Muitas pessoas são favoráveis à proibição de qualquer propaganda de bebida alcoólica. E quantos não ficariam contentes se o comércio e o consumo de bebidas fosse totalmente proibido?
Isso remete à lei seca nos Estados Unidos – período em que houve a maior criminalidade naquele país. Basta lembrar da Chicago dos anos 30, de Al Capone, da máfia...
ESCUTE AO AUDIO DESTE POST |
Quando vamos ao supermercado, nos perguntam se vamos pagar a conta com cartão alimentação; pois se comprarmos uma bebida alcoólica, não podemos usar o vale.
Enquanto isso, crianças, jovens, adultos e velhos consomem refrigerantes que contêm acidulantes, corantes, edulcorantes, flavorizantes e uma série de produtos químicos nocivos à saúde; no caso dos refrigerantes diet, há suspeitas de que os principais edulcorantes utilizados para substituir o açúcar – sacarino e ciclamato – possam ter efeito cancerígeno.
Mas a patrulha politicamente correta elegeu um vilão – as bebidas alcoólicas são as viças que devem ser combatidas. Muitas pessoas são favoráveis à proibição de qualquer propaganda de bebida alcoólica. E quantos não ficariam contentes se o comércio e o consumo de bebidas fosse totalmente proibido?
Isso remete à lei seca nos Estados Unidos – período em que houve a maior criminalidade naquele país. Basta lembrar da Chicago dos anos 30, de Al Capone, da máfia...
domingo, fevereiro 26, 2012
Ética ou moral na política?
Por Nelson José de Camargo*
“A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nos ensina como sermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade.”
Kant
O Brasil é hoje uma potência emergente. É a sexta maior economia do mundo, e pode crescer ainda mais. Temos democracia plena, mas antigos problemas persistem, como a violência e a corrupção.
Alguns políticos se apresentaram como “guardiões da moralidade pública” e pautaram sua plataforma política na “ética, na moralidade e na austeridade”. Quase sempre, porém, os resultados obtidos por partidários de tais slogans foram desastrosos. Basta examinar a trajetória do exótico presidente que chegou ao poder para “varrer a corrupção e a bandalheira”, ou do infame “caçador de marajás”.
Esse discurso moralista, porém, sempre encontra repercussão, especialmente na classe média urbana dos grandes centros. Mirando esse eleitorado, políticos que se apresentam como representantes da “social-democracia brasileira” são na verdade representantes das elites conservadoras.
É exemplar o caso de um líder político que começou sua carreira apoiado por uma organização católica, mas que sempre se apresentou como “de esquerda”; escamoteando suas reais convicções, conseguiu galgar postos importantes, embora tenha fracassado em duas tentativas de chegar ao executivo federal.
A postura desse tipo de político nos leva a questionar o que é realmente ser ético; seria talvez aplicar verdadeiramente o que Kant propõe como o imperativo categórico, isto é, agir como se nossas máximas pudessem ter validade universal.
Kant
Alguns políticos se apresentaram como “guardiões da moralidade pública” e pautaram sua plataforma política na “ética, na moralidade e na austeridade”. Quase sempre, porém, os resultados obtidos por partidários de tais slogans foram desastrosos. Basta examinar a trajetória do exótico presidente que chegou ao poder para “varrer a corrupção e a bandalheira”, ou do infame “caçador de marajás”.
Esse discurso moralista, porém, sempre encontra repercussão, especialmente na classe média urbana dos grandes centros. Mirando esse eleitorado, políticos que se apresentam como representantes da “social-democracia brasileira” são na verdade representantes das elites conservadoras.
É exemplar o caso de um líder político que começou sua carreira apoiado por uma organização católica, mas que sempre se apresentou como “de esquerda”; escamoteando suas reais convicções, conseguiu galgar postos importantes, embora tenha fracassado em duas tentativas de chegar ao executivo federal.
A postura desse tipo de político nos leva a questionar o que é realmente ser ético; seria talvez aplicar verdadeiramente o que Kant propõe como o imperativo categórico, isto é, agir como se nossas máximas pudessem ter validade universal.
sábado, fevereiro 18, 2012
O poder das oligarquias
“O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente.”
Lord Action
Por Nelson José de Camargo*
Um fato que podemos constatar todos os dias, com a leitura nos jornais, é o poder das oligarquias. Grupos oligárquicos ainda dominam extensas regiões de nosso país, especialmente no Nordeste e em áreas rurais. É o resultado natural do processo de colonização do Brasil, que deixou marcas indeléveis.
O fato de o governo aliar-se a oligarcas para governar é um reflexo do modelo político em vigor, o assim chamado presidencialismo de coalizão, no qual a governabilidade é conquistada com a distribuição de cargos e com o aparelhamento do Estado.
Tem sido assim desde a promulgação da Constituição de 1988, que tem forte viés parlamentarista, embora o Brasil seja um país presidencialista, conforme decisão popular em plebiscito.
É evidente que é preciso romper com este modelo de perpetuação de oligarquias reacionárias no poder. Mas esta é uma tarefa bem difícil. Os partidos políticos brasileiros são siglas artificiais, que não representam os segmentos da sociedade. Seu objetivo é apenas conquistar o poder e perpetuar-se nele.
Fala-se em reforma política, o que incluiria medidas como o fim do voto obrigatório, o voto distrital, a lista partidária, o financiamento público de campanhas políticas. Mas nada disso terá qualquer efeito se não houver consciência por parte da população.
Lord Action
Por Nelson José de Camargo*
Um fato que podemos constatar todos os dias, com a leitura nos jornais, é o poder das oligarquias. Grupos oligárquicos ainda dominam extensas regiões de nosso país, especialmente no Nordeste e em áreas rurais. É o resultado natural do processo de colonização do Brasil, que deixou marcas indeléveis.
O fato de o governo aliar-se a oligarcas para governar é um reflexo do modelo político em vigor, o assim chamado presidencialismo de coalizão, no qual a governabilidade é conquistada com a distribuição de cargos e com o aparelhamento do Estado.
Tem sido assim desde a promulgação da Constituição de 1988, que tem forte viés parlamentarista, embora o Brasil seja um país presidencialista, conforme decisão popular em plebiscito.
É evidente que é preciso romper com este modelo de perpetuação de oligarquias reacionárias no poder. Mas esta é uma tarefa bem difícil. Os partidos políticos brasileiros são siglas artificiais, que não representam os segmentos da sociedade. Seu objetivo é apenas conquistar o poder e perpetuar-se nele.
Fala-se em reforma política, o que incluiria medidas como o fim do voto obrigatório, o voto distrital, a lista partidária, o financiamento público de campanhas políticas. Mas nada disso terá qualquer efeito se não houver consciência por parte da população.
Marcadores:
Política,
servidão voluntária
sábado, fevereiro 04, 2012
Condição humana e liberdade estética
À LUZ DA ESTÉTICA SCHILLERIANA
Por Hailton Santos
No século XVIII, considerado o século das luzes, surgem os conceitos de “progresso” e “desenvolvimento”, propiciando o início de um novo tempo. Com efeito, é dada a largada para o desenvolvimento “a qualquer custo”.[1] Neste contexto é relevante assinalar que a temática da Bildung (formação cultural) é tema recorrente nas obras de cunho estético/filosófico do período, caracterizando, deste modo, um foco de resistência ao progresso desenfreado. A este complexo temático denominou-se Aufklärung (Iluminismo ou Esclarecimento).
Com o advento da industrialização as pessoas passaram a competir mais e mais entre si. “A crença no progresso expôs o homem a todas as regressões. Seu individualismo estimulou o advento do sujeito egoísta, preocupado unicamente com o ganho e a acumulação”.[2] Nos dias de hoje vale a satisfação pessoal em detrimento ao coletivo. Com efeito, esse sentimento que já é parte da cultura faz do “homem lobo do homem”.[3] Nessa estética do eu, o homem perde a noção de “ser social”, de “ser humano” e, sem referências conceituais, o homem da modernidade é refém de si mesmo, sobretudo porque está a serviço de uma engrenagem que ele mesmo faz girar.
Faz-se necessário, portanto, uma pedagogia da razão que assegure o equilíbrio entre intelecto refinado (razão sem sentimento) e homem bruto (sentimento sem razão). O primeiro refém de seu ego, o segundo de seus impulsos primários. Isto implica, todavia, uma reformulação da civilização. A estética como categoria existencial e princípio de realidade.
Eis aqui o problema de nosso ensaio, se o conhecimento humano é construído sobre juízos sintéticos a posteriori, como quer o homem contemporâneo, seria possível estabelecer princípios universais e necessários – a priori – para juízos estéticos? É possível juízo de gosto universal?
À luz das teorias de Kant, no texto A educação estética do homem (1783), Schiller apresenta a dimensão estética como libertação da sensualidade frente à dominação repressiva da razão. O sentimento de belo como fundamento à vida. A estética como princípios válidos para os dois polos da existência humana, a saber, sensibilidade e moralidade, ou sentimento e razão. É esse, portanto, o sentido prático da estética, e é por meio dessa temática que seguirá toda fundamentação deste ensaio.
Por Hailton Santos
No século XVIII, considerado o século das luzes, surgem os conceitos de “progresso” e “desenvolvimento”, propiciando o início de um novo tempo. Com efeito, é dada a largada para o desenvolvimento “a qualquer custo”.[1] Neste contexto é relevante assinalar que a temática da Bildung (formação cultural) é tema recorrente nas obras de cunho estético/filosófico do período, caracterizando, deste modo, um foco de resistência ao progresso desenfreado. A este complexo temático denominou-se Aufklärung (Iluminismo ou Esclarecimento).
Com o advento da industrialização as pessoas passaram a competir mais e mais entre si. “A crença no progresso expôs o homem a todas as regressões. Seu individualismo estimulou o advento do sujeito egoísta, preocupado unicamente com o ganho e a acumulação”.[2] Nos dias de hoje vale a satisfação pessoal em detrimento ao coletivo. Com efeito, esse sentimento que já é parte da cultura faz do “homem lobo do homem”.[3] Nessa estética do eu, o homem perde a noção de “ser social”, de “ser humano” e, sem referências conceituais, o homem da modernidade é refém de si mesmo, sobretudo porque está a serviço de uma engrenagem que ele mesmo faz girar.
Faz-se necessário, portanto, uma pedagogia da razão que assegure o equilíbrio entre intelecto refinado (razão sem sentimento) e homem bruto (sentimento sem razão). O primeiro refém de seu ego, o segundo de seus impulsos primários. Isto implica, todavia, uma reformulação da civilização. A estética como categoria existencial e princípio de realidade.
Eis aqui o problema de nosso ensaio, se o conhecimento humano é construído sobre juízos sintéticos a posteriori, como quer o homem contemporâneo, seria possível estabelecer princípios universais e necessários – a priori – para juízos estéticos? É possível juízo de gosto universal?
À luz das teorias de Kant, no texto A educação estética do homem (1783), Schiller apresenta a dimensão estética como libertação da sensualidade frente à dominação repressiva da razão. O sentimento de belo como fundamento à vida. A estética como princípios válidos para os dois polos da existência humana, a saber, sensibilidade e moralidade, ou sentimento e razão. É esse, portanto, o sentido prático da estética, e é por meio dessa temática que seguirá toda fundamentação deste ensaio.
domingo, janeiro 29, 2012
O que é ideologia
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. Coleção primeiros passos. São Paulo: Brasiliense, 2008.
Por José Hailton Santos
À luz da teoria de Engels e Marx Chauí pretende mostrar nesse texto que a ideologia é um ideário histórico, social e político que oculta a realidade. De acordo com a autora, esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política.[1] Nessa perspectiva, a ideologia é negativa quando não percebe a raiz histórica de suas ideias e imagina ser verdadeira para todos os tempos e todos os lugares.
A crítica que se faz é da ideologia construída de puros conceitos nascidos das observações científicas e de especulações metafísicas. Para Chauí, sem o laço das condições históricas, a ideologia tende a explicar a realidade na qual está inserida, ou seja, suas determinações. Nesse sentido, a ideologia é negativa, pois o idealista acredita que o conhecimento da realidade se reduz ao exame dos dados e das operações de nossa consciência, ou do intelecto como atividade produtora de ideias. Assim, a realidade estaria vinculada a um puro dado imediato e, como tal, nada diz sobre as condições históricas do homem.
Todavia, segundo a autora, o real não é um dado sensível nem tampouco intelectual, mas um processo, um movimento temporal de constituição dos seres e de suas significações, e esse processo depende fundamentalmente do modo como os homens se relacionam entre si e com a natureza.[2] Sendo assim, é das relações sociais que devemos partir para compreendermos os conteúdos e as causas dos pensamentos e das ações do homem.[3] De modo que a história se faz pelo modo de agir das pessoas, ou pela práxis humana. A única ciência que aqui interessa é a ciência da história humana.[4]
Chauí mostra que a concepção positivista de ideologia é ela própria, uma ideologia. Seguindo a linha de Marx, a autora nos diz que a produção das ideias e as condições sociais fazem parte da dialética histórico/materialista; é nessa relação, portanto, que as coisas devem ganhar significados. Nessa dialética, a produção e a superação das condições revelam que o real se realiza com a luta que se estabelece entre homens reais em condições históricas e sociais. Foi o que Marx chamou de luta de classes.
Por José Hailton Santos
À luz da teoria de Engels e Marx Chauí pretende mostrar nesse texto que a ideologia é um ideário histórico, social e político que oculta a realidade. De acordo com a autora, esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política.[1] Nessa perspectiva, a ideologia é negativa quando não percebe a raiz histórica de suas ideias e imagina ser verdadeira para todos os tempos e todos os lugares.
A crítica que se faz é da ideologia construída de puros conceitos nascidos das observações científicas e de especulações metafísicas. Para Chauí, sem o laço das condições históricas, a ideologia tende a explicar a realidade na qual está inserida, ou seja, suas determinações. Nesse sentido, a ideologia é negativa, pois o idealista acredita que o conhecimento da realidade se reduz ao exame dos dados e das operações de nossa consciência, ou do intelecto como atividade produtora de ideias. Assim, a realidade estaria vinculada a um puro dado imediato e, como tal, nada diz sobre as condições históricas do homem.
Todavia, segundo a autora, o real não é um dado sensível nem tampouco intelectual, mas um processo, um movimento temporal de constituição dos seres e de suas significações, e esse processo depende fundamentalmente do modo como os homens se relacionam entre si e com a natureza.[2] Sendo assim, é das relações sociais que devemos partir para compreendermos os conteúdos e as causas dos pensamentos e das ações do homem.[3] De modo que a história se faz pelo modo de agir das pessoas, ou pela práxis humana. A única ciência que aqui interessa é a ciência da história humana.[4]
Chauí mostra que a concepção positivista de ideologia é ela própria, uma ideologia. Seguindo a linha de Marx, a autora nos diz que a produção das ideias e as condições sociais fazem parte da dialética histórico/materialista; é nessa relação, portanto, que as coisas devem ganhar significados. Nessa dialética, a produção e a superação das condições revelam que o real se realiza com a luta que se estabelece entre homens reais em condições históricas e sociais. Foi o que Marx chamou de luta de classes.
Marcadores:
filosofia política
sábado, janeiro 28, 2012
Gramática e ontologia na filosofia de Wittgenstein durante o período intermediário
Por Nelson José de Camargo*
Para o Wittgenstein do Tractatus, há um isomorfismo estrutural entre a linguagem e o mundo: a estrutura da linguagem corresponde à estrutura dada no mundo.
A linguagem é constituída de elementos essencialmente simples, os nomes, que designam elementos do próprio mundo. As sentenças da linguagem são formadas pela concatenação desses nomes, “sinais simples empregados na proposição”[1]. Essa concatenação deve respeitar certas regras, que determinam possibilidades ou impossibilidades de articulação. “A proposição não é uma mistura de palavras. (...) A proposição é articulada”[2] e é uma “figuração da realidade, (...) modelo da realidade tal como pensamos que seja”[3].
As possibilidades ou impossibilidades de articulação também estão presentes no próprio mundo. Assim, as uniões possíveis na linguagem correspondem a uniões possíveis no mundo. Os nomes, por sua vez, só têm sentido quando fazem parte de uma proposição. “Só a proposição tem sentido: é só no contexto da proposição que um nome tem significado”[4], diz Wittgenstein no Tractatus.
Marcadores:
filosofia da linguagem
domingo, janeiro 22, 2012
O existencialismo é um humanismo
Por Hailton Santos
Nesse texto[1] Sartre responde às críticas dirigidas ao existencialismo advindas, principalmente, dos marxistas e dos católicos.
A crítica marxista diz que o existencialismo leva as pessoas a uma filosofia contemplativa devido à inacessibilidade de suas soluções. Com efeito, o existencialismo não passa de uma filosofia burguesa.
Já os católicos acusam o existencialismo de negligenciar certas coisas belas e alegres da natureza humana, como o sorriso da criança, por exemplo. A crítica cristã diz que se suprirmos os mandamentos de Deus e os valores inscritos na eternidade, não resta mais que a estrita gratuidade, e cada um poderá fazer o que quiser.
Segundo Sartre, a essência de toda crítica, é que o existencialismo acentua o lado ruim da vida humana. No entanto, diz Sartre: “as mesmas pessoas que adoram canções realistas são aquelas que reclamam que o existencialismo é muito sombrio, a tal ponto de eu me perguntar se eles não estão se queixando mais do otimismo do existencialismo do que, na verdade, de seu pessimismo”.[2]
Assim, a doutrina existencialista parte, inicialmente, da subjetividade, ou seja, da noção de que a existência precede a essência. De acordo com o autor, somente nos objetos da técnica a essência precede a existência. A exemplo do corta-papel, cujo conjunto de procedimentos que permite produzi-lo e defini-lo precede sua existência. Nesse sentido, o conceito “homem” segue os mesmos preceitos, ou seja, um conjunto de regras (essência) atribuídas ao homem que precede ao “animal homem”. Para o autor, esse conjunto de regras está em desacordo com a verdade histórica com que nos deparamos.[3]
Nesse texto[1] Sartre responde às críticas dirigidas ao existencialismo advindas, principalmente, dos marxistas e dos católicos.
A crítica marxista diz que o existencialismo leva as pessoas a uma filosofia contemplativa devido à inacessibilidade de suas soluções. Com efeito, o existencialismo não passa de uma filosofia burguesa.
Já os católicos acusam o existencialismo de negligenciar certas coisas belas e alegres da natureza humana, como o sorriso da criança, por exemplo. A crítica cristã diz que se suprirmos os mandamentos de Deus e os valores inscritos na eternidade, não resta mais que a estrita gratuidade, e cada um poderá fazer o que quiser.
Segundo Sartre, a essência de toda crítica, é que o existencialismo acentua o lado ruim da vida humana. No entanto, diz Sartre: “as mesmas pessoas que adoram canções realistas são aquelas que reclamam que o existencialismo é muito sombrio, a tal ponto de eu me perguntar se eles não estão se queixando mais do otimismo do existencialismo do que, na verdade, de seu pessimismo”.[2]
Assim, a doutrina existencialista parte, inicialmente, da subjetividade, ou seja, da noção de que a existência precede a essência. De acordo com o autor, somente nos objetos da técnica a essência precede a existência. A exemplo do corta-papel, cujo conjunto de procedimentos que permite produzi-lo e defini-lo precede sua existência. Nesse sentido, o conceito “homem” segue os mesmos preceitos, ou seja, um conjunto de regras (essência) atribuídas ao homem que precede ao “animal homem”. Para o autor, esse conjunto de regras está em desacordo com a verdade histórica com que nos deparamos.[3]
Marcadores:
Filosofia
Sina
Por Ana Lucia Sorrentino*
Vi meu sangue correndo no roxo das veias,
sob a pele tão branca, tão transparente,
e tive dó de tanta fragilidade.
Os homens não têm sido mais
do que ilusões de homens.
Parece-me, afinal,
que pouca gente existe de verdade.
Contorço-me, circense,
sobrevivendo num mundo
onde impera a falsidade.
Desejo intensamente o distante.
Desisti de esperar do próximo proximidade.
Pago caro, todos os dias,
a conta alta que me apresenta
o vício da liberdade.
Resistente, me nego à hipocrisia.
Entrego-me, então, à mais fiel amante:
minha doce amiga Solidão.
Analú
Vi meu sangue correndo no roxo das veias,
sob a pele tão branca, tão transparente,
e tive dó de tanta fragilidade.
Os homens não têm sido mais
do que ilusões de homens.
Parece-me, afinal,
que pouca gente existe de verdade.
Contorço-me, circense,
sobrevivendo num mundo
onde impera a falsidade.
Desejo intensamente o distante.
Desisti de esperar do próximo proximidade.
Pago caro, todos os dias,
a conta alta que me apresenta
o vício da liberdade.
Resistente, me nego à hipocrisia.
Entrego-me, então, à mais fiel amante:
minha doce amiga Solidão.
Analú
Do blog: http://reencontrandosuaalma.blogspot.com/2012/01/sina.html
*Ana Lucia Sorrentino é Escritora e estudante no curso de Filosofia da Universidade São Judas Tadeu
sábado, janeiro 21, 2012
O que é a filosofia?
Por Nelson José de Camargo*
A filosofia voltou a fazer parte do currículo do ensino médio. Mas para que servirá? Talvez para doutrinar nossos estudantes com ideias pseudomarxistas retrógadas. Ou nossos estudantes terão apenas um “panorama” dos principais filósofos?
Kant já disse que não se ensina filosofia, mas a filosofar. Mas o que é ensinar a filosofar?
Em primeiro lugar, temos de estudar os filósofos no contexto em que viveram. Nietzsche, por exemplo, é homem de seu tempo, do romantismo alemão; Marx surgiu no contexto da revolução industrial; Hegel, Fichte e Schiller são figuras do idealismo alemão, que foi influenciado por Kant e Goethe; Kant, por sua vez, foi influenciado pelos racionalistas e empiristas: Descartes, Spinoza, Hume, Leibniz; o racionalismo foi uma consequência do humanismo renascentista, que resgatou a cultura clássica greco-romana; mas mesmo nas trevas da Idade Média, os escolásticos preservaram a filosofia de Platão e Aristóteles, ainda que tentando adaptá-la aos dogmas cristãos; e na Grécia antiga, como sabemos, surgiu o que chamamos de filosofia.
A filosofia voltou a fazer parte do currículo do ensino médio. Mas para que servirá? Talvez para doutrinar nossos estudantes com ideias pseudomarxistas retrógadas. Ou nossos estudantes terão apenas um “panorama” dos principais filósofos?
Kant já disse que não se ensina filosofia, mas a filosofar. Mas o que é ensinar a filosofar?
Em primeiro lugar, temos de estudar os filósofos no contexto em que viveram. Nietzsche, por exemplo, é homem de seu tempo, do romantismo alemão; Marx surgiu no contexto da revolução industrial; Hegel, Fichte e Schiller são figuras do idealismo alemão, que foi influenciado por Kant e Goethe; Kant, por sua vez, foi influenciado pelos racionalistas e empiristas: Descartes, Spinoza, Hume, Leibniz; o racionalismo foi uma consequência do humanismo renascentista, que resgatou a cultura clássica greco-romana; mas mesmo nas trevas da Idade Média, os escolásticos preservaram a filosofia de Platão e Aristóteles, ainda que tentando adaptá-la aos dogmas cristãos; e na Grécia antiga, como sabemos, surgiu o que chamamos de filosofia.
domingo, janeiro 15, 2012
Édipo tirano, Édipo Freud: humanismo e cultura
Por José Hailton Santos
O texto em questão é uma tentativa de elucidar duas indagações ligadas ao contexto da tragédia Édipo Tirano de Sófocles: em primeiro lugar, trata-se de saber até que ponto a hermenêutica poderá nos conduzir a uma efetiva compreensão da tragédia. Em segundo, da relação do mito com a cultura contemporânea.
No mundo contemporâneo a tragédia se apresenta por duas vertentes principais: como abordagem das ciências humanas e diretamente no seio da cultura. Como exemplo da primeira o estereótipo complexo de Édipo freudiano; como exemplo da segunda o drama vivido pelo casal Celso Pitta e Nicéa Pitta no começo dos anos 2000.
Em suas diferentes versões históricas, reelaborado com outras formas e funções, o mito passa a nos revelar algo que transcende o próprio teor histórico e cultural da época. Assim, trazê-lo para o âmbito do conhecimento como busca da origem é excluir uma de suas principais características, a saber, seu caráter mimético (no sentido aristotélico) de fazer transformar o espírito do leitor/espectador, seja pela piedade seja pelo terror.
Foi o que aconteceu com o chamado Complexo de Édipo freudiano. Devido à popularidade da psicanálise, o mito de Édipo tornou-se uma das grandes referências do século XX. No entanto, a difusão social desse mito, tal como mediado pela leitura da psicanálise, fez surgir um novo Édipo, o qual é descrito por um complexo simbólico e patológico que incide sobre as identidades individuais e coletivas. Nesse sentido, a tragédia perde seu valor semântico, pois, de antemão a psicanálise estuda a origem.
O texto em questão é uma tentativa de elucidar duas indagações ligadas ao contexto da tragédia Édipo Tirano de Sófocles: em primeiro lugar, trata-se de saber até que ponto a hermenêutica poderá nos conduzir a uma efetiva compreensão da tragédia. Em segundo, da relação do mito com a cultura contemporânea.
No mundo contemporâneo a tragédia se apresenta por duas vertentes principais: como abordagem das ciências humanas e diretamente no seio da cultura. Como exemplo da primeira o estereótipo complexo de Édipo freudiano; como exemplo da segunda o drama vivido pelo casal Celso Pitta e Nicéa Pitta no começo dos anos 2000.
Em suas diferentes versões históricas, reelaborado com outras formas e funções, o mito passa a nos revelar algo que transcende o próprio teor histórico e cultural da época. Assim, trazê-lo para o âmbito do conhecimento como busca da origem é excluir uma de suas principais características, a saber, seu caráter mimético (no sentido aristotélico) de fazer transformar o espírito do leitor/espectador, seja pela piedade seja pelo terror.
Foi o que aconteceu com o chamado Complexo de Édipo freudiano. Devido à popularidade da psicanálise, o mito de Édipo tornou-se uma das grandes referências do século XX. No entanto, a difusão social desse mito, tal como mediado pela leitura da psicanálise, fez surgir um novo Édipo, o qual é descrito por um complexo simbólico e patológico que incide sobre as identidades individuais e coletivas. Nesse sentido, a tragédia perde seu valor semântico, pois, de antemão a psicanálise estuda a origem.
O futuro da humanidade
Por Nelson José de Camargo*
A espiritualidade é inerente ao ser humano? Pode-se afirmar que sim, considerando que a maioria das pessoas tem necessidade de pertencer a um "rebanho" e de ter um "pastor" para guiá-las. O super-homem de Nietzsche é justamente o indivíduo que conseguiu se libertar da culpa judaico-cristã, que não precisa mais de um "pastor", e foi além do homem. Não é mais um indivíduo tolhido pelo pecado e pela culpa, mas sim livre para desfrutar da vida em sua plenitude.
O termo que Nietzsche usou, traduzido em português como super-homem, é Übermensch: über significa sobre, além, e Mensch é homem; logo, o super-homem nietzschiano é literalmente o indivíduo que "superou o homem", e não alguém dotado de “superpoderes”.
Hobbes diz que o "homem é o lobo do homem", e que para permitir uma vida em sociedade minimamente digna foi necessário criar o Estado, com todas as suas implicações positivas e negativas. Já Rousseau afirma que "o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe".
A espiritualidade é inerente ao ser humano? Pode-se afirmar que sim, considerando que a maioria das pessoas tem necessidade de pertencer a um "rebanho" e de ter um "pastor" para guiá-las. O super-homem de Nietzsche é justamente o indivíduo que conseguiu se libertar da culpa judaico-cristã, que não precisa mais de um "pastor", e foi além do homem. Não é mais um indivíduo tolhido pelo pecado e pela culpa, mas sim livre para desfrutar da vida em sua plenitude.
O termo que Nietzsche usou, traduzido em português como super-homem, é Übermensch: über significa sobre, além, e Mensch é homem; logo, o super-homem nietzschiano é literalmente o indivíduo que "superou o homem", e não alguém dotado de “superpoderes”.
Hobbes diz que o "homem é o lobo do homem", e que para permitir uma vida em sociedade minimamente digna foi necessário criar o Estado, com todas as suas implicações positivas e negativas. Já Rousseau afirma que "o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe".
Assinar:
Postagens (Atom)