sábado, janeiro 21, 2012

O que é a filosofia?

Por Nelson José de Camargo*

A filosofia voltou a fazer parte do currículo do ensino médio. Mas para que servirá? Talvez para doutrinar nossos estudantes com ideias pseudomarxistas retrógadas. Ou nossos estudantes terão apenas um “panorama” dos principais filósofos?

Kant já disse que não se ensina filosofia, mas a filosofar. Mas o que é ensinar a filosofar?

Em primeiro lugar, temos de estudar os filósofos no contexto em que viveram. Nietzsche, por exemplo, é homem de seu tempo, do romantismo alemão; Marx surgiu no contexto da revolução industrial; Hegel, Fichte e Schiller são figuras do idealismo alemão, que foi influenciado por Kant e Goethe; Kant, por sua vez, foi influenciado pelos racionalistas e empiristas: Descartes, Spinoza, Hume, Leibniz; o racionalismo foi uma consequência do humanismo renascentista, que resgatou a cultura clássica greco-romana; mas mesmo nas trevas da Idade Média, os escolásticos preservaram a filosofia de Platão e Aristóteles, ainda que tentando adaptá-la aos dogmas cristãos; e na Grécia antiga, como sabemos, surgiu o que chamamos de filosofia.

Como nos ensina Hegel, novas ideias não destroem o que vem do passado; as descobertas são acrescentadas ao que já se sabia antes: tese, antítese e síntese.

Estudar filosofia não significa “concordar” ou “discordar” com este ou aquele filósofo, mas sim compreender suas ideias. A história da filosofia não é uma "galeria de opiniões", mas sim a evolução do pensamento humano.

Nietzsche pode ter sido um romântico que idealizou um super-homem que possivelmente nunca virá a existir, mas no Zaratustra criou um profeta que não quer ter seguidores; Marx fez um diagnóstico preciso das contradições do capitalismo, mas não previu o surgimento da classe média, nem o estado de bem-estar social, nem que a "ditadura do proletariado" se tornasse um regime burocrático e totalitário; Kant construiu uma moral baseada apenas na razão, mas não previu que o ser humano pode não ter domínio sobre sua própria mente (como mostrou Freud); Aristóteles foi o primeiro a tentar classificar cientificamente os seres vivos e a buscar uma explicação racional para os fenômenos da natureza, mas não dispunha de conhecimentos nem de método para elaborar teorias verdadeiramente científicas.

Mas algo permaneceu de cada um desses pensadores, ainda que suas ideias tenham sido superadas ou refutadas.

E é para isso que realmente serve a filosofia: ela nos leva a refletir sobre o legado que os grandes pensadores da humanidade deixaram, e com ele elaborar a síntese que nos levará a um mundo melhor, ainda que nunca seja aquele com que sonhamos.

*Nelson José de Camargo é graduado em filosofia e jornalismo

Um comentário:

Hailton Santos disse...

Nelson, texto digno de quem compreendeu bem o sentido da filosofia.

Parabéns!

Hailton