domingo, março 11, 2012

A greve é a única maneira de reivindicar?

Por Nelson José de Camargo*


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As greves em nosso país ocorrem principalmente no setor público, no qual quase sempre os funcionários têm estabilidade no emprego e outros benefícios. No setor privado, ocorrem somente nos setores mais organizados e de sindicatos mais fortes e atuantes, como entre os metalúrgicos.

Também são comuns as greves em universidades públicas, principalmente de alunos, mas também com a adesão ocasional de docentes. Na Universidade de São Paulo, por exemplo, costumam ocorrer greves ano sim, ano não, desde os anos 1970.

Em qualquer país democrático, a greve é um instrumento legítimo de reivindicação. No entanto, em nome da mesma democracia, não pode ser utilizada por todos os setores da sociedade. Policiais, bombeiros e militares têm um código de ética fundamentado na hierarquia e na disciplina, além do dever constitucional de zelar pela ordem e pela segurança do país. Além disso, têm o direito de utilizar armas. Logo, greve de qualquer militar (policial, bombeiro ou soldado) não é greve, mas motim.

Se o governo compactua com amotinados e permite que tais movimentos ocorram, permite que a constituição seja violada, o que é uma ameaça ao estado de direito. E fora do estado direito recaímos naquilo que Hobbes determinou de “estado de natureza, no qual a vida é curta, brutal e miserável”.

Nas universidades públicas, as greves quase sempre têm fins políticos, geralmente organizadas por micropartidos de esquerda radical, que repetem os velhos chavões marxistas dos anos 1960. Alguns dos alunos da USP que foram presos por depredar patrimônio público e desrespeitar decisões da justiça se autointitularam “presos políticos”, numa afronta às pessoas que deram suas vidas para que nosso país se tornasse uma democracia.

Existe, portanto, um “grevismo institucionalizado” no Brasil, que ocorre muitas vezes com a conivência de autoridades, e que causa grandes prejuízos ao país.

A greve pela greve nos faz lembrar de um episódio ocorrido no século 18, por volta de 1770, portanto ainda no tempo do Antigo Regime. O compositor austríaco Joseph Haydn era músico da corte do riquíssimo príncipe Esterhazy, que possuía um castelo na zona rural da Áustria, quase na fronteira com a Hungria. O príncipe era um grande apreciador de música e tinha uma orquestra particular, dirigida por Haydn. Enquanto permanecesse no castelo, deveria haver música todas as noites.

Num verão, a temporada do príncipe foi mais longa que a habitual, e os músicos da orquestra estavam ansiosos para voltar para suas casas, pois no castelo estavam distantes de tudo e de todos. Por isso pediram que Haydn intercedesse junto ao príncipe.

Naquela noite, a orquestra apresentou uma sinfonia inédita. Uma bela obra, com belas melodias, característica de Haydn. Mas na parte final da sinfonia, o andamento rápido de repente passou a ser lento (adagio), o que contraria as regras clássicas de uma sinfonia do século 18. Além disso, à medida que tocavam suas partes, os músicos iam abandonando o palco. As últimas notas da sinfonia foram tocadas pelo próprio Haydn e pelo violinista Tomasini, que também se retiraram no final da música, deixando o palco vazio.

O recado estava dado: os músicos queriam férias!

E assim a sinfonia número 45 de Haydn ficou conhecida como a “Sinfonia da despedida”, uma de suas mais belas obras.

Este é um exemplo real de que a greve não é a única maneira de reivindicar.

*Nelson José de Camargo é graduado em Filosofia e Jornalista


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