sábado, março 03, 2012

O que é proibido atrai?

Por Nelson José de Camargo*

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Em tempos politicamente corretos, cabe ao Estado definir o que as pessoas devem ou não fazer. Existe uma campanha cada vez mais forte contra as bebidas alcoólicas. Atualmente, os menores de 18 anos não podem consumir nenhum tipo de bebida alcoólica, mesmo na companhia dos pais e com o consentimento destes. “Álcool para menores é proibido” é o slogan da campanha.

Quando vamos ao supermercado, nos perguntam se vamos pagar a conta com cartão alimentação; pois se comprarmos uma bebida alcoólica, não podemos usar o vale.

Enquanto isso, crianças, jovens, adultos e velhos consomem refrigerantes que contêm acidulantes, corantes, edulcorantes, flavorizantes e uma série de produtos químicos nocivos à saúde; no caso dos refrigerantes diet, há suspeitas de que os principais edulcorantes utilizados para substituir o açúcar – sacarino e ciclamato – possam ter efeito cancerígeno.

Mas a patrulha politicamente correta elegeu um vilão – as bebidas alcoólicas são as viças que devem ser combatidas. Muitas pessoas são favoráveis à proibição de qualquer propaganda de bebida alcoólica. E quantos não ficariam contentes se o comércio e o consumo de bebidas fosse totalmente proibido?

Isso remete à lei seca nos Estados Unidos – período em que houve a maior criminalidade naquele país. Basta lembrar da Chicago dos anos 30, de Al Capone, da máfia...

Na verdade, o combate a qualquer coisa que causa prazer faz parte da natureza humana. É uma das características do ascetismo, origem de todas as crenças e religiões.

Não faz muito tempo, um grande jornal paulistano publicou uma matéria alarmante sobre o aumento do consumo de drogas entre os jovens. Para ilustrar o texto, havia uma foto de um grupo de amigos tomando cerveja em um barzinho...

Consumir vinho durante as refeições é comprovadamente mais saudável que beber refrigerante, que quase sempre são bebidas com elevados índices de acidez e de açúcar. Mas a hipocrisia politicamente correta insiste em atribuir à bebida a causa de todos os males.

Quantos acidentes de transido causados supostamente por motoristas “alcoolizados” não foram resultado na verdade de imperícia e imprudência?

Como diz Aristóteles na Ética nicomaqueia, a justa medida, ou o equilíbrio entre o excesso e a falta é a atitude ideal para se alcançar a felicidade. A patrulha politicamente correta sobre o consumo de álcool vai apenas estimular os jovens a procurar cada vez mais cedo a bebida. Pois uma das principais características da juventude não é a rebeldia? Um rapaz de 17 anos não pode tomar nem sequer um copo de cerveja, que contém uma quantidade desprezível de álcool, mas pode assistir, quando bem entender, a reality shows degradantes; pode dirigir um automóvel, causar acidentes fatais e não ser penalizado por isso, pois pela legislação brasileira quem não ultrapassou a “barreira” dos 18 anos é uma “criança”; no entanto, um jovem de 16 anos pode eleger o presidente da república...

Basta de hipocrisia: deixem os jovens tomar sua cerveja, desde que possam responder pelos seus atos!


*Nelson José de Camargo é graduado em filosofia e jornalista





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