Kant
Alguns políticos se apresentaram como “guardiões da moralidade pública” e pautaram sua plataforma política na “ética, na moralidade e na austeridade”. Quase sempre, porém, os resultados obtidos por partidários de tais slogans foram desastrosos. Basta examinar a trajetória do exótico presidente que chegou ao poder para “varrer a corrupção e a bandalheira”, ou do infame “caçador de marajás”.
Esse discurso moralista, porém, sempre encontra repercussão, especialmente na classe média urbana dos grandes centros. Mirando esse eleitorado, políticos que se apresentam como representantes da “social-democracia brasileira” são na verdade representantes das elites conservadoras.
É exemplar o caso de um líder político que começou sua carreira apoiado por uma organização católica, mas que sempre se apresentou como “de esquerda”; escamoteando suas reais convicções, conseguiu galgar postos importantes, embora tenha fracassado em duas tentativas de chegar ao executivo federal.
A postura desse tipo de político nos leva a questionar o que é realmente ser ético; seria talvez aplicar verdadeiramente o que Kant propõe como o imperativo categórico, isto é, agir como se nossas máximas pudessem ter validade universal.
Tal atitude exclui, obviamente, o discurso “progressista” para a mídia, mas que esconde uma atitude profundamente reacionária. O tipo de pessoa que se diz “defensor da vida”, mas que ignora completamente problemas graves de saúde pública, como o aborto; e uma vez no poder, tais políticos adotam uma atitude de submissão a interesses externos, o que é incompatível com um país que quer ser um ator importante no cenário mundial.
Quem prega a ética e a moralidade tem de assumir com clareza suas posições. Não pode jamais ficar “em cima do muro”, aderir a uma determinada posição de acordo com a conveniência. E mais importante, deve cumprir com a palavra dada aos eleitores, e não simplesmente ignorá-la na tentativa de alçar voos mais altos.
Aristóteles, na Política, estabeleceu que as principais formas de governo são a monarquia, a aristocracia e a democracia, e todas elas podem ser boas. Mas a monarquia pode se degenerar em tirania, a aristocracia em oligarquia e a democracia em demagogia ou anarquia. Um governo ideal, segundo o filósofo, seria um que combinasse as qualidades dessas três modalidades.
Para que a democracia brasileira (pela qual muitos deram a própria vida) não se degenere, é preciso que haja partidos políticos verdadeiramente ideológicos, com posições claras, e que o eleitorado tenha plena consciência de quem está escolhendo para ocupar cargos importantes. Moralidade na política é ser honesto, e ser ético é ser coerente.
*Nelson José de Camargo é Graduado em Filosofia e Jornalista
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