sábado, março 24, 2012

Filosofia e literatura

Por Nelson José de Camargo*
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Filosofia e literatura têm diferenças e semelhanças. Ambas usam a linguagem para comunicar algo a alguém. Na Filosofia, o principal objetivo é expressar conceitos, ideias. Na literatura, existe a narrativa, isto é, o ato de contar uma história.

No entanto, a diferença entre uma obra literária e uma filosófica é mais sutil do que pode parecer à primeira vista. Os diálogos de Platão, por exemplo, poderiam muito bem ser enquadrados nas duas categorias – literatura e filosofia.

Ninguém dirá que Kant foi um literato – no sentido de que seu texto tem elegância e estilo dos grandes escritores – mas o que dizer de um Nietzsche? Poemas e aforismos, tão frequentemente empregados pelo autor do Zaratustra, são formas literárias.

Rousseau foi autor de um romance de sucesso na época: A bela Heloísa. Sartre tornou-se conhecido não apenas por sua filosofia, mas também pelos seus romances. E poucos escritores são tão filosóficos como Thomas Mann e Machado de Assis.

A Filosofia, como diz Wittgenstein, deve “tornar claros e delimitar precisamente os pensamentos, antes como que turvos e indistintos”[1]. Nem sempre a literatura é assim: basta ler autores obscuros como Joyce para comprovar.

Para muitos, os textos filosóficos são obscuros e de difícil interpretação. Isso pode até ser verdade em alguns casos, mas na maioria das vezes o que ocorre é que uma obra filosófica é lida apressadamente e sem que o leitor tenha o devido preparo para compreendê-la. A Ética de Spinoza, por exemplo, é uma leitura extremamente árida à primeira vista. Mas se compreendermos a estrutura da obra, percebemos o quanto é genial.

Aqui encontramos uma diferença fundamental entre filosofia e literatura: não se lê uma obra filosófica da maneira como se lê um romance. É preciso voltar no texto, ir aos comentadores, comparar o que é dito em um trecho com o que é dito em outro, verificar a repercussão que as ideias filosóficas tiveram na época em que foram propostas e nas gerações posteriores. Geralmente, não se faz isso durante a leitura de um romance, conto ou poema. O que não significa, porém, que as obras literárias sejam mais “fáceis”, ou que sua leitura não deva ser atenta.

Houve casos de combinações quase perfeitas entre narrativa literária e texto filosófico. O exemplo mais emblemático é o Zaratustra de Nietzsche. É uma das raras obras filosóficas que pode ser lida como uma narrativa literária, ou uma obra literária que tem profundo significado filosófico.

[1] Wittgenstein, Tractatus, p. 177.

*Nelson José de Camargo é graduado em filosofia e jornalista

6 comentários:

Lígia disse...

Muito boa a sua análise!:)

Deboro Melo disse...

A filosofia é base de todo o pensamento racional e abstrato. Percebo que a literatura é mais imaginativa e criativa.

Unknown disse...

Que legal, gostei

Anônimo disse...

Legal

Anônimo disse...

Gostei

Anônimo disse...

Mas esse conceito foi dito por outra pessoa: Sylvia Pellegrino.
🤔🤔🤔