domingo, abril 22, 2012

A corrupção na política: um problema brasileiro?

Por Nelson José de Camergo*
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A corrupção está sempre presente no noticiário político: escândalos, denúncias, CPIs, operações espalhafatosas da polícia federal, tudo isso alimenta diariamente o noticiário. Mas nenhum escândalo de corrupção fica muito tempo no noticiário: logo aparece mais uma notícia escabrosa que coloca o escândalo anterior no esquecimento.

É da natureza humana procurar acumular mais poder e riqueza, e para isso algumas pessoas são capazes de tudo. Os fins justificam os meios, numa frase atribuída a Maquiavel, mas que na verdade nunca foi dita por ele.

Alguns políticos brasileiros alavancaram sua carreira política no assim chamado “combate à corrupção”. Jânio Quadros, candidato a presidente em 1960, tinha como mote de campanha a “vassoura” que iria “varrer a corrupção”. Eleito, ficou apenas oito meses no cargo, e renunciou em circunstâncias até hoje não explicadas.

Com uma imagem de “defensor da moral e dos bons costumes”, Jânio quadros teve gestões bastante polêmicas nos cargos executivos que ocupou: prefeito de São Paulo, governador do estado e presidente. E não faltaram acusações de enriquecimento ilícito e desvio de dinheiro público.

Outro político brasileiro que se destacou com um discurso de “combate a corrupção foi Fernando Collor de Mello. Membro de uma tradicional família da oligarquia nordestina, Collor iniciou sua trajetória política no PDS – partido que dava sustentação ao regime militar. Depois foi eleito governador de Alagoas pelo PMDB. Tornou-se conhecido nacionalmente como o “caçador de marajás”, pelas medidas que adotou para combater privilégios de funcionários públicos.


Apoiado pela grande imprensa, elegeu-se presidente da república em 1989, primeira eleição direta depois da redemocratização do país. Resultado? Implantou o plano econômico mais polêmico e de pior resultado na história da economia brasileira, que gerou um enorme trauma na população em razão do chamado “confisco”, congelamento de ativos financeiros como medida radical para combater a inflação.

O plano Collor, como sabemos, foi um fracasso retumbante. E o “caçador de marajás” viu-se envolvido em um esquema de corrupção de proporções inéditas no país, denunciado pelo seu próprio irmão, Pedro Collor.

E assim o primeiro presidente eleito pelo povo depois do regime militar foi obrigado a renunciar.

Jânio e Collor são prova viva de que o discurso moralizante e supostamente de “combate à corrupção” tem na verdade outras motivações: trata-se na verdade de manter as velhas oligarquias no poder e de manter o status quo. Como disse o príncipe salinas no Leopardo de Luchino Visconti: “É preciso que tudo mude para que tudo continue como está”.

Participar de uma “marcha contra a corrupção” promovida por entidades ligadas ao que há de mais conservador e reacionário no país é uma contradição em termos. Pode falar em “lisura” e “honestidade” um defensor de notórios exploradores da credulidade pública? E o que dizer de políticos que se dizem “progressistas” mas escondem sua própria origem familiar, seus apoios e que rasgam seus compromissos, pois usam a eleição para um cargo regional como trampolim para voos mais altos? Depois é só dizer que assinaram um “papelzinho”...

Jânio Quadros, no seu discurso “contra a bandalheira”, foi simplesmente o principal adversário de Juscelino Kubitschek, o presidente que modernizou o país e o colocou no século XX. E Collor, que apelou até para ataques pessoais contra seu principal adversário (com a anuência do principal grupo de comunicação do país), hoje é um integrante da “base aliada” do governo federal.

A conclusão óbvia é que o discurso moralizante de certos grupos políticos serve apenas para ocultar seus reais objetivos: manter, a ferro e a fogo, a ordem estabelecida.

*Nelson José de Camergo é Graduado em Filosofia e Jornalista.

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