As manifestações culturais refletem o grau de civilização de um povo.
Alguns povos da Antiguidade são lembrados até hoje pelas contribuições que deram à arte e a cultura. Os egípcios, por exemplo, construíram as pirâmides, notáveis exemplos de obras de engenharia.
Os fenícios, notáveis navegadores e comerciantes, inventaram o alfabeto fonético, que é a base de todas as línguas ocidentais.
Na Grécia antiga, surgiram narrativas a Ilíada e a Odisseia, que estabeleceram os padrões do que viria a ser a literatura ocidental. Pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles, ao refletir de forma racional sobre as grandes questões da humanidade, criaram a Filosofia. Tales, Pitágoras, Arquimedes Eratóstenes e Euclides estabeleceram os princípios da Matemática, a “rainha das ciências”.
A civilização romana espalhou o legado grego para a maior parte do ocidente e estabeleceu os fundamentos do Direito, que até hoje norteiam as leis na maioria das nações.
Depois da longa noite da Idade Média, os valores culturais e artísticos greco-romanos inspiraram o renascimento, que revelou ao mundo gênios como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Caravagggio e muitos outros. Na literatura, surgiram Dante, Cervantes, Shakespeare.
A Ciência livrou-se dos dogmas e o método científico, aperfeiçoado por Descartes, Galileu e Newton, mudou a concepção de mundo e de Universo. O Iluminismo apareceu no século XVIII para derrubar o poder dos reis e estabelecer as bases das modernas democracias. Na música, Bach, Haydn, Mozart e Beethoven refletiram o espírito dessa época, de mudança da sociedade aristocrática para a burguesa, e foram os maiores nomes do que viria a ser a música clássica, ou música de invenção.
Com o romantismo, os artistas se libertaram definitivamente do patronato de mecenas nobres e criaram suas obras para expressar livremente seus sentimentos. Goethe inventou a moderna língua alemã e o romance ocidental. Na Ciência, Lavoisier libertou a Química da Alquimia, e as pesquisas de Jenner permitiram a produção de vacinas, que livraram a humanidade de doenças devastadoras.
Entre o final do século XIX e o início do século XX, as descobertas do eletromagnetismo questionaram as bases do mecanicismo newtoniano e levaram ao surgimento da Física moderna, construída com base em dois grandes pilares: relatividade e mecânica quântica, resultado do esforço e da genialidade de Einstein e Planck.
Nas duas primeiras décadas do século XX, o mundo passou por uma efervescência cultural nunca antes vista: movimentos como impressionismo, expressionismo, cubismo, dadaísmo, fauvismo, futurismo e todos os demais “ismos” sacudiram a cultura ocidental. A Ciência assombrava o mundo revelando a estrutura da matéria e permitindo a criação dos modernos meios de comunicação, como o rádio e a televisão. A revolução industrial deu origem as grandes cidades, à classe operária e nos colocou na era da tecnologia.
No século XX ocorreram duas grandes guerras que causaram milhões de mortes e nas quais foram cometidos os maiores crimes da história da humanidade. Mas o esforço de guerra também permitiu um notável desenvolvimento científico. Os antibióticos salvaram a vida de milhões de pessoas, que antes morriam de doenças hoje consideradas banais.
A partir dos anos 1950, a maioria das nações experimentou um progresso inédito nas artes, na ciência e na cultura.
Os objetos artísticos perderam sua “aura”, como diz Walter Benjamin, a partir do momento que passara a ser produzidos em grande quantidade pela indústria cultural. O cinema talvez seja o melhor exemplo de manifestação artística produzida primeiramente como objeto comercial, o que não impede, porém, que tenha qualidade e valor estético.
Num mundo cada vez mais interligado pelos meios de comunicação de massa, era natural que surgisse o desejo de maior liberdade de expressão. O rock, nos anos 1950, foi uma expressão desse desejo de liberdade.
Mas o rock e outras formas de música popular levaram a uma homogeneização cultural que pôs em perigo de extinção algumas manifestações culturais tradicionais. Como diz o maestro Julio Medaglia, o rock acabou se tornando “a aids da música”.
A revolta contra a escravidão, o racismo e a injustiça inspiraram os negros americanos a criarem o blues e o jazz, as mais autênticas manifestações musicais dos Estados Unidos. No Brasil, os ritmos africanos combinados com a música de salão trazida pelos europeus inspiraram o samba e o choro.
Mas os mesmos sentimentos de revolta e injustiça podem ser canalizados para manifestações sem qualquer valor artístico: é o caso de rap, hip-hop, funk e dance music, que não passam de detritos.
É o caso também da maioria das telenovelas, folhetins de ínfima qualidade, que exploram as vulgaridades e baixezas humanas na busca ávida pela audiência. E pensar que houve uma época em que os autores de folhetins eram Dickens, Balzac, Machado de Assis...
A década de 1960 foi outro período de grande efervescência cultural. Até mesmo o rock sofisticou-se e serviu como veículo para expressões libertárias e de contestação. A música de invenção, já sacudida pelo atonalismo e serialismo do início do século, radicalizou-se ainda mais, o que também teve um aspecto negativo, porque afastou (definitivamente?) o público.
Infelizmente o mundo hoje passa por um período de crise, e não apenas econômica. É uma crise de valores. A esmagadora maioria das crianças está na escola, mas a educação é de péssima qualidade. Quase todos têm acesso aos meios de comunicação, mas a qualidade dos produtos culturais é cada vez pior. A sociedade está embrutecida, como que hipnotizada pelos detritos culturais que lhes são apresentados pela mídia. Não há senso crítico, reflexão. As pessoas são cada vez mais mal-educadas, vulgares e ignorantes. Valores como respeito, solidariedade e altruísmo são desprezados em nome de um individualismo e narcisismo asquerosos.
Assim caminha a humanidade...
*Nelson José de Camargo é Jornalista e Bacharel em Filosofia
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