sexta-feira, outubro 19, 2012

A “estética do consolo” como atributo de poder

Por Hailton Santos

Os novos tempos de Brasil culminam em uma sociedade desprestigiada, sem valores éticos e/ou motivação para o trabalho justo.

Num período multipolar no qual não faz mais sentido falar em verdade absoluta, mas em verdades questionáveis, há quem ainda postule e defenda uma única verdade. Nesse sentido, se você não pensa comigo está contra mim, logo é meu inimigo. É este, destarte, o sentimento de uma parcela da esquerda brasileira.

A “quadrilha do mensalão”, como assim classificou Joaquim Barbosa (ministro relator do processo), representa o desdobramento de um projeto de manutenção de poder patrocinado por forças de esquerda que tentam imprimir (a qualquer custo) sua ideologia em detrimento das demais. A historiografia nos diz que o poder que se faz pela força não se sustenta. E nesse sentido, a esquerda retrógrada de hoje não aprendeu com os erros praticados pelos jacobinos da revolução francesa (1789). Sem experiências democráticas, os radicais insistiram em restaurar regimes ultrapassados como parâmetros de uma República popular. Para tanto, era preciso impor um regime autoritário que fizesse valer a ideologia dominante. Daí o fracasso dos revolucionários ao tentar impor a vontade de um grupo em detrimento da liberdade de um povo.

Nesse sentido, o partido que patrocinou o “mensalão” segue os mesmos preceitos. Reprime a liberdade de expressão do congresso pela compra de apoio e, concomitantemente, do cidadão comum, já que o parlamentar é o legítimo representante do povo.

Parafraseando um ex-presidente, nunca na história deste país um governo produziu tantos corruptos de forma sistemática e explícita. Tudo em nome de um projeto de poder que esmaga (política e moralmente) aquele que pensa de modo contrário.

Maquiavel já nos tinha avisado. Todavia, o autor de “O príncipe” viveu e escreveu num momento conturbado da antiga Itália, em um período de entreguerras, marcado por repressão explícita de toda ordem. Não parecem ser as condições do Brasil de nossos dias.

É certo que uma sociedade não será mais justa e equilibrada pelo uso da força. Não haverá aperfeiçoamento humano (a contento) enquanto insistirmos na velha e ultrapassada luta de classes. Em vez de separar os homens por ideologia ou por uma questão de pertença, ao contrário, dever-se-ia apostar na possibilidade de integração de todas as classes sociais e povos.

Aquele que se intitula de “esquerda” chama de racista ou coisa deste tipo o sujeito que, por uma questão de entendimento, tece críticas a certo governo cujo mandatário seja “pobre”, oriundo da classe operária, que seja negro, nordestino ou similar. Do mesmo modo, este mesmo grupo qualifica como “conservadora” aquela pessoa que se declara simpática a um governo cujo comandante seja um legítimo (no sentido de legal) herdeiro de posses, que seja branco ou pessoa bem-sucedida economicamente. No entanto, essa relação de causa-efeito é mera dedução ideológica. Nada garante (a priori) que o pobre, por ser ele “pobre”, necessariamente será um bom gestor. O mesmo vale para o rico, o negro, o operário, o nordestino, o deficiente físico, a mulher, o empresário etc. Não é a questão da pertença que garante a capacidade administrativa (a posteriori) da pessoa humana. De modo que o conceito de bom gestor pode ser aplicado a quaisquer destes citados grupos.

O discurso da esquerda é quase sempre conflitante. Seus adeptos dizem que quem vota no “rico” é conservador. Ao mesmo tempo se aliam a políticos da estirpe de Paulo Maluf, Renan Calheiros, Fernando Collor, José Sarney e se acham radicais.

A tudo isso chamo de “estética do consolo”, ou meio de ludibriar a massa com apelos populistas. Se, ao contrário, a maioria fosse um composto de “ricos”... É certo que o discurso da esquerda seria outro, pois a este grupo interessa apenas a manutenção do poder.

Assim como a religião precisa repensar seus dogmas se quiser abarcar uma gama maior de simpatizantes, a ideologia de esquerda precisa abarcar outros discursos se quiser respeito de fato. Acreditar que só há uma verdade (a deles) e extirpar a qualquer custo a verdade do outro não contribui para uma sociedade pacífica, mais justa, harmônica e humanitária.



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