Por Nelson José de Camargo*
Clique aqui para ouvir
Uma das maneiras de um grupo político se manter no poder é controlar os meios de comunicação. No passado, isso era feito principalmente de forma autoritária, com censura, perseguição e controle sobre a mídia.
Hoje em dia, vivemos em um país em que há liberdade de expressão e opinião. Mas nem sempre foi assim. Em períodos de arbítrio, a voz da imprensa livre foi muitas vezes calada. Alguns veículos da imprensa, porém, resistiram bravamente e desafiaram o autoritarismo.
Houve também as empresas de comunicação que preferiram contemporizar com o regime, seja por conveniência, seja por uma questão de sobrevivência.
Um caso particularmente delicado é o das emissoras de televisão. No Brasil, o serviço de televisão é uma concessão pública. Por isso, as emissoras têm menos liberdade para uma atuação realmente crítica e isenta em relação ao poder.
O exemplo mais emblemático é o da emissora líder de audiência no país. Com sede no Rio de Janeiro, a emissora prosperou no período mais negro da ditadura militar, sempre obtendo benesses do governo graças a sua posição de apoio, ainda que escamoteado, ao regime.
No auge de seu prestígio, a emissora carioca chegava a ter 80% da audiência, principalmente com suas novelas, folhetins medíocres destinados à massa ignara, ávida por emoções baratas. Com a abertura política e a redemocratização, teve que se adaptar aos novos tempos. Não era algo fácil para quem sempre viveu à sombra do poder, e não foi sem relutância que o grande grupo de comunicação rompeu seus vínculos com o regime agonizante, como bem se lembra quem acompanhou as movimentações populares pelas eleições diretas.
Mas a grande emissora continuou com liderança folgada, pois mantinha muito boas relações com figuras-chave do governo, especialmente com o ministro das comunicações, conhecido oligarca do Nordeste, único ministro do primeiro governo pós-ditadura que permaneceu no cargo durante os cinco anos do mandato, não por acaso.
Mas os anos 1990 trouxeram o avanço da tecnologia e a popularização da internet, e também os canais de TV a cabo. No início, essas novas mídias não afetaram o domínio absoluto global, embora os índices de audiência não fossem mais os mesmos.
As novas gerações, que cresceram com a presença dos canais a cabo e da internet, agora acessíveis para a “classe C”, não se deixam mais hipnotizar pelos telelixos da “Vênus platinada”. Agora, um folhetim que alcança 40 pontos de audiência é saudado pela mídia, principalmente pela revista que representa o pior do jornalismo marrom que existe neste país, como um “grande sucesso”, embora sua audiência seja menos da metade de folhetins similares de anos passados. Sinal dos tempos?
E a grande novidade: a emissora que sempre teve privilégios, até pela sua convivência muito íntima com o poder, ficou de fora da transmissão dos jogos olímpicos, algo impensável há duas ou três décadas!
Ocorre que todos os grandes impérios, sejam empresariais ou políticos, têm uma coisa em comum: chegará o dia em que cairão por terra.
Estamos assistindo ao início do fim do “monopólio global”. Quem viver verá.
*Nelson José de Camargo é Jornalista e Bacharel em Filosofia
Nenhum comentário:
Postar um comentário