sábado, abril 27, 2013

Por que Beethoven é melhor do que funk

Por Nelson José de Camargo*

Um respeitado sociólogo, irmão de um roqueiro bem conhecido no Brasil, declarou a um jornal de grande circulação que o funk carioca é arte de vanguarda. Pode ser desprezado pela elite intelectual, tal como foi no passado certo tipo de música negra norte-americana, que hoje é tida como de boa qualidade.

Afinal, o que é bom e ruim em arte? É possível chegar a um “juízo estético” para definir algo como “bom ou ruim” com base em critérios puramente racionais e objetivos?

Esta é uma tarefa hercúlea, na qual nem mesmo Kant foi bem-sucedido. Mas alguns conceitos formulados pelas Ciências Sociais no século XX podem nos ajudar a resolver esse dilema.

A chamada grande cultura seria apenas um padrão estabelecido por representantes brancos, europeus e homens da Europa. Portanto, é um conceito etnocêntrico, machista, misógino e preconceituoso.

Qual é a diferença entre “civilizado” e “selvagem”? Ora, o primeiro é tudo aquilo que se enquadra no paradigma eurocêntrico, colonialista adotado pelas classes dominantes. O segundo é quem não se submete a esse paradigma.

domingo, abril 14, 2013

A esperança do pobre é o ano que vem!

Por Hailton Santos

Quando se fala da seca que castiga a região Nordeste, as manchetes são praticamente iguais às do tempo do coronelismo da República Velha (1889-1930). A literatura oficial diz que esse perverso meio de explorar riquezas e pessoas já não mais existe. Será mesmo?

O grande problema do Nordeste brasileiro é má distribuição de águas na região, como já se sabe há muito tempo. O mais ingênuo dos homens sabe que é sim possível resolver tal problema. A questão é política, ou seja, de vontade política.

Podemos citar como exemplo as regiões áridas em Israel e em Las Vegas, nos Estados Unidos, que tinham problemas parecidos... Com a diferença que lá as chuvas são mais escassas e o clima desértico. Diferentes das condições do Nordeste brasileiro, aonde as chuvas chegam, ainda que de forma irregular.

Israel e Las Vegas são exemplos de políticas públicas bem-sucedidas no que tange à recursos hídricos. Como tais, são referências para o resto do mundo.

Por que então, desde a República Velha, não conseguimos avançar nessa questão?

Porque essencialmente o coronelismo não acabou. Na verdade, nunca deixou de existir. Hoje o coronelismo institucionalizou-se na figura do político. Se no passado o sertanejo era ludibriado com cestas básicas, hoje tem a bolsa-família, que tem o mesmo efeito.

sexta-feira, abril 12, 2013

Por que sou contra a redução da maioridade penal

* Por Nelson José de Camargo
Clique aqui para ouvir

Sempre que um crime brutal é cometido por um assim chamado “menor de idade”, reacende-se o debate sobre a redução da maioridade penal. Há projetos no Congresso para reduzir a maioridade penal para 16 anos. De modo geral, são propostas de políticos conservadores e adeptos de práticas clientelistas, ainda muito comuns no Brasil.

A adoção dessa medida seria absolutamente inócua para reduzir a violência, e apenas empurraria para o crime “menores de idade” ainda mais jovens, abaixo de 16 anos, por exemplo, que seriam os “novos menores”.

A solução para esse grave problema é muito mais radical. Começa pelo questionamento sobre o que é “maioridade”. O que é “maioridade penal”? Como definir alguém como “maior” ou “menor” de idade?

O primeiro registro formal de “maioridade” é oriundo do Direito Romano, que considerava “impúberes” homens com menos de 18 anos e mulheres com menos de 14 anos.

Na Idade média, boa parte dos conceitos do Direito Romano foi mantida. No período carolíngio, por exemplo, menores de 14 anos não podiam ser condenados à morte, ainda que estivessem sujeitos a receber castigos corporais.

sábado, março 30, 2013

Estado laico e feriados religiosos: contradição a ser superada?

Por Nelson José de Camargo*
Clique aqui para ouvir

O feriado da sexta-feira santa leva a uma reflexão filosófica: se o Brasil é um estado laico (isto é, há separação entre Estado e religião), por que a data é feriado nacional? Não deveria ser um dia normal de trabalho, como ocorre em muitos países?

Em primeiro lugar, para quem a data é feriado? Para os trabalhadores do mercado formal, que têm carteira assinada e demais direitos e benefícios trabalhistas, ou seja, pouco mais de 50% da população economicamente ativa. E mesmo entre os trabalhadores formais, há muitos que têm de trabalhar em feriados e fins de semana, em razão de demandas específicas suas funções.

E o que dizer dos trabalhadores “free-lancers”, ou que trabalham em regime de “home office”? Ou ainda dos autônomos? Ou dos trabalhadores de certos setores da indústria e do comércio, muitas vezes pessoas com pouca escolaridade, que são submetidas a longas jornadas de trabalho, baixa remuneração e, em alguns casos, a situações análogas à escravidão. Até mesmo grifes famosas que vendem roupas a preços elevados nos shopping centers recorrem a esse tipo de mão de obra, face perversa da precarização das relações de trabalho.

Feita a ressalva de que nem todos os trabalhadores podem desfrutar dos feriados religiosos, podemos voltar à indagação inicial: por que celebrá-los em um Estado laico?

Em um passado não tão distante, o Brasil foi um país de ampla maioria católica: até meados do século XX, mais de 90% dos brasileiros se declaravam adeptos dessa religião. Os cerca de 10% restantes dividiam-se entre evangélicos históricos, evangélicos pentecostais e neopentecostais, espíritas e adeptos de religiões afro-brasileiras. Os que se declaravam sem religião ou ateus representavam menos de 1% da população.

terça-feira, março 26, 2013

Para que serve a escola?

Por Nelson José de Camargo*
Clique aqui para ouvir

Lemos com frequência nos periódicos e demais meios de comunicação notícias pouco alentadoras sobre a educação brasileira. Nossos estudantes não são capazes de compreender textos simples, de escrever com um mínimo de coesão e coerência e não dominam nem mesmo as operações elementares da matemática.

Outro problema também levantado pelos meios de comunicação é que nossas escolas não preparam os estudantes para o mercado de trabalho. Mas seria esta a verdadeira missão da escola?

Cabe uma indagação filosófica: o que é preparar para o mercado de trabalho? É dar conhecimentos técnicos para que sejam preenchidas funções demandadas para o mercado? É preparar profissionais para atuar em áreas lucrativas, como comércio, finanças ou agronegócio? E o ensino médio, para que serve? Para preparar os estudantes para serem aprovados em processos seletivos do ensino superior?

Como serão esses profissionais? Profissionais “competitivos”, que não medirão esforços para ascender profissionalmente. Pessoas que pensam em acumular bens, pois na sociedade atual não importa o que você é, mas o que você tem. Ser bem-sucedido na carreira, ou seja, ter carro, casa própria, eletrodomésticos, consumir. Foi este o “cidadão” que nossas escolas formaram.

No mundo que valoriza o “ter”, e não o “ser”, consumir é a verdadeira cidadania. É o “consumidor” que tem voz na Ágora pós-moderna e globalizada. Isso enquanto for considerado útil e produtivo de acordo com os padrões globalizados. Depois, este “cidadão” será substituído por alguém mais jovem, mais proativo, mais “moderno”.

E assim caminha a humanidade, movida por consumismo, narcisismo, egoísmo e individualismo.

Se um mundo melhor fosse possível, a verdadeira função da escola não seria apenas formar “profissionais para o mercado”, mas formar pessoas. Isso só se faz com cultura, humanismo, com a valorização do que é realmente importante: Ensinar a grande literatura, a ciência, a filosofia, a história, as matemáticas. Fazer com que as novas gerações preservem a herança positiva da humanidade, em vez de perpetuar uma cultura egoísta, narcisista e vazia.

*Nelson José de Camargo é Bacharel em Jornalismo e Filosofia