sábado, setembro 03, 2011

Para que serve a política?

Por Nelson José de Camargo*

Numerosas denúncias de corrupção têm sido veiculadas por parte da mídia, a maioria delas referente ao atual governo federal. “A corrupção no Brasil atingiu níveis alarmantes e inimagináveis”, é a constatação de alguns setores da sociedade. Não é difícil prever que as próximas campanhas eleitorais serão marcadas por um “combate a tudo o que aí está”.

Esse discurso não é novidade na política brasileira. Foi adotado pela oposição a Vargas nos anos 50; e foi o mote da campanha de Jânio Quadros em 1960, quando a “vassoura janista” iria varrer a “corrupção que grassava no país.”

Em tempos mais recentes, o discurso de combate aos privilégios de funcionários públicos que receberiam benesses do Estado, os assim chamados “marajás”, norteou a campanha de Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito depois do período militar e que foi, ironicamente, apeado do poder em razão de denúncias de que comandada um grande esquema de corrupção.

domingo, julho 17, 2011

A filosofia de Nietzsche e o nazismo

Por Nelson José de Camargo*

Nietzsche é certamente o filósofo mais popular e mais lido do mundo; seus livros são vendidos em bancas de jornal, em máquinas automáticas e até mesmo adaptados para histórias em quadrinhos; o Zaratustra inspirou o célebre poema sinfônico de Richard Strauss, trilha sonora do filme 2001, de Stanley Kubrick.

Mas a influência da filosofia de Nietzsche (e da filosofia de modo geral) nem sempre (ou quase nunca) foi positiva. O pensamento nietzschiano chegou a influenciar o regime político mais nefasto e abominável que já existiu no planeta: o nazismo.

Adolf Hitler era leitor de Nietzsche: na biblioteca particular do ditador, havia vários livros do pensador alemão, com muitas anotações nas margens das páginas. A mais frequente era “nicht verstanden” (não entendi).

Hitler era um homem de pouco estudo e pouca cultura, que tentou ser pintor acadêmico antes de começar sua carreira política. Seu livro Mein Kampf (Minha luta), é escrito em um alemão tosco, que demonstra claramente a deficiente formação cultural do líder nazista.

No entanto, Martin Heidegger, um dos grandes filósofos do século XX, aderiu publicamente ao nazismo e chegou a fazer discursos elogiando esse regime.

O “protonazismo” de Nietzsche é uma questão altamente controversa. Em Além do bem e do mal, o filósofo escreve que “os judeus são a raça mais autêntica e vigorosa da Europa”, e no mesmo livro afirma que eles são um povo “nascido para a escravidão [...] e com ele todo o mundo antigo, o ‘povo eleito entre as nações’ [...] os judeus realizaram esse milagre da inversão de valores, graças ao qual a vida na terra adquiriu um novo e perigoso atrativo”.

É fato amplamente conhecido que Nietzsche era crítico feroz da democracia representativa ocidental, que para ele era apenas reflexo da “moral de animal de rebanho”[1].

O conceito do super-homem nietzschiano também deu margem a atitudes racistas e eugenistas. Frases como “Os fracos e os fracassados devem desaparecer: primeira frase de nosso amor à humanidade”, ou “O que é mais prejudicial do que qualquer vício? A compaixão com todos os fracos e fracassados – o cristianismo”[2] podem facilmente servir de “combustível” para ideologias totalitárias.

domingo, junho 19, 2011

O ser humano é racional?

Por Nelson José de Camargo*

O ser humano chamou a si mesmo de “homo sapiens”, homem sábio. O único capaz de raciocinar, “feito à imagem e semelhança do criador”, e por isso mesmo com direito de impor seu domínio sobre a natureza e sobre as demais criaturas.

Comportamentos ditos racionais podem ter outros fundamentos. Vejamos alguns exemplos.

Em uma escolha entre agir e não fazer nada, um agente racional não irá agir se os custos esperados para a ação superarem os respectivos benefícios. Este princípio, porém, é violado nas eleições: uma vez que nenhuma eleição em nível nacional jamais foi decidida por um único voto, o voto de um indivíduo não faz qualquer diferença no resultado e ele pode enfrentar problemas consideráveis para votar. No entanto, as pessoas votam em grande número.

Pode-se alegar que esse exemplo é mais adequado para os países em que o voto é facultativo; no Brasil é obrigatório, assim como em pouco mais de 20 países, 11 deles nas Américas do Sul e Central. Ser obrigado a votar não é, por sua vez, um procedimento totalmente contrário a razão? E se nenhum dos candidatos nos agradar? E se formos contra o modelo de democracia representativa ocidental?

sábado, junho 18, 2011

O Mundo

Por Ana Lucia Sorrentino*
 
Ainda menina mimada, pernas finas e um leve e ingênuo corpo de pura credulidade, vi o Mundo sentado num canto, como que me esperando, receptivo, e cedi à tentação: sentei no colo do Mundo. Embora agitada, e mal podendo me conter ali, tanta coisa a se viver, o colo que o Mundo me oferecia era tão confortável e caloroso, e sua aceitação de mim tão grande, que rapidamente me habituei a recorrer a seu aconchego sempre que cansada da agitação da Vida.

Vez ou outra me esquecia de tudo o que não fosse Mundo. Recostava a cabeça em seu peito, sentia suas mãos firmes me segurando e chegava mesmo a cochilar, em total abandono.
Com o passar dos anos, a certeza de que o Mundo estaria ali, me esperando, sempre que o procurasse, se consolidou e passei a ter nele meu porto seguro.

Certa vez, mais encorpada, pés já tocando o chão, senti que talvez pesasse e causasse algum cansaço no mundo. Percebi uma tentativa dele em me acomodar melhor, como fora tão natural até então. Disfarçadamente, voltei-lhe a minha atenção.

sábado, junho 04, 2011

Um outro mundo tem que ser possível

Por Helena Novais*

Na semana passada estive com a cabeça bem distante do que ocorria na faculdade. Quase não apareci por lá. Em final de semestre isso não é nada bom. Mas tive um motivo: o desenvolvimento de um trabalho de pesquisa sobre marketing social que eu deveria finalizar naqueles dias. Além da fundamentação teórica, fiz estudo de caso. Como tive liberdade para escolher a empresa a ser estudada, escolhi uma multinacional que me interessa em especial. Esmiucei todo o histórico da empresa, sua linha de produtos e suas ações de marketing de cima abaixo e vice-versa. Foi uma boa oportunidade para desenvolver ainda mais o tema que apresentei no simpósio na USJT no ano passado. Agora além da perspectiva filosófica tenho um estudo de caso. Assim, se perco não assistindo as aulas, acabo ganhando de outro lado.

E vamos admitir: é inegável o poder de realização das grandes corporações! Uma companhia que é considerada a maior do mundo em seu segmento pode quase tudo. E sim, a atuação social de grande empresas, suas campanhas de “responsabilidade social” e “sustentabilidade” são boas. Muito boas! Desde que analisadas em si mesmas, com base nas informações emitidas pelas próprias empresas, não há de que falar mal. E convenhamos, não poderia ser de outra forma, já que a imagem institucional dessas empresas é gerida por profissionais de formação acadêmica e experiência prática comprovada... Mas eles às vezes se denunciam...