Por André Ricardo Pontes*
Você come carne ou ovos? Se sim, sabe qual a origem deste alimento? O animal que você estará saboreando no almoço teve uma vida o mais próximo do natural possível? Ou viveu apenas 6 meses, confinado, torturado, com uma lâmpada na cara que fica acesa por 6 horas seguidas, depois apagada 6 horas seguidas, simulando um dia e uma noite na metade do tempo, de modo a forçar o animal a pôr ovos na metade do tempo?
No mundo todo, principalmente em países com pouco espaço, há pecuária realizada por meio do confinamento. Os bois e vacas são mantidos em pequenos currais, onde não podem andar, correr, manter laços com outros de sua espécie, comer pastagens naturais. São forçados a comer a mesma ração no tempo arbitrariamente determinado. São tratados como máquinas. Imaginem uma vida assim. Pensem nos escravos. Um absurdo que isso tenha existido no Brasil, não? Pois então, a vida deles era melhor do que a vida a que são submetidos muitos animais. Mas, no caso do Brasil, isso praticamente não existe. O gado bovino é criado quase exclusivamente de forma extensiva, ou seja, os animais são soltos, comem pastagem. Por isso, quero me dedicar mais às aves, que, no caso do Brasil, são os animais que sofrem mais (e, numa escala de sofrimento, os porcos vêm em segundo lugar).
Certamente todos vocês já viram um caminhão levando galinhas, não? Todas aquelas gaiolinhas amontoadas, com tão pouco espaço que as aves não conseguem sequer abrir as asas. Alguns animais ficam na parte de baixo, no fundo. Imaginem respirar naquele canto onde nem a luz do dia alcança. Agora imaginem que aquilo É A VIDA daqueles animais. Elas sairão do caminhão e continuarão naquela mesma gaiola o resto de suas vidas, sem poder ciscar, passear, esticar as asas. Alguns produtores arrancam o bico das aves, afinal, elas são apenas máquinas, certo?, onde se coloca a ração em um lado, e se recolhe o ovo no outro. Como já mencionei, há lugares em que, para se obter mais ovos, e, sabendo-se que o ciclo de produção de ovos das galinhas é baseado em dia/noite, enfia-se uma lâmpada na cara das galinhas, para que o ciclo dia/noite ocorra na metade do tempo. Claro que há “pequenos” efeitos colaterais: uma galinha criada solta vive até 6 anos. Uma galinha nessas condições vive 6 meses. Mas tudo bem, não é? A carne dela também será aproveitada. Ou será vendida, ou será transformada em ração para outras galinhas.
Bem, há coisas muito, MUITO piores do que eu descrevi aqui (como pintinhos sendo jogados vivos em máquinas de moer), mas aí já estaria beirando o sensacionalismo, já que, no Brasil, essas coisas piores seriam exceções. A regra, entretanto, é aquilo que descrevi: confinamento.
Pessoal, isso não vai acabar enquanto não houver um sistema alternativo. As pessoas não deixarão de consumir ovos ou carne, pois essas torturas acontecem longe de nossas vistas da cidade grande. A solução é asfixiar financeiramente essas empresas não-éticas. Deixar de comprar de quem produz às custas de sofrimento alheio! E como fazer isso? Como, no supermercado, saber qual ovo veio de uma galinha torturada e qual veio de uma galinha que viveu (e talvez ainda viva, já que uma galinha vive bastante tempo) livre? Este é o objetivo deste e-mail.
Existem certificadoras, empresas que verificam se o processo de produção é feito respeitando o animal e seu bem-estar, e dão selos a empresas que atendem estes e outros requisitos.
Neste link você pode ver sobre a certificação. Neste, dá pra ver como saber, pelos rótulos, qual empresa utiliza um sistema de produção ético (dêem preferência para alimentos orgânicos certificados!). Aqui, você confere dicas para ajudar a acabar com o confinamento de animais.
Neste site, se você se interessar, você pode ver vários outros tipos de absurdos que são cometidos com os animais. E aqui, você tem acesso a várias certificadoras, e você pode ver como funciona esse processo, que é regulado pelo governo.
Gente, eu não estou falando pra paramos de comer feijoada, ovo, churrasco, etc, etc. Isso é muito bom, e se, para termos essas coisas a única opção for torturar os animais, eu estou certo que a tortura jamais acabaria. Estou apenas dizendo o seguinte: há opção! Dá pra continuarmos comendo essas coisas, mas oferecendo uma vida plena, sem torturas, a esses animais.
Só pensem sobre isso. Talvez um produto orgânico custe 2 reais a mais, já que, de fato, custa um pouco mais não tratar os animais como máquinas (mas esse valor tende a diminuir quanto mais houver produção deste tipo de alimento). Mas será que não vale a pena pagar 2 reais a mais sabendo que o animal do qual você se alimentará não foi torturado? Eu acho que vale.
*André Ricardo Pontes é graduado em Filosofia
Um comentário:
Prezado,
Práticas que representam o sofrimento desnecessário de animais podem e devem ser combatidas. Mas não podemos esquecer que um ser vivo se alimenta de outros seres vivos, e as plantas também são seres vivos, e fundamentais para a existência das demais formas de vida, poir produzem o oxigênio que respiramos. Mas não temos nenhum pudor em comê-las porque não gritam, não sentem dor, não se mexem. Recomendo a leitura de um artigo do biólogo Fernando Reinach publicado no Estado de S. Paulo, no qual ele descreve a liberação de certas substâncias químicas por plantas que são devoradas por seres herbívoros. Guardadas as devidas proporções, é uma espécie de "sensação".
Concluindo: a vida só existe porque existe a morte, num ciclo infinito, que sempre se renova, algo como o "ewige Wiederkehr" nietzschiano.
Postar um comentário