domingo, fevereiro 26, 2012

Ética ou moral na política?

Por Nelson José de Camargo*


“A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nos ensina como sermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade.”
                                                                                                    Kant


O Brasil é hoje uma potência emergente. É a sexta maior economia do mundo, e pode crescer ainda mais. Temos democracia plena, mas antigos problemas persistem, como a violência e a corrupção.

Alguns políticos se apresentaram como “guardiões da moralidade pública” e pautaram sua plataforma política na “ética, na moralidade e na austeridade”. Quase sempre, porém, os resultados obtidos por partidários de tais slogans foram desastrosos. Basta examinar a trajetória do exótico presidente que chegou ao poder para “varrer a corrupção e a bandalheira”, ou do infame “caçador de marajás”.

Esse discurso moralista, porém, sempre encontra repercussão, especialmente na classe média urbana dos grandes centros. Mirando esse eleitorado, políticos que se apresentam como representantes da “social-democracia brasileira” são na verdade representantes das elites conservadoras.

É exemplar o caso de um líder político que começou sua carreira apoiado por uma organização católica, mas que sempre se apresentou como “de esquerda”; escamoteando suas reais convicções, conseguiu galgar postos importantes, embora tenha fracassado em duas tentativas de chegar ao executivo federal.

A postura desse tipo de político nos leva a questionar o que é realmente ser ético; seria talvez aplicar verdadeiramente o que Kant propõe como o imperativo categórico, isto é, agir como se nossas máximas pudessem ter validade universal.

sábado, fevereiro 18, 2012

O poder das oligarquias

“O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente.”
 

                                                                         Lord Action



Por Nelson José de Camargo*

Um fato que podemos constatar todos os dias, com a leitura nos jornais, é o poder das oligarquias. Grupos oligárquicos ainda dominam extensas regiões de nosso país, especialmente no Nordeste e em áreas rurais. É o resultado natural do processo de colonização do Brasil, que deixou marcas indeléveis.

O fato de o governo aliar-se a oligarcas para governar é um reflexo do modelo político em vigor, o assim chamado presidencialismo de coalizão, no qual a governabilidade é conquistada com a distribuição de cargos e com o aparelhamento do Estado.

Tem sido assim desde a promulgação da Constituição de 1988, que tem forte viés parlamentarista, embora o Brasil seja um país presidencialista, conforme decisão popular em plebiscito.

É evidente que é preciso romper com este modelo de perpetuação de oligarquias reacionárias no poder. Mas esta é uma tarefa bem difícil. Os partidos políticos brasileiros são siglas artificiais, que não representam os segmentos da sociedade. Seu objetivo é apenas conquistar o poder e perpetuar-se nele.

Fala-se em reforma política, o que incluiria medidas como o fim do voto obrigatório, o voto distrital, a lista partidária, o financiamento público de campanhas políticas. Mas nada disso terá qualquer efeito se não houver consciência por parte da população.

sábado, fevereiro 04, 2012

Condição humana e liberdade estética

À LUZ DA ESTÉTICA SCHILLERIANA

Por Hailton Santos

No século XVIII, considerado o século das luzes, surgem os conceitos de “progresso” e “desenvolvimento”, propiciando o início de um novo tempo. Com efeito, é dada a largada para o desenvolvimento “a qualquer custo”.[1] Neste contexto é relevante assinalar que a temática da Bildung (formação cultural) é tema recorrente nas obras de cunho estético/filosófico do período, caracterizando, deste modo, um foco de resistência ao progresso desenfreado. A este complexo temático denominou-se Aufklärung (Iluminismo ou Esclarecimento).

Com o advento da industrialização as pessoas passaram a competir mais e mais entre si. “A crença no progresso expôs o homem a todas as regressões. Seu individualismo estimulou o advento do sujeito egoísta, preocupado unicamente com o ganho e a acumulação”.[2] Nos dias de hoje vale a satisfação pessoal em detrimento ao coletivo. Com efeito, esse sentimento que já é parte da cultura faz do “homem lobo do homem”.[3] Nessa estética do eu, o homem perde a noção de “ser social”, de “ser humano” e, sem referências conceituais, o homem da modernidade é refém de si mesmo, sobretudo porque está a serviço de uma engrenagem que ele mesmo faz girar.

Faz-se necessário, portanto, uma pedagogia da razão que assegure o equilíbrio entre intelecto refinado (razão sem sentimento) e homem bruto (sentimento sem razão). O primeiro refém de seu ego, o segundo de seus impulsos primários. Isto implica, todavia, uma reformulação da civilização. A estética como categoria existencial e princípio de realidade.

Eis aqui o problema de nosso ensaio, se o conhecimento humano é construído sobre juízos sintéticos a posteriori, como quer o homem contemporâneo, seria possível estabelecer princípios universais e necessários – a priori – para juízos estéticos? É possível juízo de gosto universal?

À luz das teorias de Kant, no texto A educação estética do homem (1783), Schiller apresenta a dimensão estética como libertação da sensualidade frente à dominação repressiva da razão. O sentimento de belo como fundamento à vida. A estética como princípios válidos para os dois polos da existência humana, a saber, sensibilidade e moralidade, ou sentimento e razão. É esse, portanto, o sentido prático da estética, e é por meio dessa temática que seguirá toda fundamentação deste ensaio.